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Consultores profissionais reclamam da banalização do termo coach

Categoria luta para se mostrar qualificada em meio aos que surfam na onda da profissão ainda não regularizada

Consultores profissionais reclamam da banalização do termo coach
Mulher sorri em frente a homem em escritório
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A recente ida de um grupo de 60 pessoas ao Pico do Marins (SP) em condições adversas, liderada por um coach e que resultou em um resgate de 10 horas feito pelo Corpo de Bombeiros, lançou novamente os holofotes sob o trabalho do consultor, ainda não regularizado no Brasil. Segundo o dicionário, coach é a pessoa que trabalha junto a executivos para alavancar a carreira profissional. Mas atualmente, o termo vai além, abragendo, entre outros, o coach de carreira, vida, nutricional e esportivo.

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Monica Graton, presidente da Associação Brasileira de Profissionais de Coaching (Abrap Coaching), explica que originalmente existem três nichos de coaching: o de vida, o de carreira e o de negócios, mas que ao longo dos anos surgiram segmentos desses temas. A problematização, segundo ela, não está na quantidade de segmentos, mas no nível de profissionalização da pessoa. "A gente entende que para fazer um processo de coach a pessoa precisa ter um mínimo de formação, uma faculdade para depois ela se especializar. E seria como se fosse uma especialização esse coach, né? Mas hoje não é assim que é feito no Brasil. Como em toda a profissão, existem profissionais bons e ruins", afirma. 

Raul Vilela Azevedo tem 50 anos, é formado em engenharia, pós-graduado em administração industrial e atualmente é diretor financeiro de uma empresa. Ele conta que costumava trabalhar na Angola como presidente de uma multinacional e, quando voltou ao Brasil, teve de procurar um novo emprego. Nesse processo, encontrou um coach de profissão por quem foi "100% iludido". "A pessoa que eu falei, que devia ser do marketing, disse que ele iria me levar até as estrelas. Aí esse coach sempre faz um teste para ver quais são suas habilidades, quais são seus skills para poder te colocar no mercado. Eu não vou lembrar qual foi o processo que ele fez para análise, mas ele falou você tem 100% de chance de trabalhar como manicure, cabeleireiro ou dono de casa. Chega a ser engraçado, né? Se minhas habilidades são essas, chega a ser absurda minha carreira. Isso aconteceu há cinco anos, eu tinha 45 anos. Sem desvalorizar idade nem nada, mas você vai falar para um 'macaco velho' o que ele deve fazer? Eu fiquei extremamente chateado. Lembro que na época paguei em torno de US$ 1.000." 

Após um período, Raul conheceu um novo profissional. Mesmo descrente, resolveu dar uma nova chance ao processo. "Eu paguei 10% do valor que eu tinha pago antes e mudou completamente minha vida, entende? Me ensinou a falar o que eu estava pensando, me fez valorizar quem eu sou e hoje não vou falar que sou 100% satisfeito profissionalmente, mas eu sou muito melhor do que eu era antes", comenta. 

Orientação

Rogério Álvares, de 40 anos, não esperava encontrar um coach que faria parte de toda a sua trajetória profissional. Atualmente, ele cursa medicina no Paraguai, mas foi no começo da carreira, quando esperava ser promovido em uma empresa na indústria farmacêutica, que conheceu seu gestor e a pessoa que seria seu futuro consultor. "Eu era estagiário e ele estava até demorando para me promover. Cheguei nele e perguntei o que estava faltando, e ele disse que eu precisava amadurecer um pouco mais meu perfil profissional. Ele me deu umas metas para cumprir e, depois de eu ter cumprido, me promoveu. Ele disse que tinha concluído um curso de master coaching e eu já tinha comentado com ele que precisava de orientação a respeito de desenvolvimento profissional. Ele precisava fazer uns casos pro bono (de graça) e eu fui agraciado", explica. 

O estudante conta que, no começo, não acreditou muito que o processo iria dar certo, pois pensava que era algo "lúdico demais para parecer sério", mas aceitou o convite. Ele tinha de ficar após o horário do expediente, mesmo já tendo trabalhado com o chefe naquele dia, e o encontro acontecia em uma das salas de reunião.

"Ele começou a me perguntar sobre detalhes, porque eu gostaria de fazer e ser em relação a metas e prazos. Falamos sobre sonhos, virtudes e dificuldades em uma análise chamada SWOT (uma ferramenta em que um gráfico é feito para analisar pontos fortes, fracos, oportunidades e fraquezas). Ele deu uma desconstruída na minha história e me mostrou os meus problemas e aí eu comecei a botar credibilidade. Eu falei: 'Cara, isso é certo'. O primeiro impacto foi punkassim que saí de lá vendo que o problema estava em mim. Eu vi como uma terapia profissional. Ele vai te direcionar para alguns locais onde você se sente incomodado com as suas atitudes", afirma. 

Rogério comenta crer que a prática do coach está banalizada, pois muitos se apropriam do título sem ter propriedade: "Existe um monte de palestrantes falando que é coach quando, na verdade, ele joga um monte de técnicas de auto-ajuda ou então de esperança e brilho nos olhos, mas não alimenta isso com tarefas, não pega você de forma particular e profissional, mostra suas falhas momentâneas, mostra onde você aonde você pode chegar como o coach". 

Após anos sendo promovido para vários cargos na área farmacêutica, Rogério decidiu mudar de profissão e seguir na medicina. Ele conta que nunca achou que era capaz de conseguir cursar a faculdade, mas que o processo o ajudou a ter fé em si mesmo. Antes de mudar-se para outro país para frequentar a faculdade, conta que se encontrou com o coach para ser aconselhado. "Tomamos um café e, assim, ele abriu muito meus olhos, porque colocou uma folha sulfite em cima da mesa e deu pra ver que prestou uma consultoria para mim novamente, mostrando rapidamente o jogo de possibilidades", conta. 

Falta de consenso

O que se nota é que ainda há uma divergência entre o que é ético ou não na profissão, de forma que cada um acaba escolhendo seu estilo de trabalhar. Existem pelo menos três mil ferramentas reconhecidas que o coach pode aplicar durante as sessões, mas certos assuntos não são um consenso. Durante todo o percurso do coach Pablo Marçal ao Pico, ele pedia para que Deus movesse o vento para eles poderem subir e mencionava muito a fé que tinha de que o trajeto seria superado. Alguns profissionais, durante cursos e palestras, acabam envolvendo fé e religião no conteúdo. Enquanto alguns profissionais dizem que isso não é aceitável, outros afirmam que ele está falando para a "persona" (público) na qual ele quer atingir. 

Confira abaixo algumas dicas dadas por especialistas para encontrar um bom coach.

Como escolher um bom profissional

1. Indicação: a presidente da Associação explica que o melhor caminho para encontrar um profissional é via indicação de conhecidos, familiares e amigos. De acordo com a experiência deles é possível entender se houve um direcionamento sério e profissional.

2. Redes sociais: é possível entender por quais cursos e profissionalizações a pessoa passou através de redes sociais de trabalho, como o LinkedIn.

3. Instituição especializada: o site da Federação Internacional de Coaching lista profissionais certificados segmentados por tema, horas de qualificação e etc.

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