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Por que prisão do filho de 'El Chapo' gerou onda de violência no México?

Entenda quem é Ovidio Guzmán, herdeiro do Cartel de Sinaloa, e a relação entre sua captura e a saga do pai

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El Ratón e El Chapo
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Um belo jardim botânico, parques tranquilos e bem arborizados, um estádio de futebol famoso e uma orla paradisíaca. Estes são alguns dos pontos turísticos do Rio de Janeiro, e também de Culiacán, capital do estado de Sinaloa, no norte do México.

Mas, basta uma breve pesquisa para entender que, apesar de muito distantes no mapa, ambas as cidades vivenciam a mesma realidade ambígua: no buscador, paisagens encantadoras e convidativas ao turismo dividem espaço com registros de confrontos violentos entre forças de segurança e milícias armadas.

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"Culiacán é perigoso?", indica a principal tendência de busca relacionada à região no Google. Uma fama construída por gerações de narcotráfico e, recentemente, alimentada pelo streaming. Se questionados, certamente, os moradores da cidade responderiam um grande e sonoro "sim". Ainda mais esta semana.

Na última 5ª feira (05.dez), a capital de Sinaloa amanheceu ao som de tiros e explosões. E quem ousou sair de casa se deparou com barricadas e veículos em chamas, espalhados pela cidade. Nem mesmo um avião da AeroMéxico, que decolava rumo à Cidade do México, no momento dos ataques, se safou do tiroteio. Vídeos que circulam na internet mostram passageiros abaixados atrás das poltronas, depois que o avião foi atingido por disparos de integrantes do cartel, nos arredores do Aeroporto Internacional Federal de Culiacán.

Um cenário de guerra que se repete na vida da população local. Em 2019, os moradores enfrentaram mais de 24 horas de terror no episódio que ficou conhecido como "Culiacanazo". O motivo por trás dos atentados, há mais de 3 anos e nesta semana, tem nome e sobrenome: Ovidio Guzmán-López, de 32 anos, também conhecido como "El Ratón" ou "El Nuevo Ratón" (do espanhol, "O Rato" ou "O Novo Rato"), filho do narcotraficante Joaquín Guzmán, o famoso "El Chapo".

Descrito pela mídia mexicana como "pouco apegado às extravagâncias" do mundo do crime e aficionado por apostas em cavalos e rinhas de galo, Ovidio seria um dos quatro filhos de Joaquín Guzmán com sua segunda esposa, Griselda López Pérez. De acordo com a Televisa, ele e os irmãos carregam a reputação de serem "jovens impetuosos e excessivamente violentos", porém sem as "grandes habilidades estratégicas" do pai. Além dele, há pelo menos outros 10 filhos conhecidos de "El Chapo".

Assim como no passado, a onda de violência teve início após a prisão de Ovidio, que é apontado como um dos atuais líderes do Cartel de Sinaloa, fundado pelo pai, que está preso desde 2016, nos Estados Unidos. Segundo o Departamento de Justiça dos EUA, a organização criminosa comandada por "El Ráton" e os irmãos Iván Archivaldo e Jesús Alfredo, carinhosamente batizada de "Los Chapitos", ainda é a principal responsável pelo fornecimento e distribuição de drogas no território norte-americano.

Pelo menos 29 pessoas morreram desde o início dos atentados em Culiacán, e os confrontos continuam, apesar da chegada das Forças Armadas mexicanas à região. O ministro da Defesa, Luis Cresencio Sandoval, esclareceu, nesta 6ª feira (06.dez), segundo informações da Associated Press, que as baixas incluem 19 suspeitos de integrar o cartel de drogas e 10 militares, e que não há relatos de vítimas entre civis.

O governo mexicano também confirmou a transferência de Ovidio Guzmán para a sede da Procuradoria-Geral da República, na Cidade do México, especializada no combate ao crime organizado, onde foi fichado. Na sequência, o narcotraficante foi encaminhado para o Centro Federal de Readaptação Social (Cefereso) Número 1 Altiplano, também conhecido como Presídio de Almoloya. A medida indicaria um desfecho muito diferente da operação de 2019, quando, para dar fim ao "Culicanazo", autoridades decidiram por libertar "El Ratón" horas depois de sua prisão.

Contudo, ironicamente, a mesma prisão de segurança máxima que pode vir a ser um dos últimos endereços do herdeiro do Cartel de Sinaloa, já foi palco de uma das maiores "proezas" de "El Chapo". Foi de lá que, em 2015, Joaquín Guzmán realizou sua segunda e mais engenhosa fuga, utilizando um túnel de mais de 1.500 metros abaixo da área do chuveiro de sua cela. O feito, somado às centenas de galerias subterrâneas usadas pelos traficantes para driblar os controles nas fronteiras mexicanas, rendeu ao líder da organização a alcunha de "Senhor dos Túneis".

O destino mais provável de Ovidio, no entanto, tende a ser o mesmo que o do pai, depois de ser recapturado pelo agente do DEA - órgão federal de repressão e controle de narcóticos dos Estados Unidos -, Ray Donovan, outra "personalidade" dessa saga policial: a extradição e a condenação em um Corte norte-americana. No caso de "El Ráton", o pedido para que ele ganhe uma passagem só de ida para os EUA foi emitido em setembro de 2019, de acordo com o governo mexicano.

Em solo norte-americano, "El Chapo" foi condenado a prisão perpétua com acréscimo de 30 anos por crimes de condução de organização criminosa, distribuição internacional de cocaína, de heroína, de metanfetamina e de outras inúmeras substâncias, além de tortura e conspiração para assassinar inimigos. Para evitar novas mirabolâncias de Guzmán, a Justiça dos EUA determinou que a pena fosse cumprida na Supermax do Colorado, considerada a prisão federal mais segura do país.

Tudo indica que o empasse sobre o futuro de Ovidio Guzmán seja resolvido pelo Governo do México já nos próximos dias. Isto porque, no dia 09, o presidente dos EUA, Joe Biden, desembarca no país para participar da Cúpula de Líderes da América do Norte.

Sitiada pelos homens de "El Ratón", Culiacán aguarda, aflita, mais uma vez, as cenas dos próximos capítulos.

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