Sem menção aos Brics, Trump e se encontra com primeiro-ministro da Índia e justifica tarifas
Chefes de estado firmaram acordo para evitar guerra comercial e dobrar comércio entre Índia e Estados Unidos; mais cedo, Trump citou Etanol brasileiro

Patrícia Vasconcellos
Washington DC - Ao lado do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, o líder americano Donald Trump falou em parceria e disse que o indiano concordou em baixar algumas tarifas. "Vamos fazer a Índia grande de novo", em referência ao slogan republicano, disse Modi, usando estratégia para estreitar laços e evitar a fúria de Trump.
+ Trump anuncia tarifas recíprocas e menciona etanol brasileiro em memorando
O líder indiano anunciou a abertura de dois novos consulados nos Estados Unidos (EUA), um em Los Angeles e outro em Boston, e convidou universidades norte-americanas a abrirem campus em seu país.
Modi e Trump participaram, na noite desta quinta-feira (13), de um jantar na residência oficial. Foi o fim de um longo dia, que começou com a assinatura de uma ordem executiva anunciada no dia anterior. "Vamos fazer a América rica de novo "disse Donald Trump aos jornalistas no Salão Oval, minutos antes de assinar o documento.
Tarifas, tarifas e tarifas
O presidente Trump afirmou que há décadas o mundo tira vantagens dos americanos e que os Estados Unidos cobram historicamente muito pouco. A meta é adotar a lei da reciprocidade. O valor cobrado de um produto americano será taxado na mesma proporção para que o item entre no território americano.
Para o economista da Universidade de Michigan, Daniil Manaenkov, a cobrança imposta pelo governo americano pode afetar a cadeia produtiva ao redor do mundo. Ele também analisa que isso pode gerar negociações nos próximos dias, já que a data para aplicação da ordem é 2 de Abril.
Manaenkov avalia que, como aconteceu com a Colômbia, México e Canadá, outros países podem se aproximar dos americanos para discutir maneiras de evitar a tarifação igualitária.
+ Alckmin destaca equilíbrio comercial com EUA e defende diálogo: "Não somos problema comercial"
Já quando o assunto são os Brics - bloco econômico formado pelo Brasil, Rússia, China, Índia e outros países em desenvolvimento - Trump voltou a dizer que se o grupo insistir no comércio em outras moedas que não o dólar, os países serão taxados em cem por cento.
Ao lado de Narendra Modi, o presidente americano demonstrou interesse em discutir o assunto. Trump citou os líderes da China e Rússia de forma positiva, algo que ainda falta em relação ao Brasil. Não há informações, em Washington, de quando os líderes dos dois países irão - se irão - conversar.
O etanol brasileiro
Antes de chegar à Casa Branca, Donald Trump já havia dito que o Brasil cobrava muito dos americanos. A época o então candidato à presidência nao deu detalhes de qualquer produto mas nesta quinta-feira, 13 de fevereiro, uma autoridade americana foi clara e citou o etanol em um texto que explica a decisão da ordem sobre tarifas recíprocas.
+ Senado confirma Robert Kennedy Jr. como secretário da Saúde dos Estados Unidos
Segundo uma autoridade americana, existem inúmeros exemplos em que os parceiros comerciais dos EUA não dão tratamento recíproco. Ele cita, então, o etanol do Brasil. "A tarifa dos EUA sobre o etanol é de apenas 2,5%. Mesmo assim, o Brasil cobra das exportações de etanol dos EUA uma tarifa de 18%. Como resultado, em 2024, os EUA importaram mais de US$ 200 milhões em etanol do Brasil, enquanto os EUA exportaram apenas US$ 52 milhões em etanol para o Brasil".
Sobre a Índia, os americanos dão como exemplo as motos. "A Índia também cobra uma tarifa de 100% sobre as motocicletas dos EUA, enquanto cobramos apenas uma tarifa de 2,4% sobre as motocicletas indianas" afirma a autoridade em um texto que revela as motivações do governo Trump para a decisão de impor tarifas recíprocas.
Sobre a União Europeia, é citado o exemplo dos mariscos. Os EUA afirmam que em 2023 o país importou 274 milhões de dólares do alimento da União Europeia, mas o bloco exportou aos americanos apenas 38 milhões de dólares.
"A UE também impõe uma tarifa de 10% sobre carros importados. No entanto, os EUA impõem apenas uma tarifa de 2,5%"