Suspeito de matar estudante em SP foi executado pelo "tribunal do crime", aponta investigação
Polícia acredita que facção criminosa PCC julgou e executou o suspeito de assassinar Bruna Oliveira na zona leste

Fernanda Trigueiro
A Polícia Civil continua investigando se o suspeito de matar a estudante Bruna Oliveira, de 28 anos, em São Paulo, foi executado pelo chamado "tribunal do crime" — prática cada vez mais comum. Mas o que é esse julgamento paralelo? E como chegamos a um cenário em que criminosos impõem suas próprias regras e desafiam a justiça?
Horas em um cativeiro, sob agressões e tortura. Além da violência física, vítimas são submetidas a humilhação e ameaças. Cenas como essas acontecem em locais controlados pelo crime organizado, onde assassinos acreditam estar fazendo justiça com as próprias mãos.
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Segundo o procurador de Justiça do Ministério Público de São Paulo Márcio Sérgio Christino, "eles matam de acordo com seus interesses, e não com os interesses da comunidade. Então, isso é tirania, não é justiça".
"Suprema Corte"
Pelas características do crime, a polícia acredita que o suspeito do assassinato de Bruna foi julgado e executado pelo tribunal da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). O corpo de Esteliano José Madureira foi encontrado enrolado em um saco plástico, com sinais de agressão, em uma rua da região de Paraisópolis, na zona sul da capital paulista — local considerado a "Suprema Corte" do tribunal do crime.
De acordo com André Santos Pereira, presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia de São Paulo, "o fato de ele ter sido encontrado na zona sul pode dar mais um indicativo de que ele foi morto, sim, pelo tribunal do crime".
A facção criminosa paulista conduz seus julgamentos intimando os acusados e realizando uma espécie de investigação, que inclui informações divulgadas pela mídia e até depoimentos de testemunhas. Após analisar provas e relatos, o tribunal do crime chega a um veredito — que muitas vezes pode resultar na pena de morte.
Crimes inaceitáveis
André Santos Pereira detalha que crimes como roubo à organização criminosa, venda de drogas sem autorização e crimes sexuais são considerados inaceitáveis. "As organizações criminosas têm uma característica machista, compostas, em sua maioria, por homens. Esses homens têm mães, esposas, filhas e, naturalmente, um viés de afetividade. Quando ocorre um crime contra mulheres, por exemplo, isso não é aceito dentro da organização."
Foi o que aconteceu com o homem apontado como "Maníaco da Mooca". Solirano de Araujo Sousa nunca foi encontrado, e a principal suspeita é que tenha sido executado após atacar pelo menos sete mulheres, em setembro do ano passado, na zona leste.
Ordem dentrro do presídio
Especialistas em segurança pública apontam que o "tribunal do crime" surgiu em São Paulo. As ordens partem de dentro dos presídios, onde chefes continuam no controle, fortalecendo o domínio das facções e afastando a polícia das comunidades e regiões periféricas.
"Quem está dentro do sistema prisional sempre assume o papel de juiz. Isso dá poder a quem está preso, e os outros obedecem às ordens. É o exercício de poder de quem está dentro para quem está fora do sistema penitenciário", afirma Christino.