Justiça diz que presos por ligação com Hezbollah monitoraram sinagogas
Juíza federal determina prisão preventiva de dois alvos da Operação Trapiche e manda soltar dois brasileiros
SBT News
Dois investigados na Operação Trapiche, da Polícia Federal, suspeitos de ligação com o grupo terrorista Hezbollah, no Brasil, monitoravam espaços ligados à comunidade judaica brasileira para possíveis ataques. Outros dois alvos, presos há um mês, vão ser soltos. A Justiça Federal de Belo Horizonte converteu duas prisões temporárias em preventiva e mandou soltar os brasileiros.
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A decisão da 2ª Vara Criminal Federal de Belo Horizonte é desta 3ª feira (5.dez), na Operação Trapiche, que prendeu cinco pessoas, suspeitas de envolvimento com atos preparatórios de terrorismo e recrutamento de brasileiros para essas atividades extremistas.
As investigações apontam, ainda, que Lucas mantinha uma "lealdade desmedida aos propósitos da organização terrorista", com menções frequentes à "missão" e ao "cumprimento de tarefas sem recuar".
Dos dois alvos principais que tiveram as prisões mantidas, um está foragido.
As prisões preventivas da Trapiche são contra:
- Mohammad Khir Abdulmajid é libanês, naturalizado brasileiro, e morava em Belo Horizonte, onde tem tabacarias em áreas populares da capital mineira. Abdulmajid seria, segundo a PF, responsável pelo recrutamento de brasileiros para o Hezbollah.
- Lucas Passos Lima é brasileiro e estaria em fase de recrutamento. Foi preso no aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, quando voltava do Líbano, em 8 de novembro, quando foi deflagrada a Operação Trapiche.
A quebra de sigilo de mensagens e dos telefones celulares revelou que o brasileiro, que admitiu ter recebido treinamento em depoimento, produziu vídeos e fotos em Goiás e no Distrito Federal de sinagogas e ainda da Embaixada de Israel no Brasil.
Trecho da decisão da juíza Raquel Vasconcelos Alves de Lima destaca: "Além de pesquisar o endereço da sinagoga Keter Torah, foi localizado um vídeo no qual um veículo trafega à noite pela rua onde fica o templo religioso. Quando se aproxima do local, um dos ocupantes do veículo diz: "bingo". O motorista diz "vou dar a volta aqui e você filma"".
"Verifica-se o perigo gerado pelo estado de liberdade dos investigados Lucas e Mohamad, ante a gravidade dos fatos narrados, ou seja, o risco concreto de atos terroristas, em face dos novos fatos que surgiram no decorrer da investigação", decisão da 2ª Vara Criminal Federal de Belo Horizonte.
Para a magistrada, os dois devem ter as ordens de prisão mantida. No caso de Abdulmajid, ele é procurado e entrou para a Lista Vermelha da Interpol, podendo ser preso fora do Brasil.
Soltos
A decisão da Justiça manda também soltar outros dois brasileiros presos na Operação Trapiche. Contra eles, não foram encontrados elementos que justificassem a manutenção de suas prisões, segundo os pedidos. As ordens de soltura da Trapiche são para: Jean Carlos de Souza, preso no centro da capital paulista, perto do hotel em que estava hospedado, e Michael Messias, músico preso no Rio de Janeiro.
A PF e o Ministério Público Federal (MPF) apontaram falta de elementos para manter os dois presos. Foi pedido também a conversão de outras duas prisões, que eram temporárias, em preventivas. Todos os acusados presos negaram envolvimento com atos terroristas.
Israel X Brasil
A Trapiche gerou desentendimentos entre as diplomacias do Brasil e de Israel, no início de novembro, em meio à guerra contra o Hamas, na Faixa de Gaza. Logo após a operação da PF, Israel divulgou nota informando que o serviço de inteligência do país, conhecido como Mossad, participou da ação que prendeu suspeitos de integrar uma célula do Hezbollah no Brasil. O grupo do Líbano entrou na guerra ao lado dos terroristas do Hamas contra Israel.
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, saiu à público na sequência e rechaçou a declarações do premiê de Israel, Benjamin Netanyahu. "Nenhuma força estrangeira manda na Polícia Federal", disse o ministro.
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