Início do fim? Polêmicas colocam futuro do MBL em risco
Movimento que cresceu nos atos pelo impeachment de Dilma sofreu impacto de 2 eventos nas últimas semanas

SBT News
Criado em 2014 e participando da política partidária desde 2016, o Movimento Brasil Livre (MBL) sofreu o impacto de duas polêmicas nas últimas semanas, que colocaram seu futuro em risco como nunca antes. A primeira, envolvendo o deputado federal Kim Kataguiri (UNIÃO-SP), e a segunda, ainda maior, o deputado estadual de São Paulo Arthur do Val (sem partido). Em pouco mais de 30 dias, o MBL foi da criação de um "partido-movimento" para a perda de um dos pilares dessa nova fase, apresentada como seu fortalecimento: o pré-candidato ao governo de São Paulo.
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Devido às críticas que recebeu por falas sexistas e preconceituosas contra mulheres ucranianas e brasileiras, incluindo do pré-candidato à Presidência Sergio Moro (Podemos), Arthur do Val se retirou da disputa pelo governo paulista e, depois, saiu do MBL. Agora, ainda, pode ter o mandato cassado por causa das declarações. No caso de Kim, também houve pedido de cassação; ele havia afirmado que a Alemanha não deveria ter criminalizado o nazismo. Para Guilherme Carvalho, mestre em ciência política pela Universidade Federal de Goiás (UFG), essas polêmicas "acabam por ascender ainda mais a insatisfação em relação à prática política do movimento, que por um lado rachou no meio do caminho, porque parte decidiu caminhar com o governo Bolsonaro, e por isso seguiram para outros movimentos e outros partidos".
"É um movimento que não atrai mais tanta capilaridade nas ruas e que enxergava na possibilidade da candidatura de Sergio Moro voltar a ter um diálogo em torno do purismo político, do combate a corrupção, do combate ao sistema. A ideia era mais ou menos essa, a questão é que o Kim Kataguiri pisou na bola, mas ele não foi o principal pivô da pisada na bola então as coisas começaram a dar um arrefecida, mas a fala do Arthur acabou por consolidar o desgaste do movimento e sem dúvida nenhuma eles estão enfrentando talvez a maior crise que o movimento já teve, inclusive com possibilidades até de ser reduzido a um tamanho bem menor do que o do que eles estavam momentos atrás", completou.
O momento atual contrasta com o vivido pelo movimento especialmente entre os anos de 2016 e 2018. De sua fundação até o ano do pleito no qual Jair Bolsonaro (PL) foi eleito presidente, o MBL, diz o especialista, teve grande ascensão, alavancada pelo desgaste com a realização da Copa do Mundo no Brasil, o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e escândalos revelados pelas investigações da Operação Lava Jato. Forte nas redes sociais, o MBL foi um dos principais organizadores de manifestações pela saída de Dilma, em 2015 e 2016, e se consolidou no cenário político, para o que contribuiu a eleição, primeiramente, de vereadores apoiados pelo movimento, como Fernando Holiday (Novo) em São Paulo, e, em 2018, de deputados, como Arthur do Val e Kim. Em 2020, conseguiu eleger vereadores novamente, como Rubinho Nunes (Podemos), em São Paulo, mas, segundo Guilherme, após o ano do último pleito presidencial, o MBL que não acontece perdeu força, principalmente por causa do conflito entre as pautas defendidas pelo grupo e seus opositores.
"Sem dúvida nenhuma o MBL não consegue mais transitar nas redes sociais como transitava antes nem tem pautas de rua para conseguir ser combativo novamente, justamente pela dificuldade, em certo ponto de vista, de ser uma oposição ao governo Bolsonaro e ter bandeiras que foram bandeiras que elegeram o presidente", pontua. Para o cientista político, o MBL passa por "uma crise de identidade", responsável por fazer com que comentários seus, dentro de sua própria base, levam-nos a perder ainda mais apoio. "Então, não é que eles estão com uma base fraca, é que a base que talvez fosse sólida até 2018 a gente não sabe exatamente qual é mais". Para piorar a situação do movimento, acrescenta Guilherme, ele está "sem uma nova pauta, que poderia ser trazida por Sergio Moro". Dessa forma, avalia que "corre sérios riscos de chegar ao fim".
Uma das bandeiras do MBL durante seus primeiros anos, em que ascendeu, era a de ser um movimento suprapartidário de combate à corrupção e contra o sistema político vigente no país, mas, quando seus principais integrantes se filiaram a partidos, se consolidou uma mudança de perspectiva. E o motivo dessa mudança, diz o cientista político, foi a percepção por parte dos líderes "que para lançar os seus candidatos e para estar na política institucional eles teriam de fazer política". "Então eles tiveram de sair das redes sociais e fazer política tradicionalmente como todo mundo faz".
Para o especialista, essas movimentações mostram que os partidos tradicionais seguem dominantes frente a movimentos no país, principalmente com o fortalecimento do centrão e do PT, e trazem o cenário político brasileiro de volta à situação de antes das manifestações de 2013: "A gente entra num estado mais letárgico. Aquele ímpeto meio jacobino de tirar todos, uma coisa meio revolucionária, isso não está mais na pauta, isso não está mais na seara. Pode ser que nós tenhamos novamente protestos daqui ou acolá, mas o fato é que a esquerda não conseguiu pautar protestos de rua de forma abrangente, e a direita não vai para a rua porque a direita está no poder".
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