A incrível transformação de Brendan Fraser em "A Baleia"
Filme que estreia nesta 5ª feira (23.fev) tem três indicações ao Oscar e traz desconforto para quem vê

Cleide Klock
Este filme está rodeado de polêmicas. Levanta debates sobre a forma que expõe o personagem principal e até como o espectador pode julgá-lo diante das duas horas de duração. "A Baleia", que estreia nesta 5ª (23.fev) no Brasil, também está nos holofotes pelas atuações brilhantes que garantiram indicações ao Oscar de melhor ator para Brendan Fraser e melhor atriz coadjuvante, para Hong Chau. O filme concorre ainda na categoria de melhor maquiagem e cabelo, que tiveram participação especial na transformação do personagem.
É dentro de uma pequena casa que quase toda a história acontece. E, vamos conhecer Charlie profundamente na sua última semana de vida. Ele dá aulas online, sem ligar a câmera. Esse detalhe já nos dá uma pista sobre a jornada que teremos diante desse personagem: depressão, falta de autoestima, culpa, arrependimento, luto, deterioração do próprio corpo e redenção. Uma história desconfortável em todos os sentidos, mas que nos faz refletir sobre preconceito e as armadilhas da vida.

Transformação brilhante
É o ator Brendan Fraser quem brilhantemente nos guia nesta trama. Ele é Charlie, um homem obeso, com mais de 270 quilos, confinado em casa, com dificuldades de locomoção, diversos problemas de saúde e uma vontade imensa de se reconectar com a filha para morrer tranquilamente.
Para mostrar o que esse papel significa para Fraser e a transformação - não apenas física - que ele teve que passar, vale voltar no tempo e relembrar os papéis que marcaram a carreira do ator, principalmente em filmes de aventura, comédia e fantasia como em "George, o Rei da Floresta" (1997) e "A Múmia" (1999), seu principal filme da carreira até então.
Depois do estrelato nos anos de 1990, Fraser passou duas décadas atuando em papéis pequenos e lidando com uma sequência de problemas pessoais. Por isso, esse novo filme também é visto como o retorno do ator à Hollywood, uma história de superação pessoal que vai além do personagem.
O diretor Darren Aronofsky ("Cisne Negro", 2010; "O Lutador", 2008) contou que levou 10 anos para encontrar o ator perfeito para esse papel.
"Com Brendan foi puramente a conexão de vê-lo como ser humano, encontrá-lo e sentir a energia dele. Foi um sentimento profundo que eu tive, que era a pessoa certa", disse o diretor no Festival Internacional de Cinema de Toronto.

Próteses e maquiagem perfeitas
E assim começou a transformação de Brendan Fraser em Charlie. Para viver o personagem com mais de 270 quilos, o ator teve que usar próteses criadas em impressoras 3D. Brendan também ganhou peso para interpretar o professor, mas o trabalho mais árduo aconteceu no dia a dia das filmagens. Eram seis horas diárias de preparação: as próteses e macacões para deixá-lo com o corpo de Charlie, pesavam de 22 a 136 quilos. Já a maquiagem precisava fazer o acabamento e esculpir o rosto do ator, mas sem interferir nas expressões faciais responsáveis por grande parte da interpretação.
Como todo desenvolvimento das próteses foi feito durante a pandemia, o próprio ator que teve que tirar suas medidas.
"O corpo de Charlie é tão preciso, desde o tamanho dos poros, a colocação de cada costura, que a primeira vez que entrei e vi o torso em um manequim, eu pensei que alguém tinha me levado ao museu de arte moderna ou algo assim, porque havia um trabalho de arte na minha frente", contou o ator no TIFF 2022.
"Eu acredito que nunca tínhamos visto antes no cinema uma combinação de maquiagem e figurino com essa mesma autenticidade, até agora", completou Fraser.

Além de vestir o corpo do personagem, foi preciso todo um preparo para psicologicamente entrar na mente e na alma de Charlie. Um trabalho feito com acompanhamento de associações que auxiliam pessoas com obesidade mórbida e também pacientes no fim da vida.
A atuação de Fraser foi aplaudida pelas maiores premiações do cinema, já acumula cerca de 60 indicações, e Hollywood o recebeu de volta de braços abertos como mais uma história de superação, daquelas que a terra do cinema tanto gosta de celebrar. E, claro, é um dos grandes favoritos para levar a estatueta do Oscar no dia 12 de março.
Uma história dolorosa que não é agradável de assistir, mas é interessante ver.
"A Baleia" é baseado na obra de mesmo nome de Samuel D. Hunter, que também escreveu o roteiro. Além de Fraser e Hong Chau - indicada ao Oscar como atriz coadjuvante, estão ainda no elenco Sadie Sink ("Stranger Things"), Samantha Morton ("The Walking Dead") e Ty Simpkins ("Jurassic World").
A produção é assinada pelo A24, estúdio que tem a maior quantidade de indicações ao Oscar, 18 no total e que é responsável por "Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo" (2022), "Close", "Aftersun", entre outros.