Relatos de Israel: “Quando se pode ouvir o que os olhos não conseguem ver”
Repórter Flavia Travassos esteve na Faixa de Gaza e relata os impactos da guerra quase dois anos após os ataques do Hamas

Flavia Travassos
Israel - É dada a largada! Um faz a pergunta. Em seguida, outro. No meio do caminho, surge uma dúvida. Pronto, começa tudo de novo. Não tem como ser diferente… todo bate-papo com jornalistas dá nisso. Imagine, administrar mais de 10 juntos? Foi a missão do porta-voz do Exército Israelense. Até aí, tudo dentro do previsto. O que não estava na programação foi aquele barulho que surgiu de repente, quando ninguém esperava: “Bummm”. Foi como a sequência de perguntas: veio um, depois de um tempo outro. E mais outro.
A gente ouvia mas não via. Estávamos às margens da Faixa de Gaza, a uma distância de 6 quilômetros. Já havia passado quase uma hora e os pontos de interrogação teimavam: seriam mísseis? Algum terrorista teria sido morto? A gente corria algum risco naquele momento? Olhei pra frente e o que havia era apenas uma nuvem branca subindo no horizonte. Tem coisa que, talvez, valha à pena mesmo ficar escondida atrás de uma cortina de fumaça.
Mas ali no Kibbutz de Nir Oz, o mais atacado pelo grupo terrorista Hamas, mesmo que a gente não quisesse, a realidade estava escancarada para todo mundo ver. A dor, o sofrimento e a saudade também. Só ali, 117 pessoas foram mortas ou sequestradas no atentado de 7 de outubro de 2023.
Já se passaram quase 2 anos… mas aquela comunidade nunca mais será a mesma. Com certeza, eu também não. Minha vontade era tapar os olhos pra não ver tanta violência. Mas não ia adiantar… afinal, o coração também tem o poder de enxergar de um jeito que é difícil de esquecer e o impacto pode ser tão forte como uma bomba.