Território Yanomami: combate ao garimpo apreende mais de R$ 30 mi
Foram encontrados itens como combustível e ouro. Militares atuam para expulsar garimpeiros restantes
Em coletiva de imprensa em Boa Vista, na tarde desta 3ª feira (27.jun), as Forças Armadas apresentaram os resultados das operações de ajuda humanitária aos indígenas e combate ao garimpo ilegal realizadas no território Yanomami em Roraima. Os valores dos materiais apreendidos/inutilizados desde o início das ações, em fevereiro, como cassiterita, combustível e ouro, somam R$ 30.972.825,00.
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As operações Yanomami e Ágata Fronteira Norte entregaram 23.438 cestas básicas a indígenas. Além disso, 2.424 pessoas receberam atendimento médico, foram transportados 661.500 kg em cargas, e as horas de voo totalizam 5.200.
Além do Exército, Marinha e Aeronáutica, atuaram e atuam nas operações agências e órgãos de segurança pública, como a Polícia Federal (PF) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). Segundo os militares, mais de 90% dos garimpeiros ilegais que se estimava ter no início do ano (20 mil) já deixaram o território Yanomami, e agora as Forças e as demais entidades trabalham para expulsar os restantes e, por meio da neutralização dos equipamentos deixados e estrangulamento das fontes de apoio logístico, impedir o retorno dos criminosos.
A Operação Yanomami teve início em 3 fevereiro. No começo deste mês, ela foi substituída pela Operação Ágata Fronteira Norte, que assumiu as atribuições da anterior e incorporou medidas para aumentar o apoio às agências no combate ao garimpo.
Entre os desafios elencados pelas Forças Armadas para as operações alcançarem seus objetivos, como operar de forma preventiva e repressiva e prestar assistência humanitária, estão o tamanho da área a ser protegida (57,43 mil Km²); vencer grandes distâncias sem a possibilidade de utilizar o modal rodoviário e fluvial, apenas o aéreo; meteorologia adversa com chuvas frequentes e intensas; e a integração entre as agências, porque Exército, Marinha e Aeronáutica tem dificuldade de levar seu efetivo para a região e as agências não possuem efetivos tão grandes.
A Operação Ágata Fronteira Norte conta com 1.173 pessoas, entre militares e outros. Nela e na Yanomami, no total, 332 documentos foram processados na produção de conhecimento; 35 mil km² foram sobrevoados em missão de Inteligência, Vigilância e Reconhecimento (IVR); 19 garimpos, imageados e georreferenciados; e 70 pistas de pouso clandestinas, catalogadas.
"Nós não temos tido reclamação dos próprios indígenas sobre a distribuição de cestas. Muito pelo contrário. Quando nós conversamos com eles lá em Surucucu e Auaris, demonstram satisfação por todo esse alimento e todo o esforço que está sendo feito", afirmou o general de Exército Ricardo Augusto Ferreira Costa Neves, comandante da Ágata Fronteira Norte.
As atribuições dos militares no enfrentamento ao garimpo ilegal incluem realizar ações de monitoramento e efetuar prisões em flagrante. Na vertente humanitária, devem, por exemplo, fazer a distribuição de cestas básicas aos indígenas, obrigação que já tinham na Operação Yanomami também.
Ibama
Ainda na coletiva, Diego Milléo Bueno, superintendente do Ibama em Roraima, disse que a autarquia fará "um diagnóstico de contaminação, de poluição por mercúrio" na Terra Indígena Yanomami no estado. "Isso já tem um planejamento, e a gente vai executar aqui a partir do segundo semestre. Queremos fazer esse diagnóstico para ver qual o nível de contaminação por mercúrio metálico nos corpos hídricos, nos rios que atravessam a terra indígena".
De acordo com ele, o Ibama tem ainda um trabalho, "também já em início, relacionado à questão da recuperação ambiental". "Só que para fazermos ele, estamos aguardando as condições meteorológicas. Está chovendo muito, e isso dificulta bastante o voo na terra indígena. Então, por enquanto, estamos priorizando as ações ainda de combate mesmo desse residual de garimpeiros que insistem em ficar lá", complementou.
O Ibama, a partir do segundo semestre, ressaltou Bueno, fará "ações de levantamento em campo lá para fazer também um diagnóstico de como realizar as medidas mitigatórias para promover essa recuperação ambiental".
Em suas palavras, "é sabido que crateras da forma como eles [garimpeiros] fizeram, e crateras de 20, 30 metros de profundidade, às vezes com dois, três hectares de tamanho, na margem dos rios, isso é de difícil recuperação". "Mas a natureza, se a gente deixá-la agir, com o tempo ela tende a se recuperar. Mas o Ibama está estudando medidas principalmente para evitar a contaminação com o mercúrio".
Prazo
Conforme Costa Neves, "enquanto o decreto estiver em vigor e enquanto a coordenação dos ministérios em Brasília julgar que é necessária a continuação da Operação Ágata Fronteira Norte, ela vai continuar".
Ele ressalta que nesta e na anterior, os participantes alcançaram "excelentes indicadores", como a saída de mais de 90% dos garimpeiros. "Agora, eu concordo, e este é um ponto fundamental: o que nós precisamos fazer para garantir a consolidação dessas conquistas. E é por isso que eu mencionei que o Comando Conjunto e todas as agências, nós faremos essas propostas para os ministérios, para as agências [de medidas a serem adotadas], de forma que nós tenhamos a plena certeza de que esses ganhos serão perpetuados, serão consolidados".
**Reportagem atualizada às 15h30 de 28/06/2023
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