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Saúde

Aumenta número de mulheres que tiveram gravidez não planejada em São Paulo

Estudo aponta que 65% das gestantes entre 18 e 49 anos não planejaram ter filhos; número é maior do que em anos anteriores

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Uma história que se repete: Kawanne Amadeu descobriu, no susto, que estava grávida. "Eu fiz um teste de farmácia porque eu estava passando mal com um suco de uva. E aí eu descobri, e minha primeira reação foi: putz, e agora, minha mãe vai me matar", contou a estudante.

A mãe de Kawanne, Keiliane dos Santos Monteiro, também teve a filha sem planejamento, aos 13 anos. "O que a gente passou a gente não quer que eles passem. E a gente sabe que tudo é a gente: mãe. Na hora da doença, na hora do leite, da fralda", disse Keiliane, que trabalha como cabeleireira.

Com a pequena Maitê no colo, de apenas três meses, Kawanne sente um amor imenso, mas reconhece que a gravidez precoce muda a vida e os projetos individuais. "Terminei o primeiro ensino médio e vou ter que retomar tudo que todo mundo já teve para poder pegar da onde eles estão", afirmou.

Dados

O caso de Kawanne não é isolado. Uma pesquisa feita no estado de São Paulo por pesquisadores da Unicamp mostrou que 65% das gestantes entre 18 e 49 anos não planejaram ter filhos. O número é maior que em levantamentos anteriores, que apontavam 52% e 55%. Os dados revelaram ainda que a maioria dessas mulheres é preta ou parda, tem menor grau de escolaridade, não é casada e já possui outros filhos.

As mulheres buscam postos e unidades básicas de saúde para ter acesso a métodos contraceptivos de longa duração, como o DIU, dispositivo colocado no útero para impedir a gravidez. Pela regra do Sistema Único de Saúde (SUS), o DIU deveria estar disponível gratuitamente para brasileiras de todas as idades, inclusive adolescentes. Porém, na prática, nem sempre isso acontece.

"Às vezes não tem disponibilidade porque tem um custo maior. Então, às vezes, a mulher está procurando esse método anticoncepcional, mas quando vai ao ambulatório de planejamento familiar do SUS, eles não têm disponibilidade", explicou o sociólogo e pesquisador Negli Gallardo-Alvarado.

Postura masculina

Outro problema é a postura de homens que não querem usar preservativo. Sheila de Oliveira, diretora executiva de uma ONG que atua com famílias em situação de vulnerabilidade, acompanha de perto as dificuldades para conseguir um DIU na rede pública.

"Acho que a demanda é muito alta e o que existe de recurso financeiro para esse fim não atende à demanda do território e das comunidades. Hoje eles utilizam, após as orientações, o preservativo que pegam gratuitamente no posto ou ainda usam a tabelinha, o coito interrompido. Ainda existe essa forma de entendimento de prevenção à gravidez precoce", disse Sheila.

Secretaria da Saúde

Em nota, a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo informou que, nos dois primeiros meses deste ano, realizou mais de seis mil inserções do dispositivo DIU pelo SUS. No ano passado, foram 40 mil procedimentos. Já a Secretaria Municipal de Saúde informou que apenas 57 mulheres estão em processo de regulação para inserção do dispositivo intrauterino e que não há fila de espera.

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