Reitor da Universidade Zumbi dos Palmares pede ação conjunta contra o racismo
José Vicente lamentou as ofensas sofridas pelo jogador Vinicius Junior na Espanha
Emanuelle Menezes
O reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente, lamentou os casos de racismo contra o jogador Vinicius Junior, do Real Madrid. Em entrevista ao SBT News, ele pediu medidas mais duras de jogadores, clubes, federações e patrocinadores.
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"Eu penso que, como muitos brasileiros e pessoas ao redor do mundo, todos nós nos sentimos extremamente agredidos, vilipendiados, hostilizados. E, da mesma maneira, entristecido, porque o esporte é um espaço de alegria, de vida, de integração, cooperação, interação e respeito às diferenças, e nós vimos então, no caso do Vini Junior, a manifestação desse racismo que a gente tanto denuncia, tanto combate, e a gente vê ele nascer e renascer nos mais diversos espaços, inclusive, nas arenas futebolísticas. Então, ao mesmo tempo de agredido e vilipendiado, me sinto entristecido, porque nem no nosso país, nem lá no primeiro mundo, enfim, em todo espaço, se confirma essa máxima que o racismo é uma chaga que se apresenta em todos os espaços possíveis e imagináveis e justamente por conta disso ele precisa ser combatido freneticamente", diz Vicente.
Para José Vicente, a questão do racismo nos estádios não é um problema exclusivo da Espanha. Segundo ele, o Brasil também "é racista e expressa esse racismo das mais diversas formas, inclusive pelo silêncio, nós conhecemos os casos que aconteceram nos últimos tempos aqui no Brasil, e que ao final imperou o silêncio e nenhuma das medidas necessárias para superar a ocorrência do racismo se fez de uma forma assertiva, de uma forma objetiva, no futebol brasileiro. Então, em grande medida, nós não ficamos devendo muito para a Espanha não, estamos no mesmo barco".
"A gente percebe essa divisão, parte das pessoas, da mídia, da opinião pública que exige uma atitude dura e rigorosa das torcidas, dos times, das instituições que operam o futebol, da própria Justiça, da própria polícia, e nós temos grande parte das pessoas que tratam isso com desinteresse e com descaso, porque o jogo continuou, ninguém parou nem essa, nem a outra, nem as anteriores partidas, e para semana que vem os jogos já estão todos definidos, sem que qualquer medida objetiva e efetiva fosse tomada, ou pela liga da Espanha, ou pelo Real Madrid e os demais times, os jogadores que são amigos do Vinicius Junior, e nem pelas autoridades", continua o reitor.
Vicente defende também medidas que atinjam o bolso das entidades responsáveis. "A gente viu que lá no caso da liga da Espanha nós temos um patrocinador muito forte, que é o banco Santander, que seguramente retira daqui do Brasil muito de seus lucros para depois fazer os mais diversos usos. Então é uma responsabilidade do patrocinador também. Ele coaduna com esse tipo de atitude? Ele assina embaixo de atitudes dessa natureza? Se não, ele tem que se posicionar, se manifestar, exigir que a liga, os clubes e os jogadores repudiem e combatam e eliminem definitivamente o racismo das arenas esportivas da Espanha", diz.
O reitor pede a identificação e punição dos envolvidos nos casos de racismo, já previstas pela lei, mas que geralmente acabam não sendo aplicadas.
"Isso não pode ser só um problema do jogador vitimado e agredido, tem que ser dos seus colegas, do seu time, dos demais times, tem que ser da liga, tem que ser da CBF aqui no Brasil, mas também da Fifa as responsabilidades, e tem que ser inclusive da própria polícia, porque é possível identificar lá, como aqui, aqueles agressores racistas, e identificando é responsabilizá-los e puni-los definitivamente, e a gente não viu lá a polícia tendo uma ação mais enérgica de combater esse tipo de coisa", diz.
"Nós já construímos legislações até de muito rigor, agora essas legislações precisam funcionar, e para funcionar precisam que as instituições, a Polícia Civil, a Polícia Militar, o Ministério Público, a magistratura, e mesmo os tribunais desportivos, atuem e punam rigorosamente todo tipo de manifestação dos racistas nos estádios", completa.
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