A saudade de um ídolo chamado Richarlison
Enfim a Copa do Mundo começou para a torcida brasileira
Márcia Dantas
Até ontem não sentia o clima de Copa. Aquele burburinho dos amigos para se encontrar e torcer junto. As ruas perto da minha casa não estavam enfeitadas. Nem parecia o mesmo Brasil de 1994.
Eu tinha 7 anos no Tetra. E esse foi o título que mais me marcou. Lembro bem do meu pai chorando, me abraçando forte no dia da vitória. A família reunida para decorar a vila de casas. O rosto pintado de tinta guache. O suor manchando a pele e a camiseta. Que delícia viver no país do futebol. Saudade disso.
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Ontem saí de casa para trabalhar perto da hora do jogo. Fiquei presa no trânsito infernal de São Paulo. Ouvi o primeiro tempo pelo rádio. E o sentimento de que a copa não tinha a mesma emoção de antes, continuou.
No trabalho, uma redação concentrada e silenciosa. "Cadê a animação, gente?". Reclamei.
Até que começou o segundo tempo. Fui para o camarim, deixei a tv ligada enquanto me arrumava. A cada ataque do Brasil meu coração começou a palpitar. Que loucura.
Quando saiu o primeiro gol? "Foi Vini Jr." Pensei. Não, foi Richarlison! Meu Deus!
A partir daí a maquiadora começou a ficar brava comigo. Não conseguia parar quieta na cadeira.
Na pintura do segundo gol, meu delineador quase foi parar na testa. Pulei tanto. Soltei palavrões. Definitivamente vocês não me conhecem fora da bancada. Do nada eu virei uma torcedora fanática. Me senti com 7 anos de novo. Me deu saudade do meu pai. Saudade de pintar o rosto. De colocar bandeirinha na rua.
Foi então que resolvi ler mais sobre a história de Richarlison. As causas sociais que defende. A luta pela vacina na época da pandemia. O posicionamento contra o racismo. O jeito moleque, meio atrapalhado. Esqueceu o nome da bisavó na entrevista pós-jogo. Gente da gente.
Saudade de ídolos do futebol assim. Com menos ego e mais amor ao próximo. Richarlison não tem pose popstar. É a cara do Brasil. Simplicidade e talento.
Não sou muito entendida do assunto, mas estava com preguiça desse mundo do futebol. Estrelas apenas nos campos, mas personagens fora dele. E não é sobre fama e dinheiro. É sobre não esquecer quem se é.
Mas aí veio Richarlison. Vê-lo jogar dá até um quentinho no peito. Nos sentimos representados de novo. E deu vontade de chamar os amigos para o próximo jogo. Organizar bolão. Decorar a redação.
O pombo, apelido carinhoso do nosso novo ídolo nacional, para mim trouxe uma mensagem que estava adormecida: Somos de novo um país unido, nem que seja pelo futebol.