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A política faz parte do carnaval: especialista avalia relação entre social e folia

Sociólogo aponta proximidade de movimentos e destaca irreverência política do feriado

A política faz parte do carnaval: especialista avalia relação entre social e folia
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Seja com críticas, sátiras ou apenas como forma de representação. A política faz parte do Carnaval e marca, mais uma vez, as festividades de rua em 2023. O sociólogo Vinicius Ribeiro Alvarez Teixeira diz, ao SBT News, que o movimento de folia é propício para manifestações populares. E conta que isso sempre acontece, com exceção, é claro, dos anos que ficaram de fora da folia por conta da covid-19.

"As pessoas se expressam muito no Carnaval, de uma forma muito particular, com um pouco mais de irreverência, talvez com um pouco mais de elementos cômicos. Talvez algumas vezes é um pouco mais de deboche mesmo, mas é um momento muito propício para sátiras, para satirizar pessoas, acontecimentos, situações. Enfim, eu acho que tudo isso é político. O corpo na rua é político. Se a gente for pensar nas pessoas minorizadas, o fato de estarem na rua já é. Então eu acho que o Carnaval é essencialmente político", fala o doutorando em sociologia pela Universidade de São Paulo (USP).

Ele ressalta ainda que a vivência política institucional é, no geral, "burocrática, cheia de regramentos, uma coisa enrijecida", mas no Carnaval "você tem possibilidade de fazer política de outra forma, com irreverência".  "Se a gente for pensar do lado de passeatas, manifestações, elas têm uma forma específica de acontecer. E no Carnaval você tem outra possibilidade de manifestação e que é uma forma de se expressar, de fazer reivindicações. Não é da forma que acontece no cotidiano", declara.

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O sociólogo também aponta que com essas manifestações, a população até se aproxima da política. E destaca que a euforia da festa se relaciona com dois aspectos: a retomada das festas após dois anos de isolamento e os movimentos contrários ao antigo governo Bolsonaro.

"No ano passado ficou aquela confusão se iria ter ou não iria ter, enfim, hoje a gente tem condições de fazer o Carnaval e vai acontecer graças à vacina", afirma. O antigo governo "foi muito violento com a arte e com a cultura, que questionou o Carnaval. A gente pode lembrar o caso do golden shower, por exemplo", completa.

Carnaval com Bolsonaro

Em 5 de março de 2019, no primeiro ano de governo, ao se referir a uma cena gravada durante o Carnaval de São Paulo, no Twitter, Bolsonaro escreveu: "Não me sinto confortável em mostrar, mas temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades. É isto que tem [sic] virado muitos blocos de rua no Carnaval brasileiro. Comentem e tirem suas conclusões". A postagem teve mais de 3 milhões de visualizações naquela semana e foi classificada como imprópria para menores de 18 anos. Por isso, teve conteúdo restringido. Posteriormente, Bolsonaro perguntou "O que é golden shower?", expressão usada para a prática sexual de urinar no parceiro, que aparece no vídeo compartilhado por ele.

Segundo Vinicius, ficou evidente que a publicação de Bolsonaro com o vídeo foi uma reação dele por ter ficado bastante incomodado com manifestações contrárias a ele ocorridas no Carnaval de 2019. "Aquele Carnaval foi uma primeira manifestação grande, coletiva contrária ao Bolsonaro", fala o mestre em ciências sociais. "Eu lembro que se cantava muito em 2019 'doutor, eu não me engano, o Bolsonaro é miliciano'", pontua.

Vinicius reforça, porém, que há pessoas de direita que gostam bastante de Carnaval. "A arte a gente sabe que é lugar ocupado majoritariamente pela esquerda, mas também tem gente de direita na arte e tem gente de direita na arte fazendo Carnaval, não tenho dúvida disso. Agora, de qual direita a gente está falando? Se for a extrema-direita, essa certamente não gosta de Carnaval", completa.

Política em blocos de rua

Houve manifestações políticas evidentes em blocos de rua no Carnaval em 2019, 2018 e 2017. No primeiro ano, foliões entoaram também "Lula livre" nos blocos Jegue Elétrico, em São Paulo, Mamá na Vaca, em Belo Horizonte, Filhos e Filhas de Marx, em Salvador, e Desce mas Não Sobe e Bagunça Meu Coreto, no Rio de Janeiro. Naquela época, o petista estava preso, por ter sido condenado, em segunda instância, no caso do tríplex do Guarujá.

Em 2018, em um bloco em Salvador, foliões entoaram "fora, Temer", em protesto contra o então presidente Michel Temer (MDB), e, na sequência, "olê, olê, olá, Lula, Lula". Em Santa Cruz (RN), Os Lulas e as Marisas homenageou o então ex-presidente e a ex-primeira dama Marisa Letícia com bonecos gigantes de ambos. A então senadora e agora governadora Fátima Bezerra (PT-RN) participou. Em Belo Horizonte, no bairro Santa Tereza, o bloco Ai, Que Saudade do Meu Ex também homenageou Lula; foliões entoaram "volta, Lula", e um carregava uma foto do petista.

Em 2017, um boneco gigante do presidente Michel Temer foi levado a desfiles em Olinda e no Recife. Naquele ano também, na Cinelândia, no Rio de Janeiro, foi realizado o bloco Fora Temer.

Carnaval com Lula

O presidente Lula viajou a Salvador na 6ª feira (17.fev); ele passará o Carnaval na Base Naval de Aratu, na Praia de Inema. Esta era o destino favorito de Lula durante os seus dois primeiros mandatos, entre 2003 e 2010. Dentre os ministros do governo, a da Cultura, Margareth Menezes, comparecerá ao camarote do Galo da Madrugada, no Recife, e se apresentará no Camarote Expresso 2222, em Salvador, neste sábado (18.fev). No domingo (19.fev), desfilará com a escola Estação Primeira de Mangueira, na Sapucaí, no Rio de Janeiro. Já na 2ª feira (20.fev), participará do Carnaval de Porto Seguro (BA).

O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, deverá passar o Carnaval na Bahia. O da Educação, Camilo Santana, passará em sua casa, no Ceará, descansando com a família. O dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, em sua casa em São Paulo. O Ministério do Turismo não informou se a titular da pasta, Daniela Carneiro, acompanhará algum desfile ou se possui alguma agenda para o período. Entretanto, Marcelo Freixo, o presidente da Embratur -- que é vinculada ao ministério --, vai à Sapucaí para acompanhar o desfile da Mangueira.

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