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Pandemia é gatilho para alta de casos depressivos, avaliam especialistas

Isolamento, insegurança econômica e excesso de informação foram as principais influências para o transtorno

Pandemia é gatilho para alta de casos depressivos, avaliam especialistas
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A pandemia de covid-19 trouxe consigo, além de uma crise sanitária global, impactos significativos na saúde mental da população, aumentando os níveis de insegurança, ansiedade e medo de um inimigo invisível que, até então, era desconhecido. Para os especialistas consultados pelo SBT News, o período de isolamento social foi um gatilho que derrubou muitas pessoas, fazendo com que sintomas depressivos antes não identificados, piorassem com o passar do tempo.

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De acordo com um levantamento desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 5% dos adultos em todo o mundo sofrem de depressão. O número, no entanto, pode ser maior, uma vez que os pesquisadores alertam para a negligência da saúde mental durante a pandemia, que, apesar dos conhecimentos adquiridos nas estratégias de prevenção e tratamento, dificultou ainda mais a destinação de recursos e a realização de diagnósticos de maneira oportuna.

Para o Yuri Busin, psicólogo e doutor em neurociência do comportamento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, o início do isolamento social juntamente com a sensação de insegurança foram os principais responsáveis pela desestruturação do cotidiano da população. "Para aqueles que tinham propensão um pouco maior ou que já tinham os transtornos de ansiedade e depressão, o período de quarentena fez com que muitos quadros se agravassem", diz Busin. 

"O desemprego, o acúmulo de tarefas, a adoção do home office e a readaptação de vida causou impactos muito grandes na vida das pessoas", pontua o psicólogo. "Todas as faixas etárias foram afetadas: as crianças que não tiveram mais socialização, os adolescentes que tiveram mais dificuldade para estudar e perderam diversos eventos, os adultos que não entendiam o que ia acontecer no futuro e não podiam se encontrar com os familiares, e os idosos que, muitas vezes, sofreram com a solidão", explica.

Ainda segundo a OMS, em países de alta renda, cerca de metade das pessoas que sofrem de depressão não são diagnosticadas ou tratadas. Esse índice aumenta para 80% a 90% em países de baixa e média renda. Além disso, estudos mostram que existem pessoas que foram impactadas apenas por assistirem cinco minutos de más notícias sobre a covid-19, demorando de três a quatro horas para se recuperarem mentalmente.

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Para o psiquiatra e psicoterapeuta Wimer Bottura, presidente do Comitê de Adolescência da Associação Paulista de Medicina, "o exagero na informação gera muito medo e as pessoas perdem o quadro de referência, uma vez que toda informação grandiosa ou espetaculosa gera ansiedade". Isso acontece, principalmente, quando o indivíduo não tem certeza ou previsão do que pode acontecer, ou seja, quando não há uma informação precisa do futuro a curto ou longo prazo - o que foi o caso do início da pandemia e a implementação das restrições sanitárias.

Assim como Busin, Bottura também chama a atenção para a influência do isolamento social no aumento de diagnósticos de ansiedade e depressão. Ele destaca que, o que pode ter sido o principal causador dos transtornos sociais, foi o longo tempo de quarentena e o restabelecimento constante da medida, geralmente causando muito incômodo aos cidadãos e, até mesmo, ocasionando situações de carência. Ao mesmo tempo, a preocupação com a economia, o desemprego e possíveis perdas também atingiu grande parte da população, o que gerou um aumento na insegurança e aflição sobre os dias futuros, além de uma certa revolta.

"Ver uma pessoa perdendo dinheiro e ver outro ganhando, ostentando ou tirando proveito da crise gera uma sensação de injustiça, o que acaba se tornando uma profunda revolta, que, contida, gera a depressão e ansiedade. Essa diferença [social] também acaba resultando em frustração e em uma agressão silenciosa contra aquele que está reprimido e sem recursos para apenas sobreviver", pontua o psiquiatra.

Principais sintomas da depressão | SBT News

Embora muitas pessoas não saibam, a alimentação também está relacionada diretamente com a saúde mental. Assim como explica a nutricionista Alessandra Gusmão, todo paciente que está sofrendo de depressão apresenta desequilíbrio nutricional, dado que a inflamação subclínica crônica do corpo e do cérebro provoca a diminuição da produção de neurotransmissores e hormônios que são responsáveis pela alegria, pelo bem estar e pela harmonia metabólica do organismo.

"O excesso de radicais livres e o mau funcionamento do intestino são fatores que precisam ser modulados para que a pessoa possa melhorar. Quando o sistema de recompensa do cérebro é ativado, buscamos por alimentos mais gostosos e de paladar doce e vamos atrás daquilo que nos lembra situações de alegria", explica Alessandra. Segundo ela, a dieta de quem está sofrendo de depressão deve ser alterada gradualmente, priorizando alimentos naturais, além de um maior consumo de água. Refrigerantes, bebidas alcóolicas e massas, por outro lado, devem ser evitados. 

Outro ponto importante que pode agravar os sintomas depressivos e demais doenças crônicas é a ausência de noites bem dormidas. O chamado sono restaurador é fundamental para o equilíbrio do ritmo circadiano, que controla as mudanças dos estados mentais e físicos que ocorrem durante o período de 24 horas. Apesar dos ansiolíticos serem utilizados para auxiliar o relaxamento da mente para dormir, a reorganização do ritmo biológico para a volta do sono natural deve ser prioridade.

Diante de alguns casos de ansiedade e depressão, a introdução de medicamentos de uso contínuo se tornam uma realidade e uma solução a mais para diminuir os danos causados por ambos os transtornos. Bottura ressalta, porém, que o uso do medicamento controlado é um complemento para o acompanhamento psicológico.

O ponto destacado é lembrado também pela médica psiquiatra Adriana Zenaide Figueira, atuante na clínica Ampare. Na visão da especialista, "tão importante quanto ir ao médico para avaliar a necessidade de iniciar uma medicação, é também entender na terapia quais são os pontos fortes do paciente para que isso seja usado a favor do tratamento". Ela ressalta, ainda, que o método é positivo para todas as idades, já que é na terapia que a pessoa acaba se conhecendo melhor.

Após muitas mudanças sociais e na saúde, Bottura recorda que "antigamente havia um certo antagonismo, mas hoje há conversa, uma convergência entre psicólogos e médicos", deixando claro que o intuito dos profissionais é o mesmo: a melhora do paciente. "A coisa que um profissional de saúde mais gosta quando trata um paciente é o momento que pode tirar os medicamentos. Significa que teve êxito no tratamento. Os médicos e psicólogos vivem dos pacientes que melhoram", frisa o presidente do comitê da APM.

"Os tratamentos são independentes, mas se complementam. Um não é mais importante do que o outro", complementa a doutora Zenaide quanto às mudanças e ligação da medicina com a terapia.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Farmácias, o aumento no consumo de antidepressivos foi de pelo menos 17% no início da pandemia. Dividido por subtipos, o termo "antidepressivo" traz consigo a preocupação da dependência para uma sociedade escassa de informações. 

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Levando em consideração essa problemática, a psiquiatra explica: "a maioria absoluta das medicações usadas são tarja vermelha, então, classificadas como antibióticos, anti hipertensivos e antidiabéticos. Não há o risco de dependência. As medicações que podem causar dependência são as benzodiazepínicas, que são as de tarja preta. A supervisão médica, no entanto, impede que isso aconteça".  Adriana reforça que o mito de pacientes em relação à dependência ocorre quando muitos querem parar de forma abrupta, sem avaliação. O chamado "desmame" é possível apenas com paciência, cuidado e orientação.

Para os especialistas, o modo como as pessoas "saem do isolamento social" também deve ser monitorado, já pode influenciar e, até mesmo, agravar os casos dos transtornos psicológicos. Segundo Bottura, quando o período de quarentena acaba, "muitas pessoas saem desesperadas, vorazes, de forma descuidada. Isso acontece porque elas querem compensar o tempo perdido, sair para lugares que não saíram, ter conversas que nunca tiveram. Uma coisa agrava a outra, já que o isolamento gera um tipo de carência e as pessoas saem se expondo demasiadamente, querendo romper com aquela 'cerca' que lhes fora imposta".

A afirmação é sustentada por Adriana. Para ela, existe uma grande diferença entre o paciente optar pela interrupção nas relações sociais e a imposição de um isolamento sem precedentes e com tempo indeterminado. "Nós somos seres sociáveis, o convívio e as relações com as pessoas são muito importantes. Então, essa privação, que também resultou no distanciamento de parentes e amigos, pode ter contribuído para isso", explica. Agora, com o ritmo social voltando ao normal, "a manutenção gradual de rotina deve ser priorizada para auxiliar na proteção contra os transtornos".

Cuidados para evitar a depressão e ansiedade

Assim como determinadas atitudes fortalecem o sistema cardiovascular, alguns hábitos e comportamentos são fundamentais para manter a saúde mental. Além de alimentos mais nutritivos e o cuidado com o sono, a prática de atividades físicas também é recomendada, uma vez que os esportes promovem a liberação da endorfina, geralmente diminuindo a tendência à tristeza e ao desânimo. O aconselhado, segundo os especialistas, é incorporar a prática de exercício físico na rotina ao menos três vezes na semana.

Outra dica é reservar momentos para se dedicar a atividades prazerosas, que proporcionem a sensação de felicidade, tranquilidade e bem-estar. Tais atitudes são essenciais para manter a mente ativa e o pensamento positivo. A leitura de livros, meditação, terapias, cultivo hobbies e viagens são algumas das recomendações. Estar entre pessoas que fornecem apoio e confiança também é de grande importância, bem como estimular a construção de um ambiente acolhedor e procurar ajuda qualificada. 

Para saber mais informações, o Ministério da Saúde fornece uma cartilha de saúde mental, que aborda desde a atenção básica para doenças crônicas até os tratamentos adequados. O material pode ser acessado através deste link.

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