Homem é libertado após ser preso injustamente por erro de digitação
Jabson Andrade da Silva passou 8 dias preso por engano após ser confundido com um estuprador de nome semelhante
Simone Queiroz
Majô Gondim
Claudia Teixeira
Um reencontro marcado por lágrimas de alegria, mas que não escondem o gosto amargo da injustiça. É o abraço emocionado que Jabson dá na esposa e na filha. "É difícil, é difícil", diz Jabson Andrade da Silva, chorando.
"Lá dentro é difícil, é um submundo. Aí você vira zumbi. Qualquer pessoa pode te agredir. É um pessoal violento. Falta remédio. Isso aí explode do nada", acrescenta, descrevendo a experiência dentro da prisão.
Jabson, como o SBT News revelou, foi acusado de estupro de vulnerável, crime acontecido entre 2008 e 2015, na Bahia. No entanto, nesse mesmo período, ele trabalhava como zelador na capital paulista, onde vive há mais de 30 anos.
"Foi um alívio. Finalmente estou vendo ele novamente, porque, na verdade, eu não tinha nem esperança", conta Valdina da Silva Goes, esposa de Jabson.
Ela está certa. O verdadeiro criminoso é Jabison Andrade da Silva. Mas na delegacia de Ubatã, no sul da Bahia, onde o boletim de ocorrência foi registrado, o nome foi inserido no sistema sem a letra “i”. "Por causa de uma letra, ele foi confundido com um estuprador. É muita injustiça", desabafa a esposa.
Enquanto o verdadeiro autor segue livre, Jabson foi preso e tentou, em vão, explicar aos policiais. "A sua palavra de nada vale", ouviu de autoridades.
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O erro grave poderia ter sido corrigido, se alguém tivesse comparado informações básicas, como lembra o advogado Carlos Magno Michaelis. "A conferência com o nome da genitora, o nome completo do próprio averiguado, data de nascimento."
Após a prisão, a foto de Jabson foi mostrada à mãe da vítima, com quem o verdadeiro criminoso era casado. A resposta dela foi clara: "Não é ele".
Indenização
Agora, a família pediu ao advogado — que assumiu a defesa gratuitamente — para entrar com uma ação indenizatória contra o Estado da Bahia.
A injustiça que fizeram com Jabson não se resume às oito noites em uma cela, torturado pelo sentimento de impotência diante de uma acusação falsa.
"É um crime de violência sexual. Tanto é que o sistema prisional tem o que chamamos de seguro. E ele estava no seguro. Porque se ele fosse colocado no convívio, ele corria risco real de morte", explica o advogado.
Jabson, a esposa e a filha deixaram o Centro de Detenção Provisória, na zona oeste de São Paulo, abraçados. Iam de carona para a casa, localizado num bairro pobre da zona sul. "Não tem coisa mais preciosa do que a liberdade. Não tem", afirma.