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Na estrada para o Planalto, Eduardo Leite dispara estratégia eleitoral

Governador gaúcho, que se declarou gay nesta semana, viaja pelo país em busca de apoio do centro

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Eduardo Leite
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A agenda de finais de semana do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, está lotada. E não é de hoje. Nas últimas semanas, esteve no Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. Neste sábado (3.mai), ele tem encontros no Paraná, e, no domingo, estará em Brasília. Na capital federal, o tucano vai visitar projeto social na periferia.

Leite quer ficar conhecido nacionalmente e está em busca de apoio interno no PSDB para conseguir vencer as prévias do partido, marcadas para 21 de novembro. O plano: disputar a presidência da República. O adversário dele, internamente, é o governador de São Paulo, João Doria. O tucano paulista sempre foi tido como um nome mais forte por ser mais conhecido nacionalmente e governar o maior Estado do Brasil.

Mas a disputa interna começou a mudar depois de 5ª feira (1º.mai). Leite, em entrevista ao jornalista Pedro Bial, na TV Globo, disse ser gay. Em poucas horas, o nome do governador gaúcho passou a ser o mais procurado nas redes, pelo menos entre os políticos. O anúncio chegou a quatro meses das prévias tucanas, tempo ainda suficiente para ganhar força na disputa com Doria.

Elogiado pela coragem de assumir a sexualidade, o advogado conseguiu agregar valor à própria revelação também na corrida pelo Planalto. A revelação levou Leite a um novo patamar político e ampliou o apoio de políticos do centro. Um correligionário gaúcho disse que agora "o Eduardo será conhecido pela dona Maria, que mora no interior da Bahia".

Reduto tucano

Além do PSDB e do Cidadania, discutem a viabilidade de um nome único ao Planalto integrantes do MDB, do PV, do Solidariedade, do Podemos e do DEM. No entanto, políticos ainda evitam falar em favorito, principalmente no reduto tucano. A expectativa pelo representante do caminho do meio é que seja oficialmente lançado a seis meses das eleições, no início da pré-campanha. Até lá, dirigentes testarão escolhidos.

A primeira reação dos partidos que apostam em uma terceira via foi do Cidadania, sigla que anunciou apoio ao apresentador Luciano Huck, quando ainda não havia desistido de se lançar candidato. O presidente do partido Roberto Freire elogiou os atuais movimentos do tucano. "Não há a menor dúvida que ele fortaleceu a própria candidatura com esse gesto, principalmente diante do discurso homofóbico de Jair Bolsonaro", disse.

A especulação de que o anúncio na entrevista da Globo tenha sido planejado a partir de uma estratégia eleitoral não se sustenta, segundo os auxiliares mais próximos. Antes de fazer a revelação, Leite não antecipou a decisão nem para os mais próximos da equipe. O vice-governador do Estado, delegado Ranolfo Vieira Júnior, ficou sabendo pela imprensa.

Ranolfo recebeu uma ligação de Eduardo Leite, às 22h de 5ª feira, quando o trecho da entrevista com Leite assumindo que é gay já havia sido divulgado. Pelo telefone, o governador justificou ao vice que a agenda corrida impediu que ele informasse, em primeira mão, a Ranolfo. Em março deste ano, o vice-governador saiu em defesa de Leite quando Roberto Jefferson, presidente nacional do PTB, sigla do vice-governador, chamou Leite de "viado" ao comentar as medidas restritivas impostas pelo governo gaúcho para combater a pandemia. Leite processou Roberto Jefferson e agora o vice-governador e deputados trabalhistas devem deixar a sigla e não descartam migrar para o PSDB.

Incômodo petista

A negociação de Leite não se resume à disputa interna na sigla. Nos bastidores, ocorre uma aproximação entre tucanos e emedebistas. Alguns citam a dobradinha Leite e a senadora Simone Tebet (MDB-MS) como uma chapa que pode viabilizar a terceira via para enfrentar a polarização Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. A visibilidade de Leite nas últimas horas incomodou os petistas, a ponto de o partido soltar os defensores mais agressivos nas redes para lembrar um fato prosaico: Leite declarou apoio a Bolsonaro em 2018.

Em uma entrevista no último 24 de junho, Leite disse ao SBT News que tinha pautas em comum com Huck. Mas que ainda era cedo para saber quem absorveria as intenções de voto do apresentador. Especialistas, contudo, divergem sobre a capacidade do tucano de conquistar o eleitorado da direita e avançar nas periferias. Ele terá que enfrentar alguns desafios, como a falta de notoriedade por ser do Rio Grande do Sul e fugir da rota Rio-São Paulo; o discurso de Centro, alheio à polarização; e a busca de arrebatar o eleitorado de estados mais pobres, como o Norte e Nordeste, tradicionalmente redutos petistas.  

Segundo o líder do PV na Câmara, Enrico Misasi (SP), "não há dúvidas" de que o nome de Leite tem potencial para avançar na corrida pelo Planalto. No entanto, o problema é prévio, como um projeto conceitual que acolha a todas as demandas partidárias e, principalmente, que consiga abrir mão eventualmente da candidatura, para não dividir votos da terceira via, avaliou o deputado. Esse nome, contudo, deverá chegar apenas no ano que vem. "Eventual aglutinação será mais próxima da eleição", completou. 

O líder tucano, deputado Rodrigo de Castro (MG), defendeu a qualidade política do governador e reforçou que a definição do pré-candidato em novembro vai travar um diálogo com outras forças para uma convergência nacional. Questionado se o PSDB poderia abrir mão da cabeça de chapa para outro partido menos tradicional, o parlamentar disse que a sigla tem "humildade" para ceder. A legenda lança nomes às eleições presidenciais há mais de 30 anos. 

Terceira via

Na avaliação de Geraldo Tadeu, coordenador do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas sobre a Democracia (Cebrad) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), o nome da terceira via tem que ocupar os espaços esvaziados tanto por Bolsonaro quanto por Lula. Além de conseguir tração dos eleitores que rejeitam os dois nomes. 

Leite tem força, segunda Tadeu, para conseguir vencer a disputa interna do PSDB. Mas o cenário muda no âmbito nacional. "É uma questão de oferta e demanda. Em 2020, saíram vitoriosos candidatos de centro. Mas a eleição local tem outro perfil, não dá para tirar conclusão. O fato é que a polarização estimula os dois lados: nas pesquisas, Lula tem cerca de 40%, Bolsonaro tem aproximadamente 30%. O que resta do centro está dividido entre esses candidatos."

A distribuição dos votos lança luzes para o nome único da frente ampla. O escolhido terá que responder a três pilares, avaliou o especialista: as crises democrática, econômica e sanitária. "Esses são os três grandes temas da agenda de agora. A economia está em frangalhos, famílias endividadas. Esse candidato vai ter que dizer o que fazer para a recuperação e, talvez, ainda o combate à covid. Essa é a atual conjuntura, mas até 2022, de fato, tudo pode mudar".

Para Tadeu, o problema da frente ampla é que "ao mesmo tempo que ela reúne, ela dificulta", por ter que reunir interesses distintos. Assim como ele, o especialista em marketing político, Marcelo Vitorino, lembra que também é preciso um elemento polarizador, que seria um "radical de centro". "Parece confuso, mas não é. A polarização, nesse caso, é de ideia. Tem que ser incisivo, mas fugir dos extremos", disse.

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