Publicidade
Polícia

Polícia prende mais um líder do PCC, mas facção está longe de acabar; entenda

Levantamento do SBT News mostra que, embora 1500 pessoas tenham sido presas entre 2014 e 2024 por ligação com crime organizado, quadrilhas são resilientes

Imagem da noticia Polícia prende mais um líder do PCC, mas facção está longe de acabar; entenda
Sigla do Primeiro Comando da Capital | Reprodução/EBC
Publicidade

Uma operação das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), batalhão de elite da Polícia Militar, resultou na prisão de Marcelo Lucio Paulino, conhecido como "Maguegue", no domingo (11). Foragido desde 2017, ele é apontado como uma das principais lideranças do Primeiro Comando da Capital (PCC) em São Paulo.

Desde que nasceu, na década de 1990, o PCC vem crescendo ano a ano no território brasileiro, mesmo com a prisão de lideranças importantes, e mostra a dificuldade das autoridades de combater o crime organizado.

Entre 2014 e 2024, de acordo com a série história do Departamento de Inteligência da Polícia Civil (Dipol) de São Paulo, 1.513 pessoas foram presas pelo crime de organização criminosa – entre elas o PCC – no estado paulista. No ano passado, em comparação ao período anterior, houve uma queda de 38,5% nas detenções.

Os dados foram obtidos pelo SBT News via Lei de Acesso à Informação.

Ao SBT, a desembargadora Ivana David – que tem 34 anos de experiência no Tribunal de Justiça de São Paulo, especialmente em casos com faccionados – explica que o funcionamento hierarquizado das organizações criminosas, como de uma empresa, faz com que a polícia fique em "looping" na tentativa de combate.

"O crime organizado, assim como a máfia, cartéis e outros, tem uma estrutura em que o Marcola e o André do Rap são presos, mas abaixo deles estão integrantes que assumem a posição de liderança", diz. "O fato de prender indivíduos nem de longe acaba com a organização criminosa, apenas a enfraquece e a desestabiliza por um período."

No caso do PCC, apesar de haver uma hierarquia de funcionamento, o grupo atua de forma descentralizada. Isso significa que existem estruturas regionais com autonomia relativa frente à liderança, chamada de Sintonia Final Geral.

A Sintonia Final Cúpula, fundadores do PCC e sucessores | Reprodução/ International Police Association (IPA)
A Sintonia Final Cúpula, fundadores do PCC e sucessores | Reprodução/ International Police Association (IPA)

"Existem escalas, funções delimitadas, disciplina rígida, setor jurídico, corrupção de autoridades, infiltração no meio político, compartimentação de funções e informações, além da adoção de modelo empresarial", segundo o Ministério Público.

Organograma da estrutura do PCC realizado pelo Ministério Público, Polícia Militar, Civil, Federal e Administração Penitenciária | Reprodução/MPSP
Organograma da estrutura do PCC realizado pelo Ministério Público, Polícia Militar, Civil, Federal e Administração Penitenciária | Reprodução/MPSP

Além da estrutura montada para continuar operando sem uma "peça", a detenção não garante que a liderança deixará as atividades criminosas. Do "escritório dentro da prisão", os criminosos desafiam as autoridades, influenciando atividades externas do crime organizado.

Para a desembargadora, em presídios federais de segurança máxima, essa influência dos chefes de facções é mais remota. Mas, segundo ela, nada é impossível, diante da complexidade dos grupos criminosos organizados.

"No presídio federal, temos cerca de 500 presos. O Brasil tem mais de 305.000 presos em regime fechado comum. Esses presos que não estão em presídio federal, teoricamente, continuam em contato com a sociedade. A prisão nem de longe impede que eles continuem praticando o crime de dentro do sistema prisional", diz.

Ivana defende que, além da identificação e prisão de uma liderança criminosa, as autoridades precisam mirar em outros dois pontos fundamentais: tirar o dinheiro do crime e realizar cooperação internacional. O Brasil tem uma estrutura geográfica desafiadora, com dez fronteiras, sendo três com os maiores produtores de drogas do mundo: Colômbia, Bolívia e Paraguai.

"O Brasil tem que ir fechando essas portinhas ou identificando todos esses pontos para, de alguma forma, tirar o dinheiro, tirar a droga, tirar a arma para diminuir e fragilizar aquela organização criminosa. Com isso, o Estado vai tendo mais mais poder ou o crime organizado vai se retroalimentando".

Publicidade
Publicidade

Últimas Notícias

Publicidade