Visto humanitário vai facilitar a entrada de afegãos no Brasil
Família de brasileiro espera em Islamabade ajuda financeira para viagem a São Paulo
SBT News
Islamabade* -- A Embaixada do Brasil no Paquistão aguarda a publicação de uma portaria que vai possibilitar que refugiados afegãos recebam o visto humanitário. É um instrumento mais ágil e menos burocrático usado em casos excepcionais. Refugiados da Síria e do Haiti foram acolhidos no Brasil nesta condição.
Em conversa com o SBT News neste sábado (4.set), na embaixada brasileira em Islamabade, o embaixador Olyntho Vieira afirmou que "uma portaria interministerial deverá ser publicada nos próximos dias". O diplomata, que também representa o governo brasileiro no Afeganistão e no Tajisquistão, lembra que o visto humanitário simplifica os muitos passos necessários para um visto convencional. "O que não quer dizer que qualquer pessoa que queira ir para o Brasil vai receber o visto. Não é assim. Há uma checagem, uma entrevista com a área consular. As pessoas têm que justificar o interesse e a necessidade de ir para o Brasil", afirmou o embaixador.
Pelo menos 80 pessoas estão na lista que a Embaixada preparou com os nomes de familiares de cidadãos brasileiros que têm origem no Afeganistão. Este grupo deverá ser contemplado em uma próxima etapa. As remoções mais urgentes, segundo a embaixada, já foram feitas.
Um grupo de sete pessoas -- seis afegãos e um brasileiro de Guarulhos (SP) -- aguarda em Islamabade o momento de embarcar para São Paulo. Por lei, o governo brasileiro só pode pagar as despesas de seus cidadãos. Segundo o Itamaraty, organizações humanitárias deverão bancar a viagem do grupo ao Brasil. Um deles trabalhou para o governo deposto do Afeganistão e teme represálias do Talibã. O grupo saiu de Cabul e conseguiu atravessar a fronteira para o Paquistão depois de um acordo entre os governos do Brasil e do Paquistão.
Três brasileiros continuam no Afeganistão. São médicos que trabalham como voluntários para a organização internacional Médicos sem Fronteiras. Eles avisaram ao Itamaraty que, por enquanto, não pretendem deixar o país.
Mulheres vão às ruas
Neste sábado, o Talibã reprimiu com violência um protesto de mulheres pelas ruas de Cabul. Com uma coroa de flores nas mãos, elas gritavam palavras de ordem pra dizer que os fundamentalistas não tem legitimidade se não respeitarem os seus direitos.
Uma delas, Farhat Popalzai, disse à agência AP que queria ser a voz das mulheres que têm medo se expressar. "Eu vim para as ruas pra conversar com o Talibã e para ajudar aquelas que não podem ir para o trabalho ou para a escola. Eu quero ser a voz delas."
Foi o quarto protesto feminino nas ruas da capita afegã nas últimas semanas. Pelas redes sociais, o porta-voz do grupo, Zabihullah Mujahid, afirmou que "as mulheres do Afeganistão estão felizes" e que o protesto não tinha representatividade.
Celebração e mortes
Pelo menos 17 pessoas morreram e 41 ficaram feridas depois que militantes do Talibã promoveram uma salva de tiros na noite de 6ª feira (4.set) para comemorar a tomada do Vale do Panjshir. A informação foi divulgada pela ToloNews, emissora de notícias do Afeganistão, citando fontes dos hospitais de Cabul.
Apesar da comemoração, milícias e militares da ex-Força Nacional de Segurança que formam a Frente Nacional de Resistência anti-Talibã garantem que têm o controle da região do Panjshir, a única do país que ainda não foi dominada pelos fundamentalistas.
*O correspondente do SBT é o primeiro jornalista brasileiro a visitar a fronteira do Afeganistão após a retomada do poder pelo Talibã