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“As Sociedades Anônimas do Futebol são o caminho natural para todos os times do Brasil”, diz precursor da SAF no país

Sérgio Santos Rodrigues, ex-presidente do Cruzeiro, contou bastidores da negociação do time com Ronaldo em 2021, criando a primeira SAF do país, e diz acreditar que times como Flamengo e Palmeiras podem adotar o modelo em breve

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Bola de futebol em campo
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Ex-presidente do Cruzeiro, Sérgio Santos Rodrigues, que coordenou a transformação do clube mineiro na primeira empresa de futebol do país, lançou nesta semana o livro "Futebol S.A".

Em entrevista ao SBT News e ao SBT Sports Brasília, Rodrigues afirmou que as Sociedades Anônimas de Futebol (SAFs) são "o caminho natural para todos os times do país". Para ele, esse modelo de gestão abriu as portas para os clubes brasileiros tornarem-se organizações empresariais.

No Brasil, seis times já adotaram esse modelo. Primeiro, o Cruzeiro. Depois, Botafogo, Vasco, América-MG, Coritiba e Bahia. Clubes que estavam afundados em dívidas bilionárias. Sérgio acredita que nos próximos anos equipes mais organizadas financeiramente poderão seguir este caminho “para atrair ainda mais recursos”.

“Esta primeira geração foi dos clubes mais endividados e necessitados, mas acho que, mais para frente, será um movimento natural que os outros vão seguir, exatamente para conseguir captar recursos no mercado de forma mais ágil e mais rápida. E, assim, poder, obviamente, investir mais no futebol”, destaca.

Na Inglaterra esse modelo de gestão começou em 1983. No Brasil, apenas em 2021. Há dois anos, o Cruzeiro foi o primeiro clube de futebol a virar uma empresa. Isso só foi possível devido a uma mudança na legislação, com a criação da LEI Nº 14.193, DE 6 DE AGOSTO DE 2021, conhecida como a Lei da SAF, que incentiva os times a deixarem de ser organizações sem fins lucrativos para serem clubes-empresas.

A lei foi aprovada em tempo recorde, em meio à pandemia e com votação no sistema ainda remoto. Sérgio Santos Rodrigues foi quem intermediou o processo. Depois, o então presidente do Cruzeiro tinha o caminho livre para executar a venda ao grupo de Ronaldo.

“A SAF não é só um modelo empresarial, é um choque de cultura. Um modelo econômico completamente diferente, porque traz um caminho de profissionalização e da transição do esporte 'paixão' para o esporte 'negócio', algo que, no exterior, todo mundo já vive há muito tempo, não só no futebol, como em outros esportes”, explica Rodrigues.

Ele lembra que a situação era crítica quando assumiu o Cruzeiro, em 2020. “Quando a gente chegou no clube, no meio da pandemia, em junho de 2020, a gente já chegou à conclusão de que a dívida do clube era impagável por caminhos normais, ou seja, através de patrocínio, venda de jogador, etc. E o clube estava na série B à época. A única forma era conseguir viabilizar uma legislação em que você consegue vender o clube para alguém que vai aportar o dinheiro e arcar com as dívidas altas de curto prazo, para depois trabalhar e conseguir receber dinheiro lá na frente como modelo empresarial. Então, para nós, foi realmente um estado de necessidade”, disse.

Diferentemente de outros times, o Cruzeiro tem à frente da sua empresa um ídolo e ex-jogador revelado no clube. Sérgio conta que teve que conquistar o fenômeno aos poucos.

“Quanto ao Ronaldo, fiz uma visita de cortesia para ele à época porque eu achava que era um absurdo um cara igual o Ronaldo, que começou no Cruzeiro, ter mais identificação com o Corinthians do que com o time mineiro. Então, eu fui dar uma camisa, conversei e me aproximei. Falamos de clube-empresa porque ele já era dono do Valladolid, na Espanha. Mas, naquele momento, eu jamais pensava nisso. Somente após a aprovação da lei é que a conversa avançou”, lembra.

Após virar SAF, o Cruzeiro ganhou as páginas do mundo

“O Ronaldo é uma figura muito forte. O time, mesmo na série B, teve seis páginas na France Football, um site internacional de publicação de futebol. Teve uma repercussão imensa. Eu me lembro de que, nesse dia, 18 de dezembro, um sábado, eu dei entrevistas para veículos do Japão, Rússia e Tailândia, algo que eu nunca imaginei na vida”.

Criticado sobre o valor da venda do time, estimado em R$ 400 milhões - muito abaixo da SAF do Vasco, por exemplo, que custou R$ 1,4 bilhão - Sérgio acredita que fez um bom negócio e diz que é preciso somar, também, o valor da venda ao da dívida assumida pelo grupo de Ronaldo.

“O Cruzeiro tinha uma situação peculiar que era o tamanho da sua dívida a curto prazo. Acho que pouquíssimas pessoas gostariam de assumir ou teriam coragem de assumir isso. Eu não tenho dúvidas de que foi um sucesso, porque uma coisa é o valor aportado de R$ 400 milhões. Outra, é se somarmos isso a uma dívida de um R$ 1,1 bilhão. É igual comprar uma casa por R$ 10 mil e ela ter mais de R$ 500 milhões em dívidas. Quanto que vale essa casa? Então, esse é o risco”, compara.

Sérgio Santos Rodrigues é advogado, mestre em Direito e especialista em Gestão de Entidades Desportivas. Seu livro "Futebol S.A" traz reflexões históricas, jurídicas e econômicas e a experiência de quem liderou a criação da primeira SAF do Brasil. Ele discorre sobre o início das Sociedades Anônimas na Europa, o mercado e a indústria do futebol, os bastidores da negociação com o Banco XP, um apoiador do Cruzeiro neste processo, e a movimentação política no Congresso Nacional, culminando na aprovação da Lei da SAF.

Confira a entrevista:

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