Pré-treino com energético pode ser perigoso? Veja o que diz especialista
Uso indiscriminado de bebidas energéticas no pré-treino levanta alertas sobre riscos cardiovasculares e eficácia real na performance; entenda motivo

Brazil Health
Imagine por um momento que você pudesse obter mais benefícios do exercício: ganhar mais massa muscular, perder mais peso ou se sentir mais disposto e cheio de energia para lidar com a fadiga. É exatamente isso que o uso de compostos para pré-treinos promete.
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É bom esclarecer que o termo “pré-treino” abrange uma enorme gama de possibilidades. Podemos ir desde um composto à base de glicose, como uma banana, até misturas de aminoácidos, cafeína e taurina.
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Quais tipos de compostos são mais comuns em suplementos pré-treino?
- Cafeína: estimula o sistema nervoso central, proporcionando aumento de energia e alerta;
- Aminoácidos de Cadeia Ramificada (BCAAs): essenciais para a síntese proteica e podem ajudar na redução da fadiga muscular;
- Creatina: ajuda a fornecer energia rápida para atividades de alta intensidade, melhorando a força e o desempenho;
- Beta-alanina: contribui para a produção de carnosina, que ajuda a diminuir a fadiga muscular;
- Taurina: aminoácido importante no metabolismo e funcionamento de vários órgãos, como coração, cérebro e fígado;
- Arginina: pode aumentar o fluxo sanguíneo, melhorando a entrega de oxigênio aos músculos.
O uso de carboidratos de absorção rápida já é comprovado como útil em sessões de exercício com duração acima de 30 minutos, devendo ser repetido a cada 45-60 minutos em exercícios prolongados.
O aumento do consumo de bebidas energéticas e o que dizem os estudos
Atualmente, observa-se o uso cada vez mais frequente de bebidas “energéticas”, que apresentam diversas composições, mas basicamente contêm altas doses de cafeína associadas à taurina.
Apesar da propaganda sobre seus supostos benefícios no exercício, a evidência científica mostra resultados bastante modestos. Estudos controlados revelam que os ganhos em performance, duração do exercício, VO2 máximo e resistência são mínimos.
A sensação de maior disposição se deve principalmente à cafeína. Comparações entre o consumo de energéticos e o café puro não mostraram diferenças significativas.
Além disso, energéticos não demonstraram impacto relevante na composição corporal, não sendo eficazes para a perda de peso ou redução de gordura.
Os riscos comprovados do uso de energéticos no treino
Por outro lado, os riscos cardiovasculares são bem documentados. Estudos mostram que essas bebidas podem causar:
- Taquicardia;
- Alterações na pressão arterial;
- Prolongamento do intervalo QT no eletrocardiograma (predispondo a arritmias);
A cafeína e a taurina são os principais responsáveis por esses efeitos, e a variação das doses entre diferentes marcas dificulta uma avaliação segura do risco, especialmente em pessoas suscetíveis.
Assim, o consumo de energéticos não é recomendado para quem tem cardiopatias, hipertensão ou doenças crônicas. Também é importante lembrar que a quantidade considerada perigosa depende do peso corporal de cada pessoa.
Conclusão
O uso de compostos pré-treino pode ser um aliado para quem busca melhorar o desempenho nos treinos, mas é crucial utilizá-los com responsabilidade, sob orientação profissional, respeitando as contraindicações e os possíveis efeitos colaterais.
A alimentação adequada, como o consumo de carboidratos, a hidratação correta e uma boa noite de sono antes dos treinos certamente trarão os benefícios esperados de forma mais segura.
*Prof. Otavio Celso Eluf Gebara é médico cardiologista, doutor em Cardiologia pela FMUSP e fellow em Cardiologia no New England Deaconess Hospital da Harvard Medical School credenciado pelo CRM 57464