Bolsonaro é "descomprometido com temas climáticos", diz Marina Silva
Ex-ministra do Meio Ambiente comentou demissão do coordenador do Fórum de Mudanças do Clima, Oswaldo Lucon
A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede Sustentabilidade) creditou o pedido de demissão de Oswaldo Lucon do cargo de coordenador executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças do Clima à falta de espaços para participação popular no governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em nota enviada ao SBT News, a ex-senadora diz que tais espaços foram "negligenciados ou extintos" e que o chefe do Executivo é "desinteressado e descomprometido com os temas climáticos".
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"O pedido de demissão do cargo de Coordenador do Fórum Brasileiro de Mudança do Clima por Oswaldo dos Santos Lucon, pesquisador da área de energia e membro do IPCC, pode ter como uma de suas principais causas a completa falta de participação da sociedade nos processos decisórios do governo Bolsonaro. Aliás, foram negligenciados ou extintos todos os espaços de participação da sociedade no governo, por meio de Decreto do 'revogaço', no início da gestão", disse Marina Silva, fazendo referência à extinção de colegiados pelo presidente em abril de 2019.
A ex-ministra, que disputou a Presidência da República nas eleições de 2010, 2014 e 2018, lembrou a declaração de Lucon de que nunca teria encontrado Bolsonaro pessoalmente: "Com certeza esse fato torna muito difícil fazer assessoria para um assessorado ausente, desinteressado e descomprometido com os temas climáticos.
Criado por decreto em 2000, na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), e reestruturado em 2017, no governo Michel Temer (MDB), o Fórum Brasileiro de Mudança do Clima tem por função assessorar o presidente da República nas questões climáticas. Presidido pelo próprio chefe do Executivo, o colegiado é composto ainda -- entre outros -- por ministros, dirigentes de agências reguladoras, governadores, prefeitos de capitais e representantes da sociedade civil. Lucon assumiu o cargo de coordenador executivo em maio de 2019. No período, contudo, ele afirmou nunca ter se reunido com o presidente Jair Bolsonaro.
As declarações da ex-senadora vão ao encontro do que disse o ambientalista e ex-deputado Fabio Feldmann, primeiro a ocupar o cargo de coordenador executivo do Fórum, de 2001 a 2003. Também ao SBT News, ele considerou que a saída de Lucon representa a morte na prática do colegiado.
Marina Silva, aliás, elogiou o trabalho de Feldmann e dos outros ex-coordenadores do Fórum. "Como órgão de assessoramento ao Presidente da República nas questões de clima, o Fórum reúne grande parte da inteligência acadêmica e tecnológica do país e se coloca a serviço do Chefe da Nação. No cargo de Coordenador já estiveram pessoas como o ex-deputado federal Fabio Feldman e o ex-deputado federal Alfredo Sirkis, duas referências do ambientalismo brasileiro, com interlocução internacional e também o físico Luiz Pinguelli Rosa", pontuou.
Oswaldo Lucon pediu demissão do cargo na noite de 3ª feira (2.nov), em meio à Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26). Ele afirmou esperar que a decisão ajude a chamar a atenção da sociedade para o colegiado: "Eu achei importante para que o Fórum Brasileiro seja reconhecido. A sociedade brasileira não sabe da existência do Fórum. Como eu não consegui promover reuniões aqui [em Glasgow, onde é realizada a COP26], acho que esse gesto dá uma sobrevida ao Fórum sem a minha presença".