Planejado em acampamento, atentado visava "estado de sítio", diz acusado
À polícia, George Washington também contou ter comprado armas incentivado por fala de Bolsonaro
Em depoimento à Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), George Washington de Oliveira Sousa, acusado de instalar uma bomba em um caminhão de combustível próximo ao Aeroporto de Brasília, afirmou que a ideia para o atentado nasceu em conversas no acampamento montado em frente ao QG do Exército por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) que não aceitam o resultado da eleição. O suspeito também afirmou que decidiu virar atirador e comprar armas e munições após falas de Bolsonaro.
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Segundo o depoimento, obtido pelo jornal Folha de S.Paulo, George Washington teria conversado com policiais e bombeiros que atuaram para conter os atos pela prisão de José Acácio Serere Xavante, em 12 de novembro, e entendido que os agentes estavam ao lado dos manifestantes antidemocráticos e que as Forças Armadas decretariam uma intervenção no país.
"Porém, ultrapassado quase um mês, nada aconteceu e então eu resolvi elaborar um plano com os manifestantes do QG do Exército para provocar a intervenção das Forças Armadas e a decretação de estado de sítio para impedir a instauração do comunismo no Brasil", afirmou o homem à polícia.
Além da bomba, que seria detonada no estacionamento do aeroporto, o grupo também planejava instalar explosivos em uma subestação de energia em Taguatinga -- cidade a cerca de 25 Km do centro de Brasília. George Washington disse no depoimento ser contra a ideia da bomba no terminal e afirmou que teria entregue o artefato ao um homem identificado como Alan para que ele o instalasse em um poste próximo à subestação.
Armas
Durante a prisão, a polícia encontrou diversas armas e munições com o acusado. Ele contou que trabalha como gerente em um posto de gasolina no Pará que tirou licença de CAC (colecionador, atirador desportivo e caçador) em outubro de 2021 incentivado por uma fala de Bolsonaro. "O que me motivou a adquirir as armas foram as palavras do presidente Bolsonaro, que sempre enfatizava a importância do armamento civil dizendo o seguinte: 'Um povo armado jamais será escravizado'", declarou.
O homem afirmou já ter gasto mais de R$ 160 mil com armamento e disse ter viajado para Brasília em 12 de novembro para participar dos acampamentos antidemocráticos, carregando no bagageiro de uma caminhonete "duas escopetas calibre 12, dois revólveres calibre .357, três pistolas, sendo duas Glocks e uma CZ Shadow, um fuzil Springfield calibre .308, mais de mil munições de diversos calibres e cinco bananas de dinamite".
Ele também declarou não ter licença para ter as dinamites -- compradas por R$ 600 de "um homem do Pará" --, tampouco a guia de transporte para as armas. Contudo, caso fosse parado pela polícia na estrada, ele pretendia acionar o grupo armamentista Pró-Armas para ajudá-lo.
Investigação
O caso é investigado pela Polícia Civil do DF. O delegado-geral da corporação, Robson Cândido, disse que "se esse material adentrasse o Aeroporto de Brasília, próximo a um avião com 200 pessoas, seria uma tragédia aqui dentro de Brasília, jamais vista". Também confirmou que George Washington teria ligação com grupos acampados no QG do Exército e que tinha "o objetivo de chamar a atenção para o movimento a favor do atual presidente Jair Bolsonaro".
O futuro ministro da Justiça, Flávio Dino, classificou os acampamentos de "incubadoras de terroristas" e afirmou que irá propor a criação de "grupos especiais para combate ao terrorismo e ao armamentismo irresponsável". Além disso, Dino disse que os procedimentos para a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) "serão reavaliados, visando ao fortalecimento da segurança", mas que o evento "ocorrerá em paz".
Já o atual titular da pasta, Anderson Torres, afirmou ter oficiado a Polícia Federal para acompanhar a investigação e "adotar as medidas necessárias", mas ressalvou que é "importante aguardarmos as conclusões oficiais para as devidas responsabilizações".
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