Marisqueiras "garimpam ouro" e transformam cascas de mariscos
Sururu vira cobogó em iniciativa de sustentabilidade que faz economia girar em comunidade de Maceió

Luciano Teixeira
Marisco é ouro em uma comunidade litorânea de Maceió (AL). Item precioso que era descartado, deixando ruas sujas e insalubres, transformado em tijolos e reduzindo o impacto ambiental. Para as marisqueiras, uma nova fonte de renda após a ruína durante a pandemia de covid-19.
Maceió é a terceira capital que mais sofre com a fome no país. Em um dos bairros mais vulneráveis da capital alagoana, uma história com soluções inovadoras transformou a vida em comunidade. O pequeno marisco, conhecido como sururu, sai da lama, no fundo da Lagoa do Mundaú, para virar os conhecidos cobogós, tijolos com aberturas de várias formas e desenhos, que permitem a passagem de luz e ar.
Toneladas descartadas viram matéria-prima
O processo de coleta tem nome: "despincar o sururu", e o trabalho é feito essencialmente por mulheres. Joseane dos Santos, marisqueira conhecida na comunidade como "Geléia", é uma delas. "Eu comecei no marisco, foi por precisão mesmo, entrei pela dor, não foi pelo amor, e com isso daqui hoje eu tenho tudo que tenho, foi através disso aqui, do sururu, criei meus filhos, meus netos, tudo com isso aqui", conta.
As mulheres aprendem a atividade desde meninas. Um processo que não é fácil, que deixa as mãos dormentes, entre outras dificuldades.
Antes, apenas o filé do marisco era aproveitado, vendido para restaurantes e mercados. O resto era jogado na rua: a casca se misturava à lama e a animais, cenário totalmente diferente do atual. O cenário insalubre e com riscos à saúde inspirou uma ONG, criada por pessoas da própria comunidade.
A ideia envolveu recolher o material descartado ? mais de oito toneladas -- e transformá-lo nos cobogós. Como a casca é rica em cálcio orgânico, o sururu é secado, até que são transformados na matéria-prima para os tijolos.
Sururote: moeda própria e alimento na mesa
A dinâmica do sururu envolve até moeda social própria: o sururote. É com ele que as marisqueiras da comunidade de Vergel do Lago compram produtos e fazem a economia local girar. As cascas recolhidas são pesadas e convertidas: 28 quilos rendem aproximadamente R$ 14, depois transformados em sururotes.
A moeda é aceita em mercados, lojas e outros segmentos, que estão aderindo progressivamente à ideia. O sururote começou a circular na época da pandemia, em 2021, virando importante moeda de troca na região, seja para a compra de roupas, seja para a compra de todo tipo de alimento. O investimento em formação digital também faz parte do sistema. Bebidas alcóolicas e cigarro, porém, não podem ser comprados com a moeda local.
Um cotidiano de exclusão social foi transformado com ideias simples e focadas no potencial da comunidade, mostrando como a mobilização coletiva pode trazer histórias que são exemplo. Neste caso, de Vergel do Lago para o mundo. Confira abaixo as instituições que você pode ajudar com doações:
Natal sem fome
- https://www.natalsemfome.org.br/
- Doação poder ser feita pelo site
Exército da Salvação
- https://www.exercitodoacoes.org.br/
- Doação pelo site e em pontos de coleta
LBV
- https://www.lbv.org/
- Doação pelo site e em pontos de coleta
Unicef
- https://help.unicef.org/
- Doação poder ser feita pelo site
Cufa - Central Única das Favelas
- https://www.cufa.org.br/
- Doação poder ser feita pelo site
Instituto Mandaver
Amigos do Bem
Ação da Cidadania
Misturaí
Projeto Dividir
Aviva
REVEJA OUTRAS REPORTAGENS DA SÉRIE "SOBRE VIVER":
+ Moradores se unem para combater a fome em comunidades de São Paulo
+ Escola na periferia de São Paulo vira ponto permanente de solidariedade