As condolências dos EUA pela morte de Raisi na delicada diplomacia internacional
Não é um dilema recente. O falecimento do líder de uma nação considerada desafeto político demanda o cumprimento de rituais diplomáticos
Washington DC — As condolências pela morte do presidente do Irã partiram da diplomacia americana. A nota do Departamento de Estado foi publicada no começo da tarde de segunda-feira (20) deixando os jornalistas, na parte da tarde, na expectativa de como seria a reação na capital Washington.
No texto, duas sentenças com palavras que revelam a delicada relação entre os dois países. Logo no começo, um adjetivo deixa clara a obrigatoriedade do ritual.
Os americanos afirmam que expressam as condolências “oficiais” pela morte do presidente iraniano Ebrahim Raisi, do Ministro de Relações Exteriores Amir-Abdollahian e outros integrantes da delegação no acidente de helicóptero no noroeste do país.
A segunda frase é um recado que evidencia o lugar em que ambas nações estão posicionadas politicamente — em extremos opostos.
“Como o Irã escolhe o novo presidente, nós reafirmamos nosso apoio pelo povo iraniano e sua luta pelos direitos humanos e às liberdades fundamentais”.
A mensagem é clara: Como boa parte do mundo, a administração Biden considera Raisi um tirano.
O presidente iraniano, falecido na queda do helicóptero, foi acusado na década de oitenta, quando era procurador, por autorizar execuções em massa de presos políticos e dissidentes.
Foi o período em que integrou o chamado “comitê da morte”. Eleito presidente em 2021 em eleições questionadas internamente, Ebrahim Raisi mandou reprimir violentamente os protestos pelos direitos das mulheres e se alinhava com os ultraconservadores do país que não acreditavam no caminho do meio para lidar com as potências ocidentais.
Já o Irã como Estado, enfrenta há anos sanções econômicas de Washington que acusa Teerã de financiar grupos terroristas e extremistas no Oriente Médio.
Apesar de todo esse histórico de rivalidades e diferenças, a morte de um líder eleito é o momento para que as democracias se solidarizem.
Primeiro para demonstração de empatia com a população - ou parte dela - que se encontra em luto. Segundo, para o cumprimento da diplomacia que na essência significa se relacionar de forma “oficial” até mesmo com os rivais mais explícitos. Foi exatamente isso que aconteceu.
A saia justa foi resolvida com a nota do Departamento de Estado e o silêncio de Biden sobre a morte de Raisi não foi, ao fim, silêncio, pois sua administração se posicionou e se expressou sobre o ocorrido.Esse não é um dilema recente sobre desafetos políticos de Washington.
Quando Hugo Chávez faleceu, em 2013, a Casa Branca - então sob administração de Barack Obama - emitiu a seguinte nota:
"Neste momento desafiador pela morte do presidente Hugo Chávez, os Estados Unidos reafirmam seu apoio ao povo da Venezuela e seu interesse em desenvolver uma relação construtiva com o governo venezuelano. Como a Venezuela começa um novo capítulo em sua história, os Estados Unidos continuam comprometidos com políticas que promovam os princípios democráticos, as leis e o respeito pelos direitos humanos".
Na estrutura, um texto parecido ao dessa semana no sentido de primeiro expressar o pesar pela perda do líder estrangeiro não considerado por Washington modelo diplomático e, em seguida, pontuar a necessidade do respeito às leis e aos direitos humanos.
Três anos depois, em 2016, Obama também foi polido ao expressar o pesar pelo falecimento de Fidel Castro.
Na época, disse: “nossos pensamentos e orações estão com o povo cubano” e concluiu dizendo:
"O povo cubano deve saber que eles têm um amigo e parceiro nos Estados Unidos da América".
Importante frisar que não há régua de comparação entre os líderes latinos citados e Raisi.
Apenas o fato de que - quando se trata de diplomacia - é preciso cumprir o ritual de forma que as palavras escolhidas fiquem registradas de forma correta nos livros de história.