Restrição de Israel à ajuda para Gaza pode equivaler a crime de guerra, diz ONU
Organização cita uso da fome como método de guerra, o que vem causando milhares de casos de insegurança alimentar aguda
O chefe dos direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Volker Türk, alertou, na terça-feira (19), que a contínua restrição de Israel à entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza pode ser considerada crime de guerra. Isso porque o cenário mostra o uso da fome como método de guerra, o que viola o Direito Internacional.
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“Israel, enquanto potência ocupante, tem a obrigação de assegurar o fornecimento de alimentos e cuidados médicos à população proporcionais às suas necessidades e de facilitar o trabalho das organizações humanitárias para prestar essa assistência. Israel deve garantir que a população possa aceder a esta ajuda de forma segura”, disse Türk.
Segundo relatório da ONU, atualmente, quase toda a população em Gaza (2,3 milhões) está enfrentando altos níveis de insegurança alimentar aguda, incluindo 1,1 milhão que sofrem de insegurança alimentar catastrófica. Praticamente todas as famílias diminuíram o número de refeições diariamente, priorizando, sobretudo, a alimentação das crianças.
A fome vem se espalhando em Gaza devido à restrição de Israel à entrada e distribuição de ajuda humanitária. Nesta semana, o governo apresentou um documento ao Tribunal de Haia pedindo que a Corte não emita mais ordens de emergência para a entrada de ajuda na região. Como justificativa, o país nega que esteja causando sofrimento humanitário.
Além da entrada escassa de caminhões humanitários, os constantes ataques de Israel, que continua travando uma batalha contra o grupo extremista Hamas em Gaza, também estão prejudicando a distribuição de itens como comida, água e remédios. Alguns estoques, incluindo o da ONU, por exemplo, foram destruídos por bombardeios aéreos.
Em meio ao cenário, profissionais humanitários alertaram que um número crescente de crianças está “à beira da morte” devido à fome aguda. A porta-voz da Organização Mundial da Saúde (OMS), Margaret Harris, disse que as equipes médicas testemunham cada vez mais os efeitos da fome, inclusive bebês recém-nascidos que simplesmente morrem “porque têm peso muito baixo ao nascer”.
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“O relógio está correndo. Todos, especialmente aqueles com influência, devem insistir para que Israel aja para facilitar a entrada e distribuição desimpedida da assistência humanitária e dos bens comerciais necessários para acabar com a fome e evitar qualquer risco de fome. É preciso restabelecer plenamente os serviços essenciais, incluindo o fornecimento de alimentos, água, eletricidade e combustível”, insistiu Türk.