Dono de um império e apaixonado por esportes: a trajetória de Abílio Diniz

Abílio Diniz construiu um império no setor varejista e se tornou um dos empresários mais influentes do país. Ele teve uma vida intensa, enfrentou crises econômicas, a perda de um filho e até um sequestro, mas nunca deixou de lado os esportes, sua grande paixão.

Abílio Diniz gostava de competir, mas não de perder. Receita de sucesso no esporte e nos negócios. As imagens mais recentes dele, em Aspen, nos Estados Unidos, mostram um homem de 87 anos realizado.

O paulistano do bairro do Paraíso transformou o Pão de Açúcar, varejista fundada pelo pai, numa das maiores empresas do país. O negócio começou com uma doceira e chegou a centenas de lojas.

Nos anos 90, após desavenças com os irmãos, o executivo abriu o capital do grupo, iniciando uma nova fase de crescimento. Adquiriu redes como Mambo, Pamplona, Barateiro e Assaí, e manteve o controle das Casas Bahia e do Ponto Frio.

Em 2013, perdeu uma disputa judicial com o sócio, o grupo francês Casino, e, após 54 anos, deixou o comando do Pão de Açúcar. Inquieto, abriu um grupo de investimentos e virou acionista do Carrefour Brasil, antigo concorrente.

"O Abílio foi o maior empresário supermercadista do Brasil, mas ele transcendeu o mundo do varejo, o mundo empresarial. Nunca mais teremos, na minha visão, uma pessoa com a grandeza e a capacidade que o Abílio teve", afirma João Galassi, presidente da Associação Brasileira de Supermercados.

Influente nos rumos da política do país, o empresário viveu uma experiência dramática em 1980, foi sequestrado por um grupo guerrilheiro que pediu 30 milhões de dólares de resgate. Após quase uma semana, foi resgatado pela polícia no dia das eleições presidenciais. 10 sequestradores foram presos, nove deles, estrangeiros.

Abílio comentou o episódio numa entrevista ao Flow Podcast, em 2021: "foi traumático. A gente na vida cresce mais no sofrimento e na tristeza do que na alegria. Quando você é confrontado com momentos duros na vida, você cresce ou você perece. Ou você se afunda ou você cresce. Tem que sair maior. Eu acho que saí maior".

Ainda na infância começou outra obsessão de Abílio Diniz: o esporte. Para combater o bullying que sofria na escola por estar acima do peso, incentivado pelo pai, praticou judô, capoeira, boxe e karatê.

Durante anos correu e fez musculação no clube Pinheiros. Criou a maratona Pão de Açúcar de revezamento, que incentivou milhares de pessoas a deixarem de lado o sedentarismo. Mais recentemente, com quase 90 anos, jogava squash, pedalava e nadava.

Disciplinado, se recuperava antes do prazo estipulado pelos médicos. U mês após uma cirurgia num joelho, voltou à quadra de squash, um esporte de alto impacto.

No polo, chegou a ser profissional, assim como no automobilismo. Ao lado de um dos irmãos, Alcides, venceu a tradicional prova das 100 Milhas de Interlagos em 1970.

Transmitiu os hábitos aos filhos também esportistas. Pedro Paulo foi piloto de Fórmula 1. João Paulo foi triatleta. A morte dele, em 2022, foi mais um baque para o pai.

A cabeça e o corpo, sempre preparados para vencer, sentiram a perda. O próprio Abílio admitiu que nunca mais foi o mesmo. Agora, após um mês de internação, o coração do empresário-atleta parou de bater.

"Um homem que sempre soube compartilhar as coisas, sempre juntou tudo mundo, sempre quis ouvir, sempre quis montar grupos, sempre quis manter a família próxima. Viveu a vida de maneira intensa e soube ser um curador ao longo da vida do que podia fazer bem pra ele e a todos em sua volta", afirma o apresentador Luciano Huck.