Um em cada dois brasileiros enfrenta problemas com saneamento, diz estudo
São, ao todo, 102 milhões de brasileiros afetados; população com menor renda, jovens, negros, pardos e indígenas são os mais prejudicados

Wagner Lauria Jr.
Um em cada dois brasileiros possuem algum tipo de privação de saneamento básico. É o que aponta estudo divulgado pelo Instituto Trata Brasil, nesta 5ª feira (16.nov), com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), coletados entre 2013 e 2022, por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Continuada Anual (PNADCA). Isso quer dizer que 102 milhões de brasileiros têm algum problema de saneamento no país.
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Os dados, no entanto, mostram que o acesso aos serviços está diretamente relacionado a renda, cor de pele e idade. Além disso, retratam uma desigualdade regional do país. Quando se trata de estados com o maior índice de casas não conectadas à rede de esgoto, por exemplo, todos os cinco estão nas regiões Norte e Nordeste. Já os com maior acesso estão no Sudeste, com exceção do Distrito Federal.
DESIGUALDADE REGIONAL
Enquanto as regiões Nordeste e Norte não estão em quase nenhuma das listas dos cinco estados com maior acesso aos serviços de saneamento, com exceção da disponibilidade de reservatórios, em que Rondônia e Acre aparecem, as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste se intercalam em todas as listas de melhores resultados.
Região Norte possui mais estados que não estão conectados à rede de esgoto e o Nordeste é a que mais sofre com a falta de água tratada
17 a cada 100 moradias do Nordeste ainda não estavam ligados à rede de água tratada. No Piauí, cerca de 83% da população não está conectada à rede de coleta de esgoto.
1º - Piauí
2º - Amapá
3º - Pará
4ª - Rondônia
5º - Maranhão
Já os estados com a maior taxa de conexão com a rede de esgoto estão todos no Sudeste, exceto o Distrito Federal
1º - São Paulo
2º - Distrito Federal
3º - Rio de Janeiro
4º - Minas Gerais
5º - Espírito Santo
Os estados com menor acesso à rede de abastecimento de água tratada estão no Norte e Nordeste
1º - Amapá
2º - Rondônia
3º - Pará
4º - Acre
5º - Paraíba
Na outra ponta, os estados com mais acesso à rede de abastecimento de água tratada estão no Sudeste, Sul e Centro-Oeste
1º - São Paulo
2º - Distrito Federal
3º - Mato Grosso do Sul
4º - Paraná
5º - Rio Grande do Sul
DESIGUALDADE POR RENDA, COR DE PELE E IDADE
Pessoas com menor renda são as mais afetadas pela falta de acesso em todos os problemas listados
- Dos 12% de moradias sem acesso à rede geral de água, 70% estavam abaixo da linha e pobreza;
- 47% das pessoas sem acesso à rede de água tratada moravam em domicílios com renda de até R$ 2.400,00 por mês
Privação de serviços de saneamento afeta majoritamente jovens com menos de 20 anos que possuem filhos, a população negra, parda e os indígenas
- Mais de 30% das pessoas morando em habitações sem acesso à rede geral de água tratada tinham menos de 20 anos de idade;
- 4,4 milhões de brasileiros não têm banheiro em casa: desses, 73,7% se consideram pardos e 10,6% pretos ;
A presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Pretto, coordenadora do estudo, destaca como a desigualdade do Brasil reflete-se na questão do saneamento e tem impactos profundos em várias áreas. "O problema afeta de maneira contundente as jovens famílias brasileiras, muitas das quais vivendo abaixo da linha da pobreza, que além de tudo adoece mais graças a essa falta de infraestrutura. Quase a metade do país viver com ao menos uma privação de saneamento básico é algo inaceitável e que gera um imenso impacto negativo para todos, afetando a saúde, educação e qualidade de vida de milhões de brasileiros", afirma.