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Exclusivo: na fronteira do Afeganistão, esperança e restrições

Repórter do SBT, revela, a partir do Paquistão, os sonhos dos afegãos em retornar ao país que está dominado pelo grupo extremista islâmico

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Exclusivo: na fronteira do Afeganistão, esperança e restrições
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Nas ruas cheias e de trânsito caótico de Peshawar, no centro do Paquistão, milhares de pessoas fazem compras, conversam com os amigos ou descansam na sombra que mal disfarça o calorão de quase 40 graus. Nos cenários exóticos da sexta maior cidade do país, próxima à fronteira com o Afeganistão, há um detalhe que chama a atenção de olhos estrangeiros. São quase todos homens.

As mulheres que estão nas ruas ou nas motos -sempre na garupa e sentadas de lado- estão acompanhadas de seus maridos ou de algum familiar. Poucas saem sozinhas. Neste grupo minoritário em espaços públicos, muitas usam a burca, veste feminina que cobre todo o corpo, inclusive o rosto.

Mulheres usam a burca, veste feminina que cobre todo o corpo, inclusive o rosto | Sérgio Utsch/SBT News

Peshawar é uma das cidades paquistanesas com maior ligação cultural com o Afeganistão. Não à toa, é a cidade do Paquistão onde mais se fala o pachto, também conhecido como idioma afegão, uma das línguas oficiais do país vizinho. A cidade de quase 2 milhões de habitantes, capital do estado de Khyber Pakhtunkhwa e centro administrativo do Território Federal das Áreas Tribais, é uma das que mais sentem o impacto do que se passa do outro lado da fronteira que separa os países, mas não os milenares laços culturais.

Peshawar é uma das cidades paquistanesas com maior ligação cultural com o Afeganistão | Sérgio Utsch/SBT News

Hoje, um dos assuntos que mais piscavam nas telas de Whatsapp dos tradicionais, mas extremamente conectados pashtuns -grupo tribal que tem o pachto como língua- eram as últimas notícias do Afeganistão, onde o Talibã anunciava a conquista do Vale do Panjshir, um último bastião de resistência no país.

Muitos ficaram felizes com a conquista. Eram quase 2 da tarde e a temperatura chegava aos 40 graus. Arnahir estava no banco traseiro de um carro que faz transporte ilegal de passageiros. O afegão de 32 anos voltava para o seu país. "O Talibã vai adotar um governo islâmico. Vai ser muito bom", disse o jovem pouco antes de fazer o percurso de 45 minutos entre a periferia de Peshawar, no Paquistão, e a fronteira com o Afeganistão.

"Vai ser muito bom", disse o jovem pouco antes de cruzar a fronteira afegã  | Sérgio Utsch/SBT News

No sentido contrário, afegãos não são bem-vindos. A pandemia é o argumento do governo paquistanês para fechar a fronteira para cidadãos do Afeganistão, no momento em que milhares tentam deixar o país. Só atravessa quem já tinha autorização prévia ou quem tem documentos de algum outro governo. Neste caso, é permitido usar o Paquistão apenas como passagem.

No fluxo contrário, no entanto, há muitos fazendo a mesma escolha de Arnahir. "São milhares", conta um motorista que faz o transporte de passageiros até a fronteira. Pouco antes de atravessar, um senhor afegão de barba branca e trajes típicos, aparentando ter mais de 70 anos, aborda a reportagem do SBT News pra dizer que "com o Talibã não tem mais corrupção".

Só atravessa quem já tinha autorização prévia ou documentos de algum outro governo | Sérgio Utsch/SBT News

Hermaan Alii também está a ponto de atravessar a fronteira com a esposa e os três filhos pequenos depois de seis meses no Paquistão, onde ele veio fazer um tratamento para um problema cardíaco. Ele também se sente seguro para voltar e diz que "se a mulher não quiser usar a burca, ela nem precisa". Mas Aaiala não reclama da roupa que cobre todo o corpo e rosto, apesar do calor extremo desta época do ano. "Eles são muçulmanos. Eu também sou", explica, sem render muito assunto.  

Parte do sentimento dos afegãos que querem retornar ao Afeganistão é movido pelas condições que enfrentam no Paquistão. No mercado conhecido como "Pequena Cabul", em Pashwar, Hamid diz que se sente "90% paquistanês e 10% afegão". Aos 30 anos, ele vive há 22 no Paquistão, mas ainda na condição de refugiado, sem vários direitos que cidadãos paquistaneses têm.

mercado conhecido como "Pequena Cabul", em Pashwar | Sérgio Utsch/SBT News

Se a situação de um lado da fronteira não é boa, do outro, ele pensa que é pior. "Eles falam isso da boca pra fora", diz o comerciante, comentando as promessas de moderação do Talibã. Shrid, comerciante de verduras, acredita que "antes era diferente e agora o Talibã é bom", diz o homem de 38 anos, 25 deles vividos no Paquistão. "Eu quero voltar. Quero viver no meu país."

A pandemia é o argumento do governo paquistanês para fechar a fronteira para cidadãos do Afeganistão | Sérgio Utsch/SBT News
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