Brasil despenca em ranking de liberdade de expressão
Em uma década, país só não perdeu menos posições que Afeganistão e Hong Kong
O Brasil perdeu força no quesito liberdade de expressão e acesso à informação, isso no decorrer da última década. No intervalo de 2011 a 2021, o país foi o terceiro a perder mais posições no Ranking Global de Expressão, que é atualizado anualmente pela organização não governamental (ONG) Artigo 19. Com a última atualização do levantamento, que foi divulgada nesta 5ª feira (30.jun), o Brasil figura na 89ª colocação.
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No mesmo período, ou seja, dez anos, apenas dois países perderam mais posições que o Brasil no ranking voltado à liberdade de imprensa: Hong Kong e Afeganistão. A primeira nação perdeu, na prática, a autonomia política e passou, desde o fim de 2020, a ser controlada pelo Partido Comunista Chinês. No segundo caso, o grupo terrorista Talibã assumiu o controle do governo em setembro do ano passado.
Para a equipe da própria ONG, chama a atenção a situação brasileira no recorte dos últimos seis anos. Isso porque o país ocupava a 31ª em 2015, ficando no bloco onde a liberdade de expressão é considerada "aberta". Em 2021 (que é o ano mapeado na classificação de agora), 58 posições foram perdidas. Assim, ocupa-se a 89ª posição e integrando o grupo de países onde a liberdade de expressão é avaliada como alvo de "restrições".
Em toda a América Latina, o Brasil está à frente de apenas cinco países: Colômbia, Cuba, El Salvador, Nicagarágua e Venezuela. Situação essa que preocupa a diretora-executiva da Artigo 19, Denise Dora. "Saímos de uma nação considerada aberta para restrita em pouquíssimo tempo", lamenta a representante da ONG.
"Um presidente que foi eleito, e que deveria prezar a democracia e a liberdade de expressão, o que não é o caso."
Sem mencionar o nome de Jair Bolsonaro, Denise tece críticas ao atual mandatário brasileiro. De acordo com ela, o político do PL não tem prezado pelos valores democráticos. "Esse dado é um dos mais chocantes de todo o mundo, não só pela queda em si, mas por ter ocorrido de maneira mais acentuada sob a liderança de um presidente que foi eleito, e que deveria prezar a democracia e a liberdade de expressão, o que não é o caso, como mostrado no relatório."
Liberdade de expressão no Brasil
De acordo com a ONG responsável pelo ranking, 2021 foi marcado por ataques contra jornalistas e veículos de comunicação no Brasil. O relatório aponta que foi o período de maior registro desse tipo de ocorrência desde os anos 1990. O material garante que o país contou com exatos 430 ataques desse tipo de janeiro a dezembro do ano passado. Número esse que representa mais que o dobro anotado em 2018, ano em que Bolsonaro foi eleito presidente da República.
"Jornalistas, comunicadores e defensores de direitos humanos têm vivenciado frequentemente no governo Bolsonaro."
"O diagnóstico reflete o que jornalistas, comunicadores e defensores de direitos humanos têm vivenciado frequentemente no governo Bolsonaro. Basta lembrar que, há menos de um mês, Bruno Araujo Pereira e Dom Phillips foram assassinados na Amazônia. E até hoje não se sabe quem foi o mandante do crime", critica Denise Dora.