O Instagram é o novo Facebook? Por que os mais jovens não postam mais fotos no feed?
Assim como abandonaram o Orkut e o Facebook, jovens estão se ausentando do Instagram. Estudiosos apontam razões para o comportamento

Maria Ferreira dos Santos
“Algum adolescente consegue me explicar?”, indaga um de vários usuários no TikTok sobre o comportamento dos mais jovens quanto ao Instagram. Eles aderiram ao “grid zero”, ou, em português, algo como “feed zero”. Ou seja, eles simplesmente não têm conteúdo fixo na rede social.

A conduta gera estranhamento, talvez, por se esperar que os chamados nativos digitais sejam os mais ativos no mundo online. Na verdade, eles parecem ser mais observadores que geradores de conteúdo. Apesar de não postarem, eles continuam ali visualizando a vida e os interesses de outras pessoas. “Eles não estão preocupados em criar conteúdo, eles querem realmente consumir conteúdo”, acredita Fábio Fernandes, professor e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Aqueles que ainda postam algo preferem recorrer aos stories. É um conteúdo efêmero, na lógica de “quem viu, viu!”.
Mas por que os jovens adotaram esse comportamento? Há diversas hipóteses. Fernandes levanta que talvez os mais jovens estejam preocupados com o fato de pais, parentes e alguns amigos poderem “se meter na vida deles” ou acreditem que não tenham muito a dizer, ou que seus posts não têm relevância.
O docente sugere até que essa atitude seja simplesmente efeito de “saco cheio”. Issaaf Karhawi, pesquisadora em comunicação digital na Universidade de São Paulo (USP) e professora titular em Comunicação da Universidade Paulista (Unip), observa que esses jovens são aqueles que tiveram suas vidas expostas antes mesmo de conseguirem ter discernimento sobre privacidade e presença online. “Se a gente pensar que hoje há perfis de bebês que desde o ultrassom já estão expostos nas redes sociais, estamos falando de uma infância e de uma adolescência em que não há um espaço protegido para que você possa escolher não estar exposto”.
Partiria daí, então, a decisão de não ter fotos no feed. Seria a tentativa de “se preservar um pouco desses rastros digitais que vão ficando”, esclarece Karhawi. A pesquisadora pontua que as pegadas digitais podem levar uma pessoa a virar meme ou até ter sua vida investigada. Os jovens têm exemplos de que isso pode, de fato, acontecer e, por isso, gerenciam mais suas informações publicadas.
Talvez essa seja a razão de preferirem outras maneiras de se relacionarem com as plataformas digitais. O “close friends” (ou “melhores amigos”) do próprio Instagram, por exemplo, parece ser uma alternativa interessante para os adolescentes porque oferece a possibilidade de decidir quem vê seu conteúdo.
Fernandes defende que essa é uma reação orgânica dos jovens. “Eles estão criando uma maneira de lidar com as redes que é só deles. Cada geração tem a sua maneira de lidar com as redes”, declara.
Karhawi, por sua vez, afirma que esse comportamento é, sim, uma resposta à hiperexposição da “lógica digital”. A especialista explica que há um regime de visibilidade que prevê a exposição da esfera privada. Enquanto as antigas gerações tiveram parte de suas vidas vividas somente no íntimo, a nova geração tenta experimentar algo semelhante ao conscientemente deixar de se expor no Instagram.
É nesse raciocínio que vão também surgindo outras plataformas que vendem a ideia de uma maior privacidade e autenticidade. Assim, surge o questionamento: poderia o Instagram ser oficialmente desativado como o Orkut ou meramente esquecido como o Facebook?
Para os especialistas, a resposta é… Não ou, pelo menos, não num futuro próximo. “Há tempos o Instagram oferece funcionalidades em outros espaços que não no feed. As comunidades, por exemplo, visam levar uma conversa que acontecia de forma pública para um espaço mais reservado, não privado, mas menos exposto”, afirma Karhawi.
A professora admite que as plataformas têm sim um ciclo de vida útil que pode chegar ao fim, mas que pode ser mais duradouro à medida que elas conseguirem inovar.
*Estagiária sob supervisão de Letícia Sorg