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Saúde

Canetas para emagrecimento podem ficar de fora dos tratamentos oferecidos pelo SUS

Decisão unânime de comissão barrou medicamentos usados contra a obesidade, como Wegovy e Saxenda, por impacto de bilhões no orçamento público

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A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) decidiu não incluir as chamadas canetas para emagrecimento no tratamento da obesidade pelo Sistema Único de Saúde. A justificativa foi o custo elevado e a ausência de estrutura para acompanhamento adequado dos pacientes.

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Aos 39 anos, Elaine Máximo carrega no corpo as marcas de uma batalha que trava sozinha: hérnia de disco, pressão alta, gordura no fígado. E uma certeza: obesidade não é uma escolha.

"Já ouvi muito isso, de muitas pessoas, mas não, não é falta de vontade nem escolha, porque ninguém escolhe ser obeso", afirma Elaine, que trabalha como babá e estuda na universidade. "Você vai fazer uma bariátrica, não é barato, é caríssimo. Você vai tentar no SUS, é uma demora, você morre e não faz."

Medicamentos como Wegovy e Saxenda, originalmente indicados para o controle do diabetes, também são utilizados no tratamento da obesidade. Eles chegaram a ser avaliados para incorporação na rede pública, o que poderia representar uma alternativa para pacientes como Elaine, que não conseguem arcar com os custos elevados nas farmácias. No entanto, a expectativa durou pouco.

A decisão da Conitec foi unânime: todos os votos foram contrários à inclusão dos medicamentos. Um dos principais fatores foi o impacto financeiro previsto, estimado em pelo menos R$ 3,5 bilhões nos próximos cinco anos.

Para a médica Maria Edna de Melo, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, a decisão desconsidera os riscos enfrentados por quase um quarto da população adulta brasileira, que vive com obesidade.

"Aqui no Brasil a gente tem vários medicamentos aprovados para obesidade. A gente tem medicamentos de 30 reais e tem medicamentos de 3 mil reais, então é preciso entender o que a gente consegue tratar. Pode usar um medicamento de baixo custo para um perfil de paciente. E escolher, selecionar adequadamente o paciente para aquele medicamento de alto custo", explica.

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A situação financeira da população também pesa. Segundo a última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, o trabalhador brasileiro ganha, em média, pouco mais de dois salários mínimos — cerca de R$ 3.378. Já uma única caneta para emagrecimento pode custar até R$ 2.500.

"Quem precisa de tratamento não é só a pessoa que tem dinheiro e que vai na farmácia e consegue comprar, todo mundo tem direito a tratamento", pontua a médica.
"Ninguém entendeu ainda que isso é uma doença, então enquanto não entenderem isso, a gente vai ficar por escanteio. Ah, o gordo que se vire", desabafa Elaine.
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