Jornalismo
Ataques às urnas em 2020 serão aprimorados em 2022, diz especialista
Nas eleições municipais, segundo revelou o SBT News, o primeiro caso de notícias falsas identificado pelo TSE atacava o sistema eleitoral brasileiro
Gabriela Vinhal
• Atualizado em
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Assim como as eleições de 2018, o pleito municipal também foi bombardeado de notícias falsas. Mas os alvos não foram apenas os candidatos a prefeitos e a vereadores: o próprio sistema eleitoral brasileiro foi atacado. A expectativa é que, na disputa presidencial de 2022, o disparo de "fake news" seja aprimorado e novas técnicas de combate terão de ser pensadas. É o que aponta o juiz Paulo Brasil Menezes, autor do livro "Fake News: Modernidade, Metodologia e Regulação".
Conforme o SBT News mostrou, o primeiro caso de "fake news" detectado por um grupo de inteligência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi um ataque coordenado às urnas eletrônicas. Uma das postagens as quais a reportagem teve acesso relaciona as eleições ao período prévio e posterior ao fim do voto impresso. A estratégia adotada para o combate à divulgação do conteúdo fraudulento, segundo a Justiça Eleitoral, foi equivalente às ferramentas utilizadas há dois anos.
Para Menezes, a força-tarefa de combate às notícias falsas têm de partir não apenas do TSE, mas da sociedade civil e dos parlamentares. "A conscientização da sociedade tem surtido efeito, o que de certa forma tem feio uma boa relação com as eleições de agora. Mas é claro, os problemas são grandes, complexos, que vão angariar novas formas para os pleitos. Ao mesmo tempo que exige das autoridades públicas outras formas de fazer campanhas contra a desinformação", pondera.
O magistrado afirma que as eleições de 2022 receberão ataques aprimorados e em maior escala em decorrência do avanço tecnológico. A fim de mitigar os impactos das futuras novidades nas redes sociais, explica o magistrado, o TSE terá que acompanhar a "metamorfose" na proliferação das fake news, que tendem a se expandir com o "ecossistema do discurso online" sempre em transformação.
Na última 6ª feira (13.nov), o presidente da Corte Eleitoral avaliou que houve uma redução no compartilhamento de notícias falsas durante as eleições deste ano em comparação às eleições anteriores. Contudo, o magistrado afirmou que só poderia haver "comemoração" no fim do processo eleitoral.
Leia a entrevista completa:
O senhor avalia que os ataques às urnas eletrônicas feitos nestas eleições são uma espécie de "prévia" para 2022?
Paulo Brasil Menezes: O problema das fake news é que foi algo que apareceu na nossa democracia contemporânea com mais volume com a eleição de Donald Trump e com a relação do Reino Unido com a União Europeia e o Brexit. Percebe-se que não é algo novo, porém com escoamento fácil nas mídias sociais. Essa parte do uso da tecnologia se torna um potencial precursor. Vemos agora no TSE, junto com a presidência de Luís Roberto Barroso, que tem feito um belo trabalho, intitulou uma campanha chamada "Se for fake news, não transmita". Já é uma colaboração de mais de 40 pessoas, jurídicos, políticos, empresas relacionadas a fact checking. Esse papel de conscientização da sociedade tem melhorado bastante, o que de certa forma tem feito uma boa relação com as eleições de agora. Mas é claro, os problemas são grandes, complexos, que vão angariar novas formas para os pleitos, ao mesmo tempo que exige das autoridades públicas novas formas de campanha para que em 2022 seja melhor verificado e ampliado para todos nós.
Em 2022, o TSE então terá que usar novas ferramentas para blindar a democracia das fake news?
Novas ferramentas vão ser procuradas, porque a quantidade de fake news vai aumentando com o tempo, assim como a forma de expandir essas notícias falsas no ecossistema do discurso online que vivemos, nosso habitat cibernético. Elas vão se transformando. À medida em que ocorre a metamorfose na proliferação das notícias falsas, também deve ocorrer uma alteração e aprimoramento na forma de combatê-las.
E como a Justiça Eleitoral fará isso?
O problema das fake news, por ser um paradoxo, por envolver multi setores da sociedade traz muitas comportas para se contingenciar esses efeitos deletérios. Essas comportas, funcionalidades, perpassam por vários atores, perpassam pela Justiça Eleitoral, que tem um ótimo e seguro sistema de urna eletrônica. Mas o sistema não se resume só ao tecnológico, mas a todo o aparato de organização do pré-eleitoral, que ocorre muito antes da data que o eleitor vai às urnas escolher seus representantes. Além disso, o papel para defesa da informação e o combate da desinformação não é só do Judiciário, é do Poder Legislativo, do Poder Executivo, é da própria mídia, do jornalismo, e da sociedade civil organizada. Cada um tem seu papel na defesa da informação.
Como identificar uma notícia falsa?
As fake news geralmente são informais, dinâmicas e flexíveis para prenderem a atenção do receptor da mensagem - não necessariamente em quantidade de curtidas, mas no pouco tempo que se verifica notícia. Existem várias nuances, essas notícias são determinadas. Quem elabora uma notícia falsa sabe o objetivo que quer atingir. Mas a indeterminabilidade da quantidade de pessoas de usuários que vai captar essa notícia passa a ser uma verdade. Coloca-se em um ecossistema virtual uma notícia em que o objetivo já está determinado, que é segregar e criar ilhas e porções da sociedade. Mas a quantidade de pessoas atingida é inimaginável por um momento.
Por que as notícias falsas trazem tanto convencimento?
Paulo: É a emocionalidade. As notícias falsas, elas trabalham com a emoção. Ela causa emoção e perplexidade na sociedade, porque via de regra as notícias boas, por exemplo, não costumam ter a mesma veiculação de notícias que trazem instabilidades ou desastres. Quanto mais emoção tiver e negativa tiver, mais disseminação ela terá.
Conforme o SBT News mostrou, o primeiro caso de "fake news" detectado por um grupo de inteligência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi um ataque coordenado às urnas eletrônicas. Uma das postagens as quais a reportagem teve acesso relaciona as eleições ao período prévio e posterior ao fim do voto impresso. A estratégia adotada para o combate à divulgação do conteúdo fraudulento, segundo a Justiça Eleitoral, foi equivalente às ferramentas utilizadas há dois anos.
Para Menezes, a força-tarefa de combate às notícias falsas têm de partir não apenas do TSE, mas da sociedade civil e dos parlamentares. "A conscientização da sociedade tem surtido efeito, o que de certa forma tem feio uma boa relação com as eleições de agora. Mas é claro, os problemas são grandes, complexos, que vão angariar novas formas para os pleitos. Ao mesmo tempo que exige das autoridades públicas outras formas de fazer campanhas contra a desinformação", pondera.
O magistrado afirma que as eleições de 2022 receberão ataques aprimorados e em maior escala em decorrência do avanço tecnológico. A fim de mitigar os impactos das futuras novidades nas redes sociais, explica o magistrado, o TSE terá que acompanhar a "metamorfose" na proliferação das fake news, que tendem a se expandir com o "ecossistema do discurso online" sempre em transformação.
Na última 6ª feira (13.nov), o presidente da Corte Eleitoral avaliou que houve uma redução no compartilhamento de notícias falsas durante as eleições deste ano em comparação às eleições anteriores. Contudo, o magistrado afirmou que só poderia haver "comemoração" no fim do processo eleitoral.
Leia a entrevista completa:
O senhor avalia que os ataques às urnas eletrônicas feitos nestas eleições são uma espécie de "prévia" para 2022?
Paulo Brasil Menezes: O problema das fake news é que foi algo que apareceu na nossa democracia contemporânea com mais volume com a eleição de Donald Trump e com a relação do Reino Unido com a União Europeia e o Brexit. Percebe-se que não é algo novo, porém com escoamento fácil nas mídias sociais. Essa parte do uso da tecnologia se torna um potencial precursor. Vemos agora no TSE, junto com a presidência de Luís Roberto Barroso, que tem feito um belo trabalho, intitulou uma campanha chamada "Se for fake news, não transmita". Já é uma colaboração de mais de 40 pessoas, jurídicos, políticos, empresas relacionadas a fact checking. Esse papel de conscientização da sociedade tem melhorado bastante, o que de certa forma tem feito uma boa relação com as eleições de agora. Mas é claro, os problemas são grandes, complexos, que vão angariar novas formas para os pleitos, ao mesmo tempo que exige das autoridades públicas novas formas de campanha para que em 2022 seja melhor verificado e ampliado para todos nós.
Em 2022, o TSE então terá que usar novas ferramentas para blindar a democracia das fake news?
Novas ferramentas vão ser procuradas, porque a quantidade de fake news vai aumentando com o tempo, assim como a forma de expandir essas notícias falsas no ecossistema do discurso online que vivemos, nosso habitat cibernético. Elas vão se transformando. À medida em que ocorre a metamorfose na proliferação das notícias falsas, também deve ocorrer uma alteração e aprimoramento na forma de combatê-las.
E como a Justiça Eleitoral fará isso?
O problema das fake news, por ser um paradoxo, por envolver multi setores da sociedade traz muitas comportas para se contingenciar esses efeitos deletérios. Essas comportas, funcionalidades, perpassam por vários atores, perpassam pela Justiça Eleitoral, que tem um ótimo e seguro sistema de urna eletrônica. Mas o sistema não se resume só ao tecnológico, mas a todo o aparato de organização do pré-eleitoral, que ocorre muito antes da data que o eleitor vai às urnas escolher seus representantes. Além disso, o papel para defesa da informação e o combate da desinformação não é só do Judiciário, é do Poder Legislativo, do Poder Executivo, é da própria mídia, do jornalismo, e da sociedade civil organizada. Cada um tem seu papel na defesa da informação.
Como identificar uma notícia falsa?
As fake news geralmente são informais, dinâmicas e flexíveis para prenderem a atenção do receptor da mensagem - não necessariamente em quantidade de curtidas, mas no pouco tempo que se verifica notícia. Existem várias nuances, essas notícias são determinadas. Quem elabora uma notícia falsa sabe o objetivo que quer atingir. Mas a indeterminabilidade da quantidade de pessoas de usuários que vai captar essa notícia passa a ser uma verdade. Coloca-se em um ecossistema virtual uma notícia em que o objetivo já está determinado, que é segregar e criar ilhas e porções da sociedade. Mas a quantidade de pessoas atingida é inimaginável por um momento.
Por que as notícias falsas trazem tanto convencimento?
Paulo: É a emocionalidade. As notícias falsas, elas trabalham com a emoção. Ela causa emoção e perplexidade na sociedade, porque via de regra as notícias boas, por exemplo, não costumam ter a mesma veiculação de notícias que trazem instabilidades ou desastres. Quanto mais emoção tiver e negativa tiver, mais disseminação ela terá.
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