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Personagens de junho: Reynaldo Rossi, coronel da PM agredido em protesto

Comandante do policiamento do centro de São Paulo fala, após 10 anos, sobre o espancamento que sofreu

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arte com escrita Atos de Junho: 10 anos depois
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Há dez anos, o aumento na tarifa do transporte público em diversas capitais do país gerou um movimento de revolta, que levou milhares de brasileiros às ruas em junho de 2013. A violência, de ambos os lados, marcou a onda de protestos.

As pessoas que tomaram as ruas apanharam, mas também bateram na Polícia. É o caso do coronel da PM Reynaldo Simões Rossi, comandante da Polícia Militar na região central de São Paulo naquele ano, que foi brutalmente agredido durante uma manifestação. 

O ato, convocado pelo Movimento Passe Livre (MPL), aconteceu em 25 de outubro de 2013. Ele encerrava a "Semana de Luta por Transporte Público", com reivindicações de tarifa zero no transporte e a volta de linhas de ônibus extintas na periferia.

Agora, na reserva da PM, o coronel concedeu uma entrevista exclusiva ao SBT News. Há quase dez anos ele não falava sobre o que viveu.

"Eu não tenho dúvidas de que se eu continuasse ali eu morreria" - Coronel Reynaldo

Coronel Reynaldo após receber alta | Alex Silva/Estadão Conteúdo

Um novo jeito de se manifestar

Para o policial, os protestos de junho de 2013 surpreenderam a corporação por não seguirem a lógica das manifestações tradicionais. Era um novo jeito de se manifestar, sem lideranças claras e com convocações sendo feitas pelas redes sociais.

"As manifestações sempre tiveram uma lógica, e o batalhão da área central, e o próprio comando, sempre teve expertise em lidar com isso [...] Nós tínhamos, na maioria das vezes, condição de prever e condição de interagir com quem iria se manifestar. As manifestações convocadas pelas redes sociais retiram essa capacidade", diz Rossi.

O coronel recorda que, após os primeiros atos, as ruas passaram a receber pessoas diferentes, heterogêneas, com pautas mais difusas. Mas os interessados no confronto direto com a polícia, os black blocs, segundo ele, sempre estiveram presentes. "Sempre houve um grupo interessado no confronto", lembra Reynaldo.

"Para mim ficava claro, em determinadas manifestações, que a opção pelo confronto e o confronto existir tinha virado um rito de passagem para muitos manifestantes", afirma o policial.

Excessos da PM

De acordo com o coronel Reynaldo, a grande virtude da PM em 2013 foi lidar com os protestos sem que eles resultassem em uma morte, tanto do lado dos manifestantes quanto do lado da corporação. Ainda segundo ele, todos os excessos foram apurados.

"Eu sei que há muitas críticas à atuação da polícia, nós tivemos que falar diversas vezes sobre a atuação, em diversas esferas, mas eu acho que ninguém, nunca, parou para pensar no que esses policiais militares fizeram nesse período" afirma Rossi.

A tarefa, para o comandante, não era fácil. Em suas contas, foram mais de 400 manifestações só no segundo semestre daquele ano, com pelo menos dois confrontos por semana.

"Havia um movimento muito claro para que a gente produzisse uma morte para talvez as pessoas imputarem todas as responsabilidades do mundo à Polícia Militar, e nós não demos essa morte", destaca ele.

+ Junho de 2013: 10 anos da revolta nas ruas que sacudiu o país

A agressão

Era noite de 25 de outubro de 2013 e o último ato da "Semana de Luta por Transporte Público", convocado pelo MPL, começava em frente ao Teatro Municipal, no centro da capital paulista.

Os manifestantes caminharam até o Terminal Parque Dom Pedro, de onde saem ônibus para diversos bairros da cidade. Lá começou o quebra-quebra.

"Eles começaram a tomar todas as ruas do Parque Dom Pedro, e aí eu e o Yoshino percebemos que a gente estava cercado [...] Aí eu fui surpreendido por uma pancada, ou por um caibrada na cabeça, tomei uma no ombro, que eu senti o meu ombro cair, tomei acho que uma no outro ombro, e aí quando eu senti que eles tinham tomado a minha arma, eu temi por tomar um tiro nas costas", lembra ele.

Yoshino, um cabo da PM que estava à paisana, conseguiu sacar uma arma e proteger o comandante. Reynaldo se emociona ao lembrar da coragem do colega de farda.

"Eu não sou herói, por favor [...] Se eu estou aqui, é por conta de um policial chamado Yoshino... eu devo minha vida a ele, com certeza", diz Rossi.

Veja o primeiro episódio da série Atos de junho: 10 anos depois, do SBT Brasil, na íntegra:

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