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Entenda por que o Nepal tem tantos acidentes aéreos

Queda de um bimotor da Yeti Airlines, com 72 passageiros, foi a tragédia mais recente no país

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Avião da Yeti Airlines que caiu em Pokhara, no Nepal
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A queda de um avião bimotor, há quase uma semana no Nepal, deixou 72 pessoas mortas e diversos questionamentos sobre o que teria ocorrido. Registrada à luz do dia, no último domingo (15.jan), a tragédia soma-se a outros 41 acidentes aéreos fatais ocorridos, desde 1946, no país, e revela as condições desafiadoras que a região impõe à aviação.

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O SBT News consultou o especialista e youtuber Lito Sousa, que tem mais de 35 anos de experiência em manutenção de aeronaves, para entender o porquê de tantos acidentes e o que pode ter acontecido na queda do bimotor da Yeti Airlines.  

Apesar de reforçar que ainda é cedo para apontar as causas, Sousa acredita que pode ter havido um estol, ou seja, a perda de sustentação da aeronave. A percepção parte da análise de um vídeo feito do solo dos últimos momentos do avião. Esse tipo de falha é responsável por 36% das ocorrências fatais da aviação geral, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).

"O movimento de asa para baixo é similar ao que ocorre em eventos de perda de sustentação, chamado de estol, por baixa velocidade. No entanto, não é possível afirmar que foi isso que ocorreu só por essas imagens", explica Lito. 

Caixa preta

O especialista lembra que existe uma série de mecanismos e procedimentos para evitar acidentes como o registrado no Nepal. "A aviação trabalha com redes de segurança. Quando um acidente ocorre, diversas dessas redes foram ignoradas ou não foram seguidas à risca. É assim que a aviação mede o seu nível de segurança."

Os gravadores de voz, conhecidos como caixa-preta, e os dados de voo da cabine da aeronave ATR-72 foram recuperados pelas equipes de resgate. Eles devem ser usados nas investigações lideradas por uma equipe de especialistas do fabricante frânces para descobrir a causa da tragédia. 

A autoridade francesa responsável pela investigação de acidentes aéreos, BEA, a Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA) e a Autoridade de Aviação Civil do Nepal também estão envolvidos. 

O acidente é o mais mortal, desde 1992, no Nepal. Na época, um avião da Pakistan International Airlines caiu em uma colina enquanto tentava pousar na capital Katmandu, matando todas as 167 pessoas a bordo. Ao total, foram 42 acidentes aéreos fatais registrados, desde 1946, no país, de acordo com a Safety Matters Foundation. O número de mortos chega a 879.

Segundo Lito Sousa, o alto índice de tragédias na região pode ser explicado por três fatores:

Topografia hostil

O Nepal é rodeado por oito das dez montanhas mais altas do mundo, incluindo o Monte Everest. É também o detentor do que dizem ser o aeroporto mais perigoso do mundo, em Lukla, porque ele está situado em uma encosta, apresentando uma pista bastante curta e inclinada. 

A pista do Aeroporto de Lukla é muito curta, com apenas 457 metros de comprimento
A pista do Aeroporto de Lukla é muito curta, com apenas 457 metros de comprimento | Reprodução

"O terreno montanhoso e as operações em altas altitudes tornam o Nepal um dos países mais desafiadores para as operações aéreas. Não tem espaço para fazer longas aproximações, em que o avião vem estabilizado. Ele está sempre fazendo uma curva em cima do caminho, perto da pista. Então, não tem os mesmos níveis de segurança encontrados em países mais planos, como o Brasil", analisa o youtuber. 

Condições climáticas adversas

Justamente por estar rodeado por montanhas e ser o país de maior altitude do mundo, as condições climáticas no Nepal são imprevisíveis e os problemas de visibilidade em voos são comuns. Contudo, no dia do acidente da Yet Airlines, as condições climáticas eram favoráveis, com ventos fracos, céu claro e temperatura bem acima de zero.

Pouca infraestrutura

Companhias aéreas do Nepal estão, desde 2013, proibidas de voar para a União Europeia devido aos "fracos padrões de segurança e treinamento". Ainda que não tenha sido apontado como causa do acidente da Yeti Airlines, o aeroporto recém-inaugurado da cidade de Pokhara, onde houve a queda, não tinha um sistema de pouso por instrumentos que guiasse os aviões para a pista, revelaram autoridades do país.

"A geografia do Nepal e a mudança rápida das condições meteorológicas por lá, justamente por causa da geografia, junto com uma infraestrutura pobre de auxílio à navegação aérea e uma demora por parte dos órgãos de lá em cumprir com os protocolos mundiais de segurança, elevam muito o risco aéreo naquele país", pontuou Lito.  

O sistema é responsável por ajudar os aviões a voarem com segurança quando o piloto não consegue manter contato visual com obstáculos ao redor e com o solo. Segundo o porta-voz da Autoridade de Aviação Civil do Nepal, Jagannath Niroula, o item só será instalado em 26 de fevereiro.

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