Pauta dos atos de 12 de setembro foi "confusa", diz cientista político
Pablo Holmes, professor da UnB, explica que manifestações mostraram oposição desunida
Em entrevista ao Agenda do Poder desta 2ª feira (13.set), o cientista político Pablo Holmes afirmou que atos do dia 12 de setembro tiveram pauta "confusa". Segundo ele, os protestos revelaram desunião entre o público anti-bolsonaro, uma vez que a agenda das eleições ganhou protagonismo no lugar da discussão inicial, o impeachment do chefe do Executivo.
"Se o objetivo é usar a rejeição do governo Bolsonaro para pressionar para um impeachment, a pauta não deveria ser a eleição, e sim a figura do presidente e o que aconteceu na semana passada, as ameaças à democracia e às instituições. Se a pauta vira uma pauta eleitoral, é tudo aquilo que desune a oposição", explicou o especialista.
Organizados pelo Movimento Brasil Livre (MBL) e pelo Movimento Vem Pra Rua, atos contra o governo foram realizados no domingo (12.set) em pelo menos 17 capitais brasileiras. Alguns adeptos divulgaram o slogan "Nem Lula, nem Bolsonaro" e pediam uma 3ª via para as eleições de 2022.
"O que me pareceu nas manifestações de ontem é que o MBL usou muito o antipetismo, muito indragado e atraído pelo bolsonarista", afirmou Homes. "Ao mesmo tempo, é difícil fazer atos contra o presidente sem levar em conta a agenda eleitoral e, por isso, a gente tem essa desunião nesse campo entre centro-direita, centro-esquerda e esquerda, que não consegue se entender para fazer oposição ao governo Bolsonaro", ponderou.
Tensão entre Poderes
O cientista político falou também sobre a crise institucional estabelecida entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e os demais Poderes. Nas últimas semanas, Bolsonaro desferiu sucessivos ataques e ameaças ao Supremo Tribunal Federal (STF)
"Não é a primeira vez que ele [Bolsonaro] cria uma crise institucional séria e depois diz que 'não disse nada, não foi bem assim, falei no calor do momento'. Ele volta atrás porque vê que não tem força e condições para prosseguir numa agenda de destruição das outras instituições. Ele nunca negou isso", afirmou Holmes.
Segundo o especialista, a principal consequência é que, a cada atitude controversa do chefe do Executivo, há mais desgaste da institucionalidade e das condições das quais a democracia depende para funcionar.
"Quando o Bolsonaro comete esse tipo de ato, já configura em vários sentidos como crime de responsabilidade. Ele diz que não foi por mal e nada acontece. Só que, nesse processo há uma erosão na confiança das instituições. A gente já naturalizou um pouco a possibilidade de que o STF seja fechado, de que a gente tenha um golpe militar, e isso não é saudável para nenhuma democracia", pontuou.
"Me parece que a gente tem um cenário no qual todos querem a paz e Bolsonaro, embora não queira, é forçado a entregar um pouco de estabilidade até que ele se sinta novamente fortalecido e volte a fazer a mesma coisa que vem fazendo desde 2019. O risco de acontecer novamente não é pequeno", completou Holmes.