10 anos sem Orkut: outras redes sociais correm o risco de “morrer”?
Considerada uma das pioneiras, Orkut perdeu liderança para o Facebook, que agora perde sua relevância aos poucos
Maria Ferreira dos Santos
Numa época em que a internet ainda era novidade e as redes sociais eram espécies de fóruns de conversa surgiu o Orkut. A rede foi lançada pelo engenheiro de softwares turco Orkut Büyükkökten em 24 de janeiro de 2004.
A plataforma, que chegou a ter mais de 300 milhões de usuários – o que, na época, parecia um número impensável –, tinha comunidades com nomes divertidos, jogos, e a possibilidade de se conectar com o mundo todo – inclusive reencontrando amigos e parentes distantes.
Issaaf Karhawi, pesquisadora em comunicação digital na Universidade de São Paulo (USP) e professora titular em Comunicação da Universidade Paulista (Unip), lembra que o Orkut fez parte da chamada “revolução digital”. “A gente vivia num momento de euforia frente às novas tecnologias. O momento inaugural da internet, baseado em alguns preceitos, especialmente na ideia de democratização da informação e de uma comunhão”.
Esse senso de comunidade, inclusive, foi uma característica importante do Orkut. Fábio Fernandes, professor e pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), acredita que o Orkut e os blogs foram fundamentais para criar esse senso de comunidade nas redes sociais.
Por que, então, o Orkut acabou?
Em 2011, Orkut perdeu o posto de rede social mais usada para o Facebook. Três anos depois, em 30 de setembro de 2014, deixou de existir. Além da concorrência das outras redes, há outros motivos que colaboraram para o fim da plataforma. Uma delas, segundo Fernandes, é que o Orkut cresceu muito em países como Brasil e Índia e perdeu espaço entre americanos e europeus.
Karhawi acrescenta que a rede não se atualizou, enquanto as demais já apresentavam outras funcionalidades. Além disso, na opinião da pesquisadora, a alternância das novidades digitais é algo esperado, cíclico. O mesmo aconteceu com MySpace, Flogão, MSN e Snapchat – que, apesar de ainda existir, perdeu sua relevância.
Isso significa que Instagram, TikTok, Linkedin e o WhatsApp podem, também, vir a cair no esquecimento?
A resposta é… talvez. É preciso considerar como a dinâmica das redes vem mudando desde que essas plataformas deixaram de existir. Na primeira era, ainda não havia um algoritmo para personalizar o feed para cada usuário e a venda de dados de comportamento dos internautas para publicidade ainda muito incipiente. Ainda estavam longe os questionamentos de quebra de privacidade e até de manipulação política.
A especialista Karhawi defende que essas novas formas maneiras de organizar e distribuir o conteúdo nas redes sociais cria espécies de “bolhas”. “Enquanto a gente tem um bônus que é ter redes sociais que são 100% sob medida para nós, o ônus é que a gente se vê enclausurado em bolhas”.
Enquanto no Orkut existia uma “autonomia” do usuário, em que ele mesmo tinha que buscar por pessoas, comunidades e interesses, a hipersegmentação das redes moldam atualmente a sociabilidade das pessoas através das indicações pessoas, lugares e compras. Karhawi acredita que o sucesso e o fracasso de cada rede está pautado nisso.
Os depoimentos pessoais do antigo Orkut para criar um senso de comunidade dão lugar a conteúdos de marcas com interesses financeiros. Quanto mais uma rede utiliza os dados do usuário, mais o algoritmo entende do que ele gosta para indicar ainda coisas relacionadas e, assim, conseguir vender algo.
A troca através das comunidades do Orkut são divergentes da lógica de receber das redes atuais. É o que acontece, por exemplo, no TikTok, em que grande parte dos usuários apenas assiste aos vídeos de pessoas que sequer conhecem, sem interagir.
*Estagiária sob supervisão de Letícia Sorg