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Brasil

São Paulo 469 anos: as contradições da maior cidade da América do Sul

Oportunidades e desigualdades sociais dividem espaço na capital mais rica do Brasil

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Há 469 anos, São Paulo tem sido o sonho de um futuro melhor para muita gente que, hoje, chega de avião, de ônibus... e também para quem, no passado, desembarcou de caminhão, e até nos navios a vapor que atracavam no porto de Santos.

Em 91 anos, a Hospedaria dos Imigrantes recebeu cerca de 2,5 milhões de pessoas de 70 nacionalidades, de todos os estados do Brasil. O lugar se transformou no Museu da Imigração, onde hoje é possível pesquisar, gratuitamente, as origens de milhares de famílias que tiveram os mais diferentes destinos depois que deixaram o prédio.

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É por todas essas famílias, por todos que chegaram antes, depois, pelos que nasceram aqui, que vale a pena comemorar o aniversário dessa grande cidade, neste 25 de janeiro.

Objetos, fotos e documentos guardam a saga dos muitos migrantes. Entre os sobrenomes cravados na parede, um não aparece, mas basta dizê-lo e já pensamos em riqueza e tradição: Matarazzo! Francesco Antônio Maria chegou em 1881, veio com o irmão, Andrea, bisavô da jornalista e escritora Claudia Matarazzo. A partir da cidade de São Paulo, Francesco transformou o Brasil.

"O estado era cafeeiro e, de repente, virou um país industrial no mapa do mundo. Uma geração mais para frente, o filho do senador Andrea, o Cicilo Matarazzo, deixou um legado imenso para cidade de arte, cultura, a Bienal de São Paulo, o Parque do Ibirapuera, o MAC-USP, a biblioteca da USP, com 10 mil volumes só de arte", conta Claudia Matarazzo.

Mas, a cidade que se tornou enorme, com 20 mil quilômetros de ruas, tem criado, ao longo de mais de 4 séculos, uma geografia injusta: os bairros chiques e a periferia estão separados por uma distância histórica. Primeiro, pelos conflitos entre bandeirantes, jesuítas, indígenas, africanos escravizados. Depois, na virada dos séculos XIX e XX, elevada a motor da economia nacional, esse cenário só se agravou.

"Esses conflitos e essas desigualdades socio-espaciais entre capitalistas ricos, patrões ricos e trabalhadores pobres, passaram a estruturar os bairros mais privilegiados, de elite, de classe média alta e os bairros dos trabalhadores", explica o urbanista e professor do Instituto das Cidades da Unifesp, Anderson Kazuo Nakano.

Esse desenho se mantém, mas o urbanista identifica uma nova noção de território: "é um movimento que começa a partir dos próprios moradores da periferia, que vão afirmando seu lugar, seu território, como sendo um lugar aonde eles merecem viver, depois de décadas vivendo na precariedade, em situações de vulnerabilidade".

São Paulo é tanta coisa, mas ainda falta ser de todo mundo. Democratizar, compartilhar e incluir são verbos que precisam ser conjugados. Eis o desafio para a cidade que queremos já e no futuro.

O cientista político e professor da FGV, Marco Antônio Teixeira, avalia como São Paulo pode mudar o rumo da história. "Educação, emprego e inclusão social. A cidade que acolhe tem que ser a cidade que retem esse tripé, que forma bem as pessoas, que oferece oportunidade de trabalho, e que mostra para elas que, independentemente da condição de classe, da religião ou da origem étnica, é possível convivermos harmoniosamente no mesmo espaço".

Um processo interminável para redesenhar e colorir esse pequeno pedaço do mundo chamado São Paulo. "Sou um apaixonado pela cidade. Nasci na periferia. Que no futuro, a gente possa ter uma cidade também com melhor cultura, melhor educação, com melhor saúde e saneamento básico. E que a periferia possa ser melhor atendida", pondera o artista plástico Eduardo Kobra.
 

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