Pausa na carreira anunciada por Tite reacende debate sobre saúde mental no trabalho
Casos de licença por transtornos como burnout, estresse e ansiedade mais que dobraram nos últimos dois anos no Brasil
Marco Pagetti
O anúncio do técnico Tite sobre a decisão de interromper a carreira por tempo indeterminado para cuidar da saúde física e mental trouxe à tona uma discussão urgente: o impacto do trabalho na saúde emocional das pessoas.
E essa realidade não atinge apenas nomes famosos. A Paula Sian, médica dermatologista, precisou se afastar depois de viver uma sequência de pressões que culminaram em um colapso mental. “Foi um acúmulo: muita cobrança, vida pessoal desorganizada, um relacionamento tóxico. Até que eu tive um ataque de pânico no meio de uma consulta”, conta.
Ela foi diagnosticada com síndrome de burnout, condição associada ao esgotamento profissional.
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Casos em alta
Dados do Ministério Público do Trabalho (MPT) e da Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostram que, em dois anos, os afastamentos temporários por saúde mental no ambiente de trabalho saltaram de 201 mil para 472 mil registros no Brasil.
As principais causas são estresse, ansiedade e depressão — que podem se manifestar de forma pontual ou recorrente.
No mundo, 15% da população economicamente ativa sofre com transtornos mentais, o que representa um custo anual de 1 trilhão de dólares em perda de produtividade, segundo estimativas da OIT.
Segundo o psiquiatra Douglas Paschoal, especialista em saúde coletiva, fatores como metas inalcançáveis, assédio moral e ambientes tóxicos contribuem para o adoecimento. “Não se trata apenas de carga horária. O tipo de ambiente, as relações interpessoais e até a falta de propósito podem adoecer alguém”, afirma.
Nem mesmo quem está no topo da carreira está imune. Tite, ex-técnico da Seleção Brasileira, anunciou nesta semana que está parando por tempo indeterminado.
“Conversando com minha família e observando os sinais que meu corpo estava emitindo, decidi que o melhor a fazer agora é interromper minha carreira para cuidar de mim pelo tempo que for preciso”, escreveu, em nota divulgada por seu filho nas redes sociais.
O Corinthians, que negociava a contratação do treinador, informou que as conversas estavam avançadas, mas foram interrompidas após a decisão.
O caso de Tite se soma a outros no mundo esportivo. A ginasta Simone Biles abriu mão de competir em várias provas nas Olimpíadas de Tóquio, em 2021, após enfrentar os “twisties” — um bloqueio mental que prejudica a percepção de movimento.
Outro exemplo foi o surfista Gabriel Medina, que pausou a carreira no circuito mundial em 2022 para cuidar da saúde mental, após enfrentar uma série de pressões e desafios pessoais.
Celebridades como Whindersson Nunes, Lucas Lucco, Zé Neto e Demi Lovato já usaram suas redes para falar abertamente sobre transtornos emocionais, contribuindo para quebrar o tabu em torno do tema.
Para o psiquiatra Douglas Paschoal, o exemplo de figuras públicas pode encorajar outras pessoas a buscarem ajuda.“Quando alguém com visibilidade fala sobre isso, ajuda a validar o sofrimento de quem está em silêncio”, diz.
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