Abraji reúne especialistas e profissionais da imprensa em São Paulo
18º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo acontece até 2 de julho; assista às entrevistas
SBT News
O impacto da inteligência artificial na mídia, os bastidores de reportagens investigativas de grande repercussão, os desafios da cobertura política em Brasília e o combate à desinformação. Estas são algumas das pautas de destaque do 18º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, promovido pela Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), entre os dias 29 de junho e 2 de julho, na ESPM, em São Paulo.
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A presidente da Abraji, Katia Brembatti, falou ao SBT News sobre a estrutura e as propostas da edição deste ano, que conta com cerca de 100 palestras, cursos e oficinas. Segundo ela, a curadoria dos painéis teve como principal objetivo promover uma discussão abrangente, considerando os atuais desafios da sociedade, no Brasil e no Mundo.
"Quando a gente pensa na programação, a gente pensa olhando para o fato de que queremos que muitos estudantes participem, porque é um congresso de formação, mas também de aprimoramento. Então mesmo que um profissional já tenha 20 anos de experiência, eu tenho certeza que ele virá aqui e vai aprender coisas que ele não sabe", pontua Brembatti.
O jornalista José Luiz Filho, do SBT News, conversou com especialistas e profissionais da imprensa, durante o evento, sobre os principais temas em debate, nesta 18ª edição. Assista às entrevistas na íntegra.
Entrevista com Katia Brembatti, presidente da Abraji:
O enfrentamento às 'fake news' e os impactos da desinformação na sociedade continua sendo um dos grandes destaques do evento anual da Abraji e foi tema da conversa de Katia Brembatti.
+ Abraji promove o 18º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo
Ao SBT News, a presidente da Abraji ressaltou que o jornalismo não é perfeito e pode cometer erros, mas é essencial para combater a disseminação de informações falsas.
"Acho que fica muito claro no Congresso que precisamos de um aprimoramento. A imprensa precisa fazer um processo reflexivo sobre o seu papel, mas a sociedade precisa do jornalismo. Porque sem jornalismo, essa questão da desinformação vai se alastrar ainda mais. Quando você quer confirmar realmente se uma informação é verdade ou não, é no jornalismo que você vai verificar".
Entrevista com Luiz Fernando Toledo, diretor da Abraji e cofundador da Fiquem Sabendo
O diretor da Abraji e cofundador da agência Fiquem Sabendo, Luiz Fernando Toledo, destacou o papel da LAI, a Lei de Acesso à Informação, para o exercício do jornalismo. A lei foi tema da mesa de discussão "Do lado de lá: como servidores públicos recebem os pedidos de LAI", da qual Toledo foi mediador.
+ Diretor da Abraji destaca desafios e evoluções da Lei e Acesso à Informação
"A Abraji foi uma das associações que lutaram para que a Lei de Acesso à Informação existisse. Foi um trabalho de várias organizações ao longo de muitos anos. Naquele momento, lutamos para ter uma lei, e agora lutamos para que ela seja aplicada e que as respostas cheguem".
Entrevista com Pedro Borges, cofundador da agência Alma Preta:
Cofundador da agência de comunicação Alma Preta, voltada para a cobertura de pautas sociais e econômicas do Brasil, a partir da perspectiva da população negra, Pedro Borges falou sobre a importância das mídias independentes na construção de um mercado mais diverso e plural na comunicação.
+ Pedro Borges fala sobre empreendedorismo e diversidade no jornalismo
"Acho que a gente tem conseguido construir um mercado mais diverso e plural de comunicação e eu acho que iniciativas como a Alma Preta acabam sendo interessantes para a gente conseguir também ter novos olhares e empregar. Nós sabemos da dificuldade que o nosso mercado hoje tem enfrentado hoje".
Entrevista com Talita Bedinelli, cofundadora da plataforma Sumaúma:
A cofundadora da plataforma Sumaúma, Talita Bedinelli, comentou sobre o impacto da cobertura jornalísticas na defesa de pautas socioambientais e a influência da disseminação da informação na tomada de decisão pelo Poder Público. Ela lembrou da repercussão da reportagem que denunciou a crise humanitária no território Yanomami.
+ Talita Bedinelli defende papel do jornalismo na defesa de pautas socioambientais
"Em janeiro, quando a gente publicou a reportagem que revelava que 570 crianças morreram, até 5 anos morreram, durante o Governo Bolsonaro, por falta de atendimento médico dentro do território [Yanomami], a gente mostrou as fotos dessas crianças desnutridas, em pele e osso, dentro desse território, isso gerou um impacto enorme, o governo agiu no dia seguinte".
Entrevista com Gabriela de Almeida, diretora de Relações Institucionais do Redes Cordiais:
Gabriela de Almeida, diretora de Relações Institucionais da 'Redes Cordiais', primeira organização brasileira de educação midiática para influenciadores e redes sociais, comentou sobre o conteúdo do guia básico de saúde mental para jornalistas, destacando que o tema é muitas vezes tratado como tabu nas redações - apesar de todo o ambiente de tensão que envolve o exercício da profissão.
+ Redes Cordiais promove educação midiática e saúde mental no jornalismo
"O jornalista fica na linha de frente, exposto a muita violência, muita morte, vê coisas que causam danos terríveis e um adoecimento mental enorme. Então, esse guia traz muitos caminhos de como perceber os primeiros sinais, como buscar ajuda, é um material super completo".
Entrevista com Antonio Junião, da Ponte Jornalismo:
Mediador da palestra "Jornalismo investigativo sobre direitos humanos: oportunidades, riscos e novas tecnologias", da jornalista Ilica Mahajan, do The Marshall Project, Antonio Junião, da Ponte Jornalismo, também conversou com SBT News.
Junião indicou as semelhanças entre os trabalhos do The Marshall Project e da Ponte, que se dedicam à ampliação do debate sobre os direitos humanos através da comunicação, e destacou a importância da tecnologia no jornalismo de dados e sua influência na cobertura de pautas socioeconômicas.
+ Antonio Junião, da Ponte, destaca o uso da tecnologia no jornalismo investigativo
"O jornalismo junto com a ciência produz informação mais confiável. Então é um diálogo necessário. A gente entendeu que, para falar de problemas estruturais, a gente precisa entender quem está discutindo os problemas de forma estruturante, quem está indo a fundo nos problemas, porque só assim a gente consegue estabelecer um diálogo e informar de uma maneira que seja propositiva".
Entrevista com José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Cemaden
A função do jornalismo na conscientização sobre as mudanças climáticas e a necessidade de uma cobertura contínua do assunto foram temas abordados pelo palestrante José Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), ao longo do evento.
+ Mudanças climáticas: José Marengo destaca papel do jornalismo na conscientização
"Eu acho que o papel dos jornalistas é tentar colocar na cabeça das pessoas essa percepção de que estamos em um clima que está mudando, que os desastres estão acontecendo mais, que as chuvas estão mais intensa, e que os governos podem fazer coisas para evitar os impactos mais futuros dessa chuva que é cada vez mais intensa"
Entrevista com Samira de Castro, Presidente da Federação Nacional dos Jornalistas
Em conversa com o SBT News, a presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Samira de Castro, destacou o processo de descredibilização o do jornalismo, nos 4 últimos anos, e suas consequências para a categoria. A entrevistada também lembrou das conclusões do "Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa", de 2022, que apontam para um aumento de diversos tipos de agressões contra jornalistas.
+ Samira de Castro alerta para aumento da violência contra jornalistas
"A gente tem uma profissão que ela, nos últimos 10 anos, tem sido cada vez mais alvo de violência. Desde as jornadas de junho de 2013, se a gente for considerar os picos de violência contra a categoria, a gente tem um ambiente hostil no Brasil, para o exercício do jornalismo, e nos últimos 4 anos, bastante intensificado, fruto da polarização política, e de uma espécie de incompreensão da população de que o papel do jornalista é levar informação para a sociedade, independentemente de lado político. Nós fomos alvos diretos."
Entrevista com Guilherme Amado, diretor da Abraji e colunista do Metrópoles
O diretor da Abraji e colunista do portal Metrópoles, Guilherme Amado, comentou sobre o trabalho da cobertura política, em Brasília, e as diferenças da relação entre o Planalto e a imprensa, durante a gestão Jair Bolsonaro e governo anteriores.
+ Guilherme Amado fala sobre cobertura política durante o governo Bolsonaro
"Os outros governos, seja do Lula, do Fernando Henrique [Cardoso], do Michel Temer, eles tratavam a imprensa com seriedade. Eles podiam não gostar, eles podiam reclamar, mas eles sabiam que o nosso trabalho era um trabalho necessário, sério e que merecia o respeito".
"A gente percebe uma diferença, não vou dizer só entre esse governo e o governo anterior, é entre o governo anterior e todos os outros do período democrático. Os outros governos, seja do Lula, do Fernando Henrique [Cardoso], do Michel Temer, eles tratavam a imprensa com seriedade. Eles podiam não gostar, eles podiam reclamar, mas eles sabiam que o nosso trabalho era um trabalho necessário, sério e que merecia o respeito, porque, ali do outro lado, estava uma pessoa representando a sociedade. No governo Bolsonaro, a gente viveu uma coisa muito perigosa, que era a tentativa de descredibilizar esse trabalho, atacar o jornalista, e de tentar fazer com que a sociedade visse na gente não seus aliados no esforço para obter informação de qualidade, mas sim como adversários daquele projeto político que estava ali", ponderou Amado.
Entrevista com Yan Boechat, correspondente internacional
A guerra na Ucrânia se arrasta há mais de um ano e já provocou o deslocamento de milhões de pessoas, a morte de milhares de civis e uma transformação nas relações diplomáticas. O correspondente internacional Yan Boechat já viajou ao país duas vezes desde o começo da "operação especial" russa e contou ao SBT News sobre as dificuldades de cobrir um conflito em andamento.
"Acho que pra gente, jornalista, a parte mais complicada de cobrir uma guerra é a preparação, a logística, é saber aonde ir e como ir, ter toda uma preparação e suporte para conseguir voltar, porque esse é o ponto mais importante para um jornalista que cobre conflito: não é apenas ir, mas, principalmente, ir e voltar para poder contar a história", pontuou Boechat.
Entrevista com Marco Túlio Pires, líder do Google News Lab no Brasil
Em entrevista ao SBT News, durante o 18º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji, em São Paulo, Marco Túlio Pires, líder do Google News Lab no Brasil, falou sobre a importância de proteger e potencializar o jornalismo, e como iniciativas do Google visam auxiliar nisso, por exemplo, a ferramenta Pinpoint e o projeto Comprova, de checagem de notícias.
"A missão do Google é organizar a informação do mundo e tornar ela universalmente acessível e útil, então a gente tem uma série de iniciativas que apontam nessas direções. E, no contexto jornalistico, os jornalistas são um dos principais mediadores dos grandes debates, os organizadores de informação, então é essencial que para o jornalismo prosperar ele precisa ser defendido, protegido, potencializado. E quando o jornalismo prospera, prospera toda a democracia, então o Google não podia estar de fora de apoiar uma iniciativa tão importante como o Congresso da Abraji"
Entrevista com Rosental Calmon Alves, diretor do Knight Center for Journalism in the Americas (UTexas)
Como veículos locais podem se viabilizar economicamente e prosperar? O debate é central no Brasil e outros países, onde o modelo de negócios tradicional implodiu. O brasileiro Rosental Calmon Alves, que dirige o Knight Center for Journalism in the Americas, na Universidade do Texas, palestrou sobre o assunto durante 18º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji, em São Paulo, e contou ao SBT News um pouco sobre a conversa.
Entrevista com Sérgio Lüdtke, Editor-chefe do Comprova e presidente do Projor
Sérgio Lüdtke, editor-chefe do Comprova e presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor) esteve presente no 18º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo, em São Paulo. Ele palestrou em uma das diversas mesas de debate e falou ao SBT News sobre o trabalho de checagem de notícias feito pelo Comprova desde 2018 e como checar fatos virou um novo gênero de jornalismo.
"Em tempos de fake news, em tempos de ataque ao jornalismo, a checagem é uma espécie de um novo gênero do jornalismo hoje. Já não é mais aquela checagem de dados de informação das matérias publicadas e passou a ser, em um primeiro momento, a checagem do discurso das autoridades e pessoas públicas, e depois, com as redes sociais sendo usadas também por esses atores e assumindo um papel de protagonismo no ecossistema de informação, a checagem passa também a monitorar esse ambiente, a identificar informações que são duvidosas, são suspeitas, que trafegam nesses ambientes, e aí surge essa figura do checador, verificador, que é a pessoa que vai identificar isso, fazer uma investigação, e produzir o conteúdo, uma reportagem investigativa, com base naquilo que está se espalhando e que não necessariamente é verdadeiro", explica.