Saiba os efeitos das mudanças climáticas no Brasil e como reduzir danos
Secas devem ser maiores e incêndios mais frequentes. Para especialistas, há impactos que são irreversíveis

SBT News
Calor extremo em regiões da América do Norte, enchentes consecutivas em países da Europa à China, registro de temperaturas abaixo de zero e neve em cidades da América do Sul. Esses são alguns dos resultados já causados pelo aquecimento global em 2021, e que ainda podem piorar nos próximos anos, inclusive com severos efeitos no Brasil, segundo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), órgão pertencente à Organização das Nações Unidas (ONU).
Para a especialista em política climática do Observatório do Clima, Stela Herschmann, a interferência do homem é inquestionável. "Pela primeira vez colocamos como um fato, sem sombra de dúvidas, que o homem está interferindo no equilíbrio climático da Terra e está causando as mudanças climáticas que estamos observando."
"A gente já observa o 1,9ºC de aumento de temperatura comparado aos níveis pré-industriais. Deste, o homem provavelmente teria sido responsável por 1,7ºC em virtude da queima de combustíveis fósseis, desmatamento e outras atividades que emitem gases de efeito estufa", explica Herschmann. "Isso significa que cerca de 98% do aquecimento que vemos hoje na atmosfera está ligado diretamente à atividade humana", completa.
Apenas nos últimos meses, regiões como Califórnia, Grécia, Itália e Argélia registraram, e continuam registrando, diversos focos de incêndios florestais. No começo de julho, no Canadá, mais de 500 pessoas morreram por conta da forte onda de calor que atingiu o país.
Ao mesmo tempo, cidades sofreram com enchentes e deslizamentos de terras devido às fortes chuvas em países como Índia, China, Alemanha, Bélgica e Coreia do Sul. "Todos esses eventos extremos são uma consequência que estamos vivendo em razão das emissões que foram feitas e acumuladas no passado", diz Herschmann.
Após a divulgação do relatório, o secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que as conclusões são um alerta vermelho para todo o mundo e afirmou que "os países devem acabar com novas explorações e produção de combustíveis fósseis, transferindo os recursos para a energia renovável".
Previsão para o Brasil
De acordo com as conclusões dos pesquisadores, o Nordeste brasileiro deve sofrer um crescimento na duração das secas, assim como o norte da Amazônia e o Centro-Oeste. Com isso, os incêndios florestais podem ocorrer com maior frequência, reduzindo as chuvas e aumentando as temperaturas locais, além de colocar em risco a vegetação remanescente e a produção de alimentos.

Durante o mês de julho, o Inpe Queimadas registrou 4.977 focos de calor no bioma Amazônia -- todas ilegais. Somente no primeiro trimestre deste ano, o acumulado de alertas de desmatamento foi de 8.712 km², a segunda maior cifra da série iniciada em 2016, perdendo apenas para 2020, quando foram contabilizados 9.216 km².
A Coordenadora de Clima e Justiça do Greenpeace Brasil, Fabiana Alves, relembra que o Brasil é o sétimo país que mais emite gás de efeito estufa no mundo, ficando atrás apenas da China, Estados Unidos, União Europeia, Índia, Indonésia e Rússia. "Reverter a crise do clima a gente não reverte mais, mas o Brasil precisa dar uma reposta ao mundo para ajudar a conter o aquecimento global", ressalta.
Para Fabiana, o desmatamento das florestas brasileiras é algo que precisa ser resolvido imediatamente, porque além de criar um conflito de terra e prejudicar os povos que habitam as regiões que estão sendo devastadas, impacta diretamente na crise climática. "Você deixar a floresta em pé e fazer algum tipo de desenvolvimento sustentável contribui não apenas para quem mora no território, mas também para quem mora em outros lugares do Brasil e do mundo."

Além disso, segundo o relatório, é extremamente provável que o aumento do nível do mar continue nos oceanos ao redor da América do Sul, o que pode afetar o Brasil -- uma vez que o país possui uma das maiores zonas costeiras da região --, provocando o aumento de inundações costeiras em áreas baixas e o recuo da costa ao longo da maioria das costas arenosas.
Impactos futuros ao redor do mundo
- Inundações: as mudanças climáticas estão intensificando o ciclo da água. Embora a evaporação leve a mais secas, o ar mais quente pode reter mais vapor da água para produzir chuvas mais intensas em determinadas regiões.
- Furacões: os furacões estão ficando mais fortes e produzindo mais chuva à medida que as temperaturas globais aumentam. Já foi observado que, globalmente, um percentual maior de tempestades está atingindo as categorias mais altas (3, 4 e 5) nas últimas décadas.
- Ondas de calor: ondas de calor extremo que antes só ocorriam a cada 50 anos agora devem ocorrer uma vez por década por causa do aquecimento global. Caso o mundo se torne 4ºC mais quente, como pode acontecer em uma situação de grandes emissões de gases na atmosfera, estas ondas de calor aconteceriam a cada um ou dois anos.
- Secas: a mudança climática está aumentando a frequência e a gravidade das secas. Caso o aquecimento continue, as secas podem ocorrer até três vezes mais do que ocorrem atualmente.
- Oceanos: o nível global dos oceanos aumentou cerca de 20 cm desde 1900, e a taxa de elevação praticamente triplicou na última década. Se as temperaturas globais aumentarem 2°C, o nível dos oceanos aumentará cerca de meio metro no século 21 devido ao derretimento das calotas de gelo.
O que ainda pode ser feito?
Gases como dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4) são os principais influenciadores para a intensificação do efeito estufa na atmosfera da Terra. Por isso, é primordial que a emissão desses gases -- oriunda de indústrias, agropecuárias e queima de combustíveis -- sejam diminuídas ao máximo.
Para auxiliar nesse processo, a preservação das florestas é essencial, já que as árvores retiram o dióxido de carbono do ar ao fazerem fotossíntese, diminuindo a concentração dos gases na atmosfera. De acordo com um estudo realizado pela Universidade de São Paulo em parceria com a Fundação SOS Mata Atlântica, é estimado que cada árvore da Mata Atlântica absorva 163,14 kg de gás carbônico ao longo de seus primeiros 20 anos.
No entanto, mesmo reduzindo as emissões de forma forte e sustentada agora, algumas consequências são irreversíveis. Espera-se que por volta de 2030 a temperatura média do planeta seja 1,5°C ou 1,6°C mais quente que a dos níveis da era pré-industrial, uma década antes do previsto pelo IPCC.
Além disso, devido ao aquecimento que já vem ocorrendo, os mantos de gelo continuarão derretendo por centenas a milhares de anos, o que fará com que o nível do mar suba e permaneça mais alto por muito tempo no futuro. Segundo o estudo, é previsto um aumento de dois a três metros em 2300, mesmo se o aquecimento for mantido abaixo de dois graus. Caso o aquecimento permaneça, o nível pode aumentar de 5 a 7 metros.