Caso de césio-137 encontrado em São Paulo não tem indícios de contaminação
Uma das hipóteses é que o material tenha sido levado de mineradora por causa do alto valor

Fernanda Trigueiro
As fontes de césio-137 de uma mineradora, no interior de Minas Gerais, recuperadas no dia último dia 10, ainda não foram devolvidas à empresa. A polícia continua investigando o caso, mas não há indícios de contaminação radioativa.
Os equipamentos estão armazenados no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, em São Paulo. Até que a polícia conclua as investigações, o inquérito corre em sigilo.
Uma das hipóteses é que o material tenha sido levado por causa do alto valor, como explica o diretor da Comissão Nacional de Energia Nuclear, Alessandro Facure: "são dispositivos usados por várias instalações no mundo e o preço pode chegar algumas dezenas de milhares de dólares".
As fontes pertenciam à mineradora AMG Brasil, de Nazareno, no interior de Minas Gerais, e servem para medir a densidade das rochas. Foram encontradas após 11 dias, em uma empresa de sucatas na capital paulista.
"Essas empresas que trabalham com sucatas, elas possuem um treinamento. Quando eles souberam do extravio, começaram a fazer uma busca tendo então identificado essas duas fontes", afirma Alessandro Facure.
Situação bem diferente de 1987, quando dois rapazes encontraram, numa clínica desativada, uma máquina de radioterapia. Levantamentos de associações das vítimas e do Ministério Público de Goiás indicam que mais de 60 pessoas morreram.
A médica Maria Paula Curado, especialista em oncologia do hospital AC Camargo, em São Paulo, trabalhava na capital goiana na época, e atendeu muitos pacientes do césio-137: "elas faziam fila, e os físicos ficavam monitorando, foram 120 mil pessoas. O sangue para de ser produzido, então a pessoa corre o risco de morrer, e as tardias são as queimaduras que não cicatrizam, ficam no corpo em diversos locais".
Após o desastre do césio-137 em Goiânia, a indústria radioativa evoluiu e o governo adotou uma cultura de radioproteção com protocolos de segurança nuclear e um controle maior no descarte de aparelhos radioativos. Medidas importantes e capazes de evitar contaminações.
Os equipamentos recuperados são feitos de material cerâmico e blindados com aço inoxidável, diferentemente do caso de Goiânia, em que a fonte era em pó e altamente dispersível. Outro legado foi o selo internacional, obrigatório em todos os dispositivos de fontes radioativas.