Porto de Santos concentra quase 40% da cocaína apreendida pela Receita Federal no Brasil
Maior terminal da América do Sul, o porto virou alvo constante de facções que se aproveitam fluxo intenso para enviar droga à Europa e à África

Juliana Tourinho
Conhecida pelas praias, pelo clima tranquilo e pela qualidade de vida, Santos, no litoral paulista, também ocupa, atualmente, um lugar estratégico em um dos maiores desafios da segurança pública internacional: o tráfico de drogas. Segundo dados da Receita Federal, quase 40% de toda a cocaína apreendida pel a Receita Federal no Brasil estava no Porto de Santos, o maior do hemisfério Sul.
A cidade tem cerca de 430 mil habitantes e uma rotina marcada pelo turismo e pelo comércio. Mas, por trás do cenário de tranquilidade, está uma das principais portas de saída da cocaína produzida nos países andinos — Bolívia, Colômbia e Peru — com destino à Europa e à África.
Somente em 2025, a Receita Federal apreendeu 7 toneladas de cocaína no Porto de Santos — quase duas toneladas a mais do que em 2024, quando foram 5,2 toneladas, o que representou 37% de toda a droga interceptada no país naquele ano.
Todos os dias, cerca de 12 mil contêineres passam pelo porto. No meio desse volume gigantesco de cargas legais, o desafio dos agentes é identificar pequenas pistas que possam indicar a presença de entorpecentes escondidos.
Segundo Richard Neubarth, delegado da Alfândega de Santos, o trabalho depende de tecnologia e cruzamento de dados. A Receita utiliza ferramentas de gerenciamento de risco que analisam imagens dos contêineres, rotas, tipo de mercadoria, exportador e informações de outras aduanas internacionais para decidir quais cargas devem ser abertas e inspecionadas.
Além dos scanners de alta precisão e dos sistemas de videomonitoramento, um dos principais aliados no combate ao tráfico são os cães farejadores.
De acordo com Ivan Brasilico, chefe da Divisão de Repressão da Receita Federal, os animais passam por até um ano de treinamento especializado em um centro nacional e depois atuam por até sete anos em portos e aeroportos.
Cobiçado por facções
Mesmo com toda a estrutura de segurança, o Porto de Santos continua sendo um ponto cobiçado pelas facções criminosas.
A socióloga Isabela Viana Pinho explica que a Baixada Santista historicamente é área de atuação do PCC e que o enorme fluxo de exportações facilita a infiltração da droga entre cargas legais.
O cenário internacional também agrava o problema. Dados da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que, em 2023, a produção mundial de cocaína atingiu um recorde histórico, com mais de 3.700 toneladas, um crescimento de 34% em apenas um ano.
Segundo especialistas, o aumento da produção nos países andinos vem acompanhado de uma expansão do consumo na Europa, o que mantém o Brasil — e especialmente o Porto de Santos — no centro das rotas do tráfico global.
Enquanto isso, autoridades brasileiras seguem em uma corrida permanente contra organizações criminosas que tentam transformar o maior porto da América do Sul em uma das principais portas de saída da droga que abastece o mundo.









