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Apátrida: jovem foi expulso do Brasil durante ditadura

Estudante da USP, Maurice Politi ficou cinco anos preso e depois foi banido do país

Apátrida: jovem foi expulso do Brasil durante ditadura
Arquivo Público do Estado de São Paulo
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Apátrida: que ou aquele que, tendo perdido sua nacionalidade de origem, não adquiriu outra; que ou o que se encontra oficialmente sem pátria. Foi assim que, sem uma pátria para chamar de sua, Maurice Politi foi expulso do país, em 1975, após passar cinco anos detido por sua militância contra a ditadura militar.

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Nascido em Alexandria, no Egito, em 1949, Maurice imigrou para o país aos nove anos, junto com a família, devido à Guerra de Suez. Aos 19 anos, ele começou a estudar na Escola de Comunicação e Artes da USP e logo se aproximou do movimento estudantil. 

Ainda na juventude, se envolveu na luta contra a ditadura militar e passou a fazer parte da ALN, Ação Libertadora Nacional, organização que fazia oposição ao regime. Preso em 20 de março de 1970, aos 21 anos, Maurice se viu sem pátria. Desde a chegada ao país, o jovem tinha uma nacionalidade brasileira provisória e deveria, ao completar 21 anos, fazer o juramento que lhe concederia a cidadania brasileira. O juramento não aconteceu. Na data escolhida, o rapaz estava preso na Operação Bandeirantes (Oban). 

Maurice ficou cinco anos preso. Ao ser solto e declarado apátrida, foi expulso do Brasil. Em 1975, ele foi para Israel, onde permaneceu até 1980. Só voltou para o país após a promulgação da Lei de Anistia e, cinco anos depois, conseguiu finalmente sua nacionalidade brasileira. 

Maurice durante palestra do Núcleo Memória | Divulgação/Núcleo Memória

59 anos após aquele 31 de março de 1964, quando o golpe militar instaurou uma ditadura de 21 anos no Brasil, Maurice falou ao SBT News sobre sua atuação na defesa dos direitos humanos e da democracia e sobre a importância de preservar a memória daquele período. Ele é, atualmente, diretor do Núcleo de Preservação da Memória Política, organização que, entre outras coisas, é parceira do Memorial da Resistência, museu que fica localizado no antigo prédio do Dops, Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo, no centro da capital paulista. 

Para que nunca mais aconteça

Lamber as feridas. É assim que Maurice acredita que o país cicatrizará os horrores do período da ditadura. Para isso, organismos de estado que pensem a memória, a verdade e a justiça como um tema atual são fundamentais. Ele lembra da nova escalação da Comissão de Anistia, que teve sua primeira sessão de julgamentos na 5ª feira (30.mar), e da retomada da Comissão de Mortos e Desaparecidos --- extinta durante o governo Bolsonaro (PL). 

"Essas comissões sendo criadas novamente será uma demonstração de que realmente o governo atual acha que este tema merece a atenção da sociedade. Por isso os esforços para manter viva essa questão, de lembrar dos crimes da ditadura para que não ocorra nunca mais", diz ele.

Memória 

Por que continuar contando essa história depois de tantos anos? Segundo Maurice, é para por fim a impunidade. 

"Continuar contando essa história é importante justamente para que a impunidade não seja um valor a ser cultivado pela sociedade brasileira. A sociedade brasileira precisa conhecer o que ocorreu na época da ditadura, para que entenda melhor o presente e ele possa construir um futuro melhor para o país", declara.

 "Só conhecendo o passado é que se pode vislumbrar que futuro nós queremos", conclui.

Educação para a democracia

"É conhecendo essa manifestações antidemocráticas e educando as pessoas no respeito aos direitos humanos que se constrói uma verdadeira democracia". É com esse pensamento que Maurice leva adiante o Núcleo de Preservação da Memória Política, que trabalha desde 2009 para educar sobre o período da ditadura e para que a memória daqueles tempos não seja esquecida.

"A principal preocupação do Núcleo, a sua missão é justamente o resgate da memória política daquele período e a educação pra cidadania, quer dizer, o núcleo se preocupa em que as pessoas mais jovens conheçam a realidade do Brasil nos anos 60, 70, e quão nocivo isso foi para a sociedade brasileira", afirma Maurice, que completa:

"Tivemos toda uma geração que não exerceu a sua cidadania, passamos 21 anos sem eleições para presidente, então sem o exercício da cidadania. Isso prejudicou toda uma geração". 

Os quatro anos de governo Bolsonaro, que negava os horrores da ditadura e comemorava o golpe de 1964 como uma revolução que salvou o país do comunismo, não o esmoreceram. 

"O Núcleo Memória não cessou de atuar durante esses últimos 4 anos, ao contrário. Fizemos curso, fizemos atividades educativas, projeções de filmes, trabalhamos em pesquisa nos arquivos, enfim, fizemos o necessário pra poder, daqui pra frente, ter uma base mais sólida".

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