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Especial COP27: Quem tem medo do aquecimento global?

Por que o fenômeno não é mais teoria? É fato e precisa ser encarado por cada um de nós, alertam especialistas

Especial COP27: Quem tem medo do aquecimento global?
Aquecimento
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O aquecimento global não é mais uma possibilidade sobre o que pode acontecer se não diminuirmos as emissões de gases de efeito estufa. Nem mesmo uma hipótese para explicar porque vemos ou convivemos com mais desastres naturais. A discussão sobre o fenômeno, se estaria acontecendo ou não, ficou para trás.

É um fato para a ciência. Incluindo um dos maiores especialistas no assunto, com 40 anos de pesquisas. Eduardo Assad explica: "Não tem como negar. Nem com o discurso de que a Terra sempre aqueceu ou resfriou. Sim, naturalmente acontece. Mas em intervalos de aproximadamente 160 mil anos. Não em um ou dois séculos. O homem acelerou o processo e, se continuar assim, pode chegar ao ponto de retorno logo".

Em 2021, a temperatura média global foi 1,1 °C maior do que antes do período pré-industrial, conforme divulgado pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) da Organização das Nações Unidas (ONU).

Por que citam o período pré-industrial para explicar o clima atual? Vale a pena voltarmos um pouco no tempo para entender.

Até 1850 os seres humanos cultivavam alimentos e produziam bens de consumo de forma mais artesanal, mesmo já utilizando o ferro e contando com máquinas movidas a carvão. Foi quando a eletricidade se espalhou, mais fontes de petróleo foram descobertas e a indústria química gerou o aço. Assim, ferrovias puderam ser expandidas e o que se fabricava poderia ser facilmente distribuído. Inclusive, uma das grandes invenções, o carro. As indústrias, com linhas de produção e a necessidade de uma organização da mão-de-obra, inauguraram a famosa revolução -- ou seria problemão.

Todas as fases da produção industrial ganharam escala. A necessidade de mão-de-obra provocou o êxodo rural. Cidades surgiram, concentrando gente, construções, asfalto, carros? e mais gente! Um círculo vicioso e crescente, insustentável para recursos naturais, com extração mal planejada e poluição visivelmente demasiada.

Pneus
É preciso refletir muito para entender que situações como essa não dariam certo? | Domínio público

A preocupação com o meio ambiente iniciou 100 anos depois. Nem poderia ser chamada de "preocupação", pois alerta surgiu com uma catástrofe.

Smog
À princípio se achava que seriam mais uns dias de névoa. Mas, essa era tóxica | Topical Press Agency

Londres, 1952 -- A capital inglesa foi tomada por uma "névoa". Comum, não? Até as pessoas adoecerem. Então, chamaram de "névoa matadora". Sim, porque quatro mil londrinos não resistiram. Quatro anos de análises científicas e a Grã-Bretanha, então, percebeu que a situação poderia se repetir. Foi criada a Lei do Ar Puro. Ainda assim, muitos políticos e até estudiosos diziam ser um mal necessário para o desenvolvimento.

Assim, desenvolvemos. As indústrias. O comércio. Tudo globalizado. Assim como as catástrofes naturais. Até as pandemias.

Como o aquecimento global se relaciona com esses problemas?

Quanto mais o planeta aquece, os polos derretem e o oceano sobe. Pesquisas científicas mostram possibilidades, como a de que o nível do mar poderia subir de 18 a 59 cm até o final do século. Ilhas desapareceriam e algumas praias, como as do nordeste brasileiro, perderiam aproximadamente 100 metros de costa.

"Outra consequência é a alteração do regime de chuvas, importantíssimo para produção de alimentos", alerta Assad. Áreas áridas ficariam ainda mais secas e as úmidas receberiam ainda mais água. As inundações serão mais frequentes. Assim como as tempestades e outros fenômenos mais agressivos, como os ciclones.

Tais mudanças interfeririam ainda no ecossistema, atrapalhando a rotina da fauna e da flora. Por exemplo, pesquisadores do Met Office, no Reino Unido, e da Universidade Metropolitana de Osaka, no Japão, dizem que o "pico de floração" de espécies como a cerejeira foram adiantados em 11 dias.

Nós humanos também seríamos impactados diretamente na saúde. O calor e a desidratação são causadores de cálculos renais, que aumentariam entre 2,2% e 3,9%, dependendo dos níveis de emissão de gases do efeito estufa, como mostra uma análise do Hospital Infantil da Filadélfia realizada este ano.

Como podemos ajudar -- ou melhor, deixar de atrapalhar?

Assim como nosso corpo e todos os organismos terrestres, a Terra se adapta a muitas mudanças, inclusive as climáticas. Mas não dá conta se acontece bruscamente. Aliás, em suma, é o que está acontecendo. A humanidade pode extrair ou interferir na natureza, mas não na velocidade e agressividade que faz.

A consequência pode ser observada no gráfico comparativo logo abaixo, redesenhado pela equipe do Jornal da USP (Univerdidade de São Paulo) com base nas informações do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), um relatório atualizado de tempo em tempo, conforme novidades surgem, pela ONU.

IPCC
Entre 1850 e 2020, a linha de nível da tenperatura dá um salto. Coincidência ou sinal da revolução industrial? | Jornal da USP

A ONU tem uma equipe dedicada a analisar o problema com centenas de engenheiros ambientais, biólogos, climatologistas, meteorologistas e outros profissionais dos 195 países signatários. Juntos, compilam informações de estudos e lançam o IPCC, que já teve seis publicações. Nesse documento, uma análise tem resultado unânime. De que, sim, a temperatura oscila. Mas, num diferencial de menos de meio grau Celsius. Já nos últimos 150 anos oscila, só que com muito mais força para cima (como se vê no gráfico acima).

O que aconteceu nesse tempo, diferente dos milênios anteriores? Para especialistas, a crescente ocupação e intervenção da humanidade.

"Cerca de 70% das emissões vêm da queima de combustíveis fósseis, para geração elétrica, transporte, produção de aço e cimento. Outros 30% vêm da agropecuária. É preciso que haja uma mudança radical. Na segunda metade do século, teremos que retirar gases do efeito estufa da atmosfera. Florestas, por exemplo, retiram gás carbônico através da fotossíntese", diz Philip Fearnside, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (Recn).

Desmatamento
No Brasil, desmatamento corresponde a 46% das emissões, conforme Observatório do Clima | Pixabay

"Está próximo do fim o prazo para o mundo parar de emitir GEEs e controlar o aquecimento global em 1,5 °C a partir de 2030", para Assad.

1,5
Mais de 1,5°C de aquecimento global poderia tornar a Terra insegura para nós, dizem cientistas | Pixabay

São diferentes as consequências caso o planeta aqueça 1,5 °C ou 2 °C. "É chocante como a diferença de 2 °C é mais impactante do que o de 1,5 °C. Assim como os cenários de baixa emissão não são todos iguais. Fará diferença o momento em que as emissões começarem a cair e as estratégias adotadas", alerta Roberto Schaeffer, docente de pós-graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e revisor do capítulo 2 do relatório do IPCC.

Num mundo 1,5 °C mais quente na média, 6% dos insetos, 8% das plantas e 4% dos vertebrados perderiam mais da metade de sua faixa geográfica climaticamente determinada. Com 2 °C, esse impacto pode atingir 18% dos insetos, 16% das plantas e 8% dos vertebrados. O estudo compara ainda os impactos para o degelo do Ártico. Com 1,5° C, estima-se que pode ocorrer um verão totalmente sem gelo por século. A possibilidade aumenta para pelo menos um por década com 2 °C de aquecimento. Sobre os corais, o relatório projeta um declínio de 70% a 90% com o menor aquecimento, podendo chegar a 99% com 2 °C, com risco de perda irreversível de espécies marinhas e costeiras.

COP27

Entre 6 e 18 de novembro, em Sharm El Sheikh, no Egito, líderes mundiais vão retomar a discussão sobre como manter o planeta vivo. É Conferência das Partes da Organização (COP) das Nações Unidas (ONU) de número 27. As principais informações você confere no SBT News.

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