Discurso de nós contra eles pode ser perigoso para Lula nas eleições de 2026, diz especialista
Leandro Consentino avalia que narrativa do PT que associa o governo aos pobres e o ajuste fiscal aos ricos já não tem mais força entre a população
Jessica Cardoso
O cientista político e professor do Insper Leandro Consentino avalia que o discurso de enfrentamento entre ricos e pobres, usado pelo Partido dos Trabalhadores (PT), pode não surtir mais efeito eleitoral e até se voltar contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições de 2026.
"Em todas as eleições, o Partido dos Trabalhadores do presidente Lula sempre insistiu nesse conflito. Essa não é exatamente uma novidade que a gente está assistindo. O que acontece nesse momento é que talvez a sociedade esteja cansada desse discurso sem que ele resulte de fato em uma queda real da desigualdade", afirmou Consentino em entrevista ao programa Poder Expresso, do SBT News, nesta segunda-feira (30).
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Para o cientista político, a narrativa se tornou “mal-empregada” porque a sociedade já não acredita mais que somente gastar mais dinheiro público seja a solução para os problemas dos mais pobres.
Ao mesmo tempo, segundo ele, o discurso de que quem fala em ajuste de contas públicas é “um representante dos ricos do mercado que só vê o mal das pessoas mais pobres” perdeu força. “Me parece que já não cola mais tanto essa divisão”, afirmou.
Consentino também avalia que o PT "muitas vezes cai na armadilha" de apresentar o ajuste fiscal como algo que prejudica os mais pobres, quando, para ele, a responsabilidade com as contas públicas beneficia toda a população. “Um governo com responsabilidade fiscal é um governo que atende a todos, principalmente os mais vulneráveis”, afirmou.
O especialista disse ainda que, embora o governo insista no discurso de taxar os super-ricos, essa pauta esbarra no Congresso Nacional e dificilmente avança sem articulação política.
“Você pode criar uma grande narrativa, fazer uma bela campanha, usar um vídeo de inteligência artificial, e pouco vai resultar em ações efetivas. As pessoas estão cansadas de discurso e pouca ação”, afirmou.