Desabamento no Rio de Janeiro acende alerta para abandono de imóveis históricos e risco de novas tragédias
Nesta semana, uma pessoa morreu na queda de mais um casarão abandonado. Capital fluminense acumula construções históricas mal preservadas sob risco de ruir
SBT News
Construído no início do século XIX, o prédio do Museu da Casa da Moeda é um exemplo de como construções históricas bem preservadas podem valorizar o centro do Rio de Janeiro. No entanto, a apenas 20 metros dali, o prédio que deveria abrigar o Centro de Arqueologia do IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) está em ruínas.
O órgão federal, responsável pela preservação do patrimônio histórico brasileiro, não realizou a restauração necessária na construção. Em nota, o IPHAN informou que está em negociação com o Ministério do Planejamento para iniciar o restauro.
+ Além de petição racista, advogado enviou mais de 20 e-mails ofendendo juíza no Rio de Janeiro
Nas proximidades, há outros sobrados e prédios abandonados, alguns com vegetação crescendo entre as paredes. No mesmo quarteirão, a equipe de reportagem do SBT encontrou um cenário preocupante: três casarões desmoronaram há mais de seis meses, segundo moradores, e os escombros ainda não foram retirados. Há estruturas no local que correm risco iminente de desabamento.
Marconi Andrade, fundador da ONG "SOS Patrimônio", alerta para a dificuldade de vender imóveis históricos devido ao alto custo de restauração. "As pessoas abandonam, outras invadem. É um caminho para uma tragédia", afirmou.
O entorno do edifício que desabou parcialmente na quinta-feira (20) segue interditado. Marcus Vinícius de Paula Nascimento, de 38 anos, estava dentro de um carro atingido pelos escombros e morreu na hora. O corpo foi sepultado em Niterói.
+ Empresas terão que monitorar saúde mental dos funcionários a partir de maio
Segundo a prefeitura, o dono do casarão que veio abaixo vinha sendo notificado sobre o mau estado do imóvel desde 2014. A Polícia Civil investiga o caso, e o proprietário pode responder por homicídio. Questionada sobre o tempo necessário para desapropriar imóveis abandonados, a prefeitura do Rio de Janeiro informou ao SBT que "está com muitas demandas e ainda precisa apurar o caso".
O especialista em gerenciamento de risco Gerardo Portela ressalta que apenas notificar não é suficiente. "Tem que dar o exemplo. Muitos desses prédios pertencem à prefeitura, ao estado ou ao governo federal", disse.
Casos como esse não são isolados. Há menos de duas semanas, outro casarão na região central da cidade desabou, por sorte sem vítimas. Em novembro, a engenheira Virgínia Gazola, de 29 anos, morreu ao cair da sacada de um sobrado na Lapa, após a grade ceder.
"A cidade está perdendo seu patrimônio histórico, e não há políticas eficazes de preservação", lamentou Marconi Andrade. Enquanto isso, vidas e a memória do Rio continuam em risco.