Cooperação internacional entre polícias e isolamento das lideranças, defende procurador para combater facções
Especialista em PCC, Márcio Christino do MP-SP aponta elo entre tráfico e bunkers antipolícia montados em países como Bolívia e Paraguai
O isolamento e a incomunicabilidade de lideranças das facções criminosas em presídios de segurança máxima federais são medidas necessárias para o enfrentamento ao crime organizado. A afirmação é do procurador de Justiça Márcio Christino, do Ministério Público de São Paulo.
Especialista no assunto PCC, afirmou em entrevista ao SBT News que a fuga de dois membros do Comando Vermelho, no último dia 15, em Mossoró (RN), foi uma falha pontual que não deve ser superdimensionada nem servir de argumento para uma mudança no sistema.
"Esse tipo de contenção é essencial. Sim, falha houve, em uma eventualidade. Se corrige essa falha, mas que não se atribui ao sistema um erro que justifique a sua desorganização a sua desativação."
A fuga de Deibson Cabral Nascimento, 35 anos, o Deisinho ou Tatu, e Rogério da Silva a Mendonça, o Querubim, foi a primeira registrada nos presídios federais. São cinco unidades, além da de Mossoró: no Distrito Federal, em Mato Grosso do Sul, Paraná e Rondônia.
Autor de livro sobre o PCC e um dos pioneiros do grupo do MP paulista que combate o crime organizado, Christino defendeu a cooperação internacional entre polícias para coibir os bunkers em países vizinho, na entrevista ao SBT News. Assista a entrevista ou leia os pontos principais, abaixo:
Como era. Na verdade tem até um processo histórico, que envolve essa saída do Brasil. O primeiro país que foi usado como refúgio, como esconderijo, foi o Paraguai. Faz tempo que o Paraguai é um produtor de maconha, que era vendida aqui, havia o contato entre os traficantes paraguaios e os brasileiros. Então foi natural que o brasileiro, quando fugisse, buscasse no Paraguai uma abrigo, evitando a sua captura. Mas isso foi no primeiro momento.
Como é. Hoje, já existe uma aproximação maior entre os governos brasileiros e do Paraguai. O Paraguai não é mais um lugar tão seguro como era, ainda que seja um lugar procurado. Porque se trata de uma base onde estão as conexões de transporte, ou seja o transporte passa pelo Paraguai, não só da maconha, como de outros produtos também.
Evolução. Hoje houve uma evolução, principalmente quando se criou a conexão Bolívia, Brasil e PCC. Ou seja, é um narcosul. Os grandes traficantes, os grandes produtores bolivianos fizeram a conexão com o PCC. Não sabemos até onde essa conexão foi, aparentemente existe uma fusão entre produção e venda.
Bolívia bunker. Solidificou hoje a Bolívia é o principal destino dos foragidos. Porque a Bolívia é produtora e a principal fornecedora de cocaína, portanto, há uma aliança econômica. A Colômbia estaria hoje num quarto, quinto lugar. Houve uma época em que a Colômbia atraiu mais, inclusive o Fernandinho Beira-mar, que foi preso na Colômbia. Naquela época, era uma grande fornecedora, até hoje em dia isso acontece, mas a Colômbia desceu nessa escala e a situação interna mudou muito. Então ela se tornou um lugar que não é tão atraente para fuga.
Cooperação internacional. Esse é o caminho. A cooperação internacional está se desenvolvendo. Mas porque qa aliança criminosa internacional se solidificou, então é uma reação. Mas é uma reação necessária. As ações contra as produções de coca na Colômbia, apesar de serem desprezadas, dizer que a guerra contra as drogas nunca deu certo... Mas nós temos que lembrar que aquele traficante colombiano (Pablo Escobar) acabou morto num telhado de uma casa por um agente americano. Então, não é tão simples quanto parece. Mas a grande tendência é que isso acabe gerando um resultado. O caminho é a interconexão entre os países, da mesma forma que você tem um narcosul que é a união dos traficantes bolivianos e brasileiros.
Você vai acabar tendo que ter essa conexão na Esfera governamental, não só o Brasil como também os outros países da América Latina isso interessa à Europa interessa da Europa também porque a cocaína produzida aqui na América do Sul que teve nessa fase vai tem destino Europa e não nos Estados Unidos então Europa também tem interesse se houver um esforço uma conexão conjunta o que se espera é que isso gera um bom resultado.
Isolamento das lideranças. A fuga foi uma excepcionalidade, foi uma falha do sistema, evidente. Porque se o sistema fosse perfeito, eles não teriam fugido. Mas não foi uma falha sistemática, não há uma falha sistemática quando o conjunto funciona perfeitamente. E esse tipo de regime que nós executamos como recomendável, ele é essencial, Você precisa disso. Em todos os países do mundo onde houve um combate sério ao crime organizado, você teve esses regimes diferenciados de contenção, que começaram, vamos lembrar, na Itália, com o ataque à máfia, que levou quase a derrocada do Estado. Depois nos Estados Unidos, que também é um país que mais sucesso teve na repressão ao crime organizado.
Esse tipo de contenção é essencial. Sim, falha houve, em uma eventualidade. Se corrige essa falha, mas que não se atribui ao sistema um erro que justifique a sua desorganização a sua desativação.