Olimpíadas: velocista europeia deixa Japão e recebe asilo na Polônia
Krystsina Tsimanouskaya diz que foi levada à força para o aeroporto e usou tradutor para pedir ajuda
A velocista Krystsina Tsimanouskaya, de Belarus, revelou que decidiu não retornar ao seu país depois de receber um telefonema da avó quando estava a caminho do aeroporto. "Ela me disse que eu não deveria voltar, que não era seguro", afirmou nesta 5ª feira (5.ago), em Varsóvia, na Polônia, onde recebeu asilo.
Krystsina tinha criticado os técnicos que a escalaram em uma prova para a qual ela não havia treinado. O desentendimento no âmbito esportivo foi interpretado, segundo a atleta, como uma afronta ao regime. "O diretor técnico foi ao meu quarto com o treinador e me disseram que a decisão de me mandar de volta pra casa já tinha sido tomada, que não tinha sido deles, que eles apenas estavam executando", afirmou Tsimanouskaya à agência Reuters.
Ela foi desligada do time sob o pretexto de que estava emocionalmente instável, o que ela nega. A família temia que ela pudesse ser internada à força em uma instituição psiquiátrica. Depois do telefonema da avó, Tsimanouskaya decidiu usar um tradutor no celular pra escrever uma mensagem pedindo ajuda à polícia japonesa, no aeroporto internacional Haneda, em Tóquio. Ela decidiu pedir ajuda ao governo polonês, pra onde se mudaram muitos cidadãos de Belarus perseguidos pela ditadura do país.
Depois de duas noites na Embaixada da Polônia, a atleta de 24 anos recebeu asilo no país, onde chegou nesta 5ª. Outro atleta, o marido dela também era esperado em Varsóvia. Na primeira vez que falou com a imprensa, ela afirmou que nunca se envolveu em política e que não participou dos protestos contra o regime, mas pediu aos compatriotas pra que "não tenham medo e denunciem se estiverem sob pressão".
O último ditador da Europa
O Comitê Olímpico de Belarus era presidido pelo próprio ditador Alexander Lukashenko, que, neste ano, passou o bastão para o filho. No poder desde 1994, Lukashenko se reelegeu no ano passado, alegando que teve 80% dos votos válidos. A eleição recebeu muitas críticas na comunidade internacional por conta dos diversos indícios de fraude.
O resultado provocou uma onda de manifestações e uma reação violenta do regime. Não há dados confiáveis sobre o número de presos, mas segundo a organização Human Rights Watch, que monitora a situação no país, "milhares foram levados pra prisões e centenas foram torturados" pelas forças de segurança.
Lukashenko trata o esporte como um cartão de apresentação de seu governo. Especialistas que acompanham a situação do país dizem que há um elemento pessoal na decisão de punir a atleta, que ousou criticar publicamente as decisões do comitê olímpico, que é um dos muitos braços do regime.
O episódio aumentou o isolamento de Belarus, que tem a Rússia como principal aliada. O Comitê Olímpico Internacional (COI) abriu uma investigação e pode impor punições ao país em competições internacionais.