Família de mineira presa na Ásia diz que ela foi vítima de golpe e tráfico humano
Recrutada para "call center" no Camboja, arquiteta acaba presa após se negar a praticar golpes. País integra rota de tráfico de pessoas, alerta o Itamaraty

Estado de Minas
SBT News
Daniela Marys Costa Oliveira, belo-horizontina de 36 anos, está presa no Camboja, Sudeste Asiático, desde o final de março. De acordo com a família, Daniela, formada em Arquitetura e Urbanismo, recebeu uma proposta de emprego falsa e foi vítima de tráfico humano. A cunhada Ana Flávia Pereira conta que ela está detida em uma cela com cerca de 100 mulheres, e que a família está muito abalada.
O caso não é isolado, indica o Ministério das Relações Exteriores. Em fevereiro, o órgão emitiu um Alerta Consular sobre o tráfico de pessoas para o Sudeste Asiático a partir de falsas promessas de emprego com salários competitivos. Depois de fazer 200 atendimentos de brasileiros vítimas desse tipo de crime em países diversos em 2023, o órgão lançou, no ano passado, uma cartilha com orientações para quem pretende trabalhar no exterior.
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Como nos outros casos detectados pelo governo brasileiro, a história de Daniela Marys começa com uma proposta atrativa de emprego. Em meados de janeiro, ela foi contatada, por meio do aplicativo de mensagens Telegram, para trabalhar na área de telemarketing e tradução no Sudeste Asiático. À época, ela morava em João Pessoa, Paraíba, e estava à procura de emprego. Decidiu aproveitar a oportunidade no exterior. Ana Flávia conta que a família ficou desconfiada, mas que a arquiteta disse que a empresa era confiável e que teria até feito entrevistas.
A arquiteta foi levada para a cidade de Poipet, a cerca de 400 quilômetros de Phnom Penh, capital do Camboja, e na fronteira com a Tailândia. “Chegando lá, já foi meio esquisito. Ela mandou a localização e foto do quarto. Era como se fosse um galpão no meio do nada, em um bairro afastado”, conta a cunhada.
Golpes e prisão
No final de fevereiro, Daniela começou o treinamento para o emprego, que supostamente seria para telemarketing e tradução. Foi quando ela descobriu que seu trabalho, na verdade , seria aplicar golpes cibernéticos. “Ela disse: 'isso eu não faço. Vocês não me contrataram para isso'”, conta Ana Flávia. Ainda segundo a cunhada, Daniela teria pedido para voltar ao Brasil e, diante disso, os empregadores retiveram o passaporte dela.
De acordo com Ana Flávia, após os pedidos para voltar ao Brasil, no fim de março, Daniela foi vítima de uma armação e foi presa por posse de drogas. “Colocaram três pílulas no quarto, que era compartilhado. Quando Daniela chegou, a polícia já estava esperando por ela para levá-la presa por causa dessas três pílulas”, conta a cunhada.
Daniela foi levada para uma prisão na cidade de Sisophon, também no Camboja, onde se encontra até o momento. No começo, a brasileira não conseguiu comunicar à família sobre a detenção, pois teve o celular e o notebook retidos.
Rede de tráfico
De acordo com Ana Flávia, para que a arquiteta possa fazer ligações e até receber água e comida, é preciso que a família envie dinheiro. Os parentes têm mandado cerca de US$ 150 dólares a cada 20 dias e estão angustiados.
Em 23 de outubro a arquiteta passou por uma audiência, acompanhada de seu advogado cambojano. De acordo a cunhada, a defesa solicitou que o guarda que supostamente encontrou as pílulas no quarto compartilhado em que Daniela estava preste depoimento. Uma nova audiência foi marcada.
Assistência e alertas
A família entrou em contato com o Ministério das Relações Exteriores (Itamaraty) e a Polícia Federal, mas se ressente da falta de medidas por parte das autoridades brasileiras, Ao Estado de Minas, o Itamaraty informou que “por intermédio das Embaixadas do Brasil em Bangkok (na Tailândia) e em Phnom Penh, tem conhecimento do caso, vem realizando gestões junto ao governo cambojano e prestando a assistência consular cabível à nacional brasileira, em conformidade com o Protocolo Operativo Padrão de Atendimento às Vítimas Brasileiras do Tráfico Internacional de Pessoas.” A reportagem questionou a pasta se as embaixadas informaram o motivo da prisão e quais foram as alegações para a detenção de Daniela, mas não obteve retorno.
Segundo Ana Flávia, a família e Daniela têm recebido assistência da Rede Um Grito Pela Vida, iniciativa intercongregacional de enfrentamento e erradicação do tráfico de pessoas, e da “The Exodus Road”, organização sem fins lucrativos que busca combater o tráfico de pessoas.








