Falha humana é a principal causa da fuga dos dois detentos de Mossoró, avalia criminologista
Quebra do protocolo de vistorias diárias nas celas pode ter facilitado a fuga. Confira entrevista do advogado Olavo Hamilton
Iuri Guerrero
Após 14 dias da inédita fuga de dois detentos do presídio federal de segurança máxima de Mossoró (RN), quase 600 agentes continuam nas buscas dos membros do Comando Vermelho (CV) que escaparam da unidade de segurança máxima. Em entrevista ao Poder Expresso, o advogado criminalista Olavo Hamilton explicou que a quebra do protocolo das vistorias diárias nas celas dos detentos, procedimento padrão em todos os presídios, não foi devidamente cumprido e isso pode ser a parte mais sólida das investigações.
"Fica muito claro hoje que o principal problema que facilitou a fuga dessas duas pessoas foi a questão humana. Não é preciso estar dentro do sistema para saber que há um protocolo que todas as celas têm que ser visitadas todos os dias pelos agentes penitenciários. Para ter acesso à luminária e, principalmente, para cavar um buraco nesses espaço, essas duas pessoas gastaram um bom tempo. Não se imagina que eles tenham feito isso em um mês ou dois meses. Nesse tempo inteiro, bastava que se tivesse tido acesso uma única vez a essa cela para ter visto o estado das coisas e assim evitar a fuga”, afirmou o advogado criminalista Olavo Hamilton.
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Ainda de acordo com o especialista, esta fuga evidencia fragilidades que poderiam ter sido evitadas com o aprimoramento das rotinas nos presídios. “Em última análise, a responsabilidade é do governo Federal. Mas é óbvio que não podemos falar de culpa e responsabilidade do atual ministro ou dos anteriores. E nem dos secretário da pasta que lida com o sistema prisional. Muito provavelmente essas celas não estavam sendo vistoriadas todos os dias. O ministro da Justiça não tem como saber disso. É preciso se apurar se havia uma justificativa legal para a quebra deste protocolo ou alguma dificuldade para que isso não estivesse sendo feito. As punições virão tanto na esfera administrativa quanto na criminal”, declarou Olavo Hamilton.
“Tenho certeza que os resultados das buscas e investigações serão os mais corretos possíveis para que isso não ocorra novamente. Será algo positivo para se extrair desse evento e melhorar as condições dos cinco presídios federais. O que aconteceu servirá de exemplo. Tanto na eficiência do protocolo quanto em relação às falhas estruturais”, finalizou o advogado criminalista Olavo Hamilton.